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Cultura

Vasco Martins dedica poema à Morna pela elevação a Património da Humanidade

Foi com “satisfação” que o músico Vasco Martins, um dos percursores da candidatura da Morna a património nacional e mundial, soube que a Morna está inscrita na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
“Uma magnífica etapa para expandir para outras boas etapas- viva, celebrativa e criativa”, diz o músico e compositor de São Vicente.
Já por ocasião do dia 3 de dezembro, Dia nacional da Morna, Vasco Martins havia publicado nas redes sociais o poema “Morna: diamante de 105.7 quilates” que o mesmo reafirma agora por ocasião da distinção mundial da Morna ao ser eleita Património da Humanidade. Um poema que o mesmo acredita “dizer de forma mais abrangente do que palavras de contentamento”, o que sente sobre a Morna.
Confira o poema em baixo:
Morna: diamante de 105.7 quilates
Como um diamante raro
Criado no fogo das entranhas da Terra
A morna emerge polida pelo mar e pelo vento
Quinhentos anos de ADN sincopado
Emerge das ilhas um diamante de 105.7 quilates
Único
Único
Como um milagre que só os homens sabem fazer
Emerge um diamante lapidado pelos grandes ourives
Sim esses compositores de alma infinita
Sim esses intérpretes de alma infinita
Mas antes da anunciação o arquipélago estava adormecido
Milhões de anos de erosão silenciosa
Até que os intrépidos navegadores
Encontraram a rota do noroeste
Assim nasceu uma civilização atlântica
Com o estranho nome de Cabo Verde
Rota dos escravos africanos
Dos exilados europeus
Dos exploradores sem rumo
Temível cenário que se dilatou na quântica da Terra
E o diamante cresceu assim polido pelas viagens
Pelo violão de Andaluzia
Pelas modinhas
Pelo tango
Pelo lundum
Pelo fado
Pelo canto pentatónico de África
Pelas ladainhas e rezas
Pela alquimia poderosa quando os povos se cruzam
Canto das ilhas que escaparam à imersão da Atlântida
À perda do continente Mu
Que na Pangeia estiveram no Polo Sul
Agora estão no Médio Atlântico encostadas ao grande deserto
Ilhas que resistiram às secas e múltiplas fomes
Sobrevieram ao jugo colonial e a ditaduras arcaicas
Sobreviveram sobreviveram sobrevivem sobrevivem
Tornaram‐se mais um país ilhéu do Atlântico
A origem não interessa
Pois ela é o tempo translinear
A origem é o diamante de 105.7 quilates
Superior ao Koh‐i‐Noor
Que só tem 105.6 quilates
A realeza da morna está no coração
De um povo inteiro
Encantando outros povos
No enlace fascinante da música que une e expande
Morna
Morna
Lamenti
Lamenti
Melancolia existencial
Generosidade existencial
Celebração da vida
Celebração do amor
Filigrana da saudade insular
Cingindo o coração da humanidade
Foto: Mindel Insite

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