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Sociedade

Novo comandante da PN aposta na prevenção e promete liderança participativa em cenário de crise interna

Jorge Humberto Andrade tomou posse esta semana como novo Director Nacional da Polícia Nacional (PN), sucedendo a Emanuel Estaline Moreno, que antecipou a saída para a pré-reforma a cinco meses de atingir a idade legal de aposentação. A cerimónia decorreu num contexto sensível para a corporação, marcado por críticas internas e externas, alegações de má gestão e uma crescente percepção de insegurança no país.

A nomeação de Jorge Humberto Andrade foi oficializada através da Resolução nº 17/2025 do Conselho de Ministros, publicada no Boletim Oficial n.º 72, II Série, de 17 de Abril. Simultaneamente, Andrade foi promovido ao posto de superintendente-geral, conforme previsto na Resolução nº 14/2025. Na prática todos estes actos serviram para confirmar a notícia em primeira mão do A NAÇÃO, no passado dia xxx, de que o comando da PN iria mudar de mãos com a saída, antes da hora, de Emanuel Estaline Moreno. 

No seu discurso de posse, na terça-feira, o novo director traçou como eixos prioritários a prevenção criminal, a modernização tecnológica, a valorização dos efectivos e o reforço do diálogo com os sindicatos e instituições académicas. Comprometeu-se com uma liderança “aglutinadora e participativa”, assente na construção de consensos e na defesa da imagem institucional da PN. “Procurarei incessantemente as melhores condições para o desempenho pleno dos nossos efectivos”, afirmou.

Entre as propostas destacadas, estão a revisão da legislação aplicável, a valorização dos aposentados da corporação e a realização de estudos que contribuam para a eficácia da acção policial.

Estaline Moreno sai sob críticas e clima de tensão

A saída de Estaline Moreno, após nove anos à frente da PN, apanhou muitos de surpresa e foi alvo de especulações. Fontes internas indicam que o pedido de pré-reforma poderá estar ligado a tensões com o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, especialmente no contexto da recente vaga de criminalidade em São Vicente e da alegada incapacidade da corporação em dar resposta adequada.

A pressão externa aumentou com as críticas públicas ao desempenho da PN, especialmente nas ilhas de São Vicente e Sal. Internamente, agentes denunciam um clima de gestão autoritária, abusos nas escalas de serviço, interrupção de folgas, desrespeito pelos horários de descanso e falta de apoio logístico. Fontes sindicais falam em violações do Código Laboral e de convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com impacto directo no bem-estar físico e psicológico dos efectivos.

Governo define segurança como “desígnio nacional”

Na cerimónia, o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva classificou a segurança pública como um “desígnio nacional”, reiterando o compromisso do Governo em reforçar os meios e efectivos da PN. Anunciou o alargamento da videovigilância a mais localidades, o aumento progressivo do contingente policial até 2026 e uma comunicação institucional “mais assertiva”.

UCS defendeu uma abordagem integrada, baseada não apenas em medidas repressivas, mas também em políticas sociais e acções preventivas. Elogiou a liderança cessante e manifestou confiança no novo director para enfrentar os desafios da corporação.

Desafios da nova direção  

Jorge Andrade assume funções num momento em que a Polícia Nacional enfrenta uma profunda crise interna. Segundo fontes ouvidas por este jornal, incluindo agentes, sindicalistas e especialistas, a instituição vive um ambiente marcado por desmotivação generalizada, perseguições a representantes sindicais, má gestão dos recursos humanos e suspeitas de favorecimento em nomeações e concursos internos.

Um dos desafios mais urgentes é a perda de interesse dos jovens pela carreira policial. Em concursos recentes, embora com milhares de inscritos, apenas cerca de 120 foram seleccionados. A imagem negativa da instituição, associada a relatos de abusos e falta de valorização profissional, afasta potenciais candidatos. “Muitos jovens desistem antes mesmo de se candidatarem”, relatou um agente.

Internamente, diversas fontes descrevem uma cultura organizacional excessivamente hierárquica e punitiva, com falta de empatia e ausência de canais efectivos de escuta. “A liderança baseia-se no medo, não na motivação”, resumiu um especialista.

Gestão de recursos humanos e logística 

As denúncias estendem-se às condições de trabalho. Sindicatos alertam para a sobrecarga horária, falta de descanso entre turnos, dificuldades no acesso a licenças médicas e restrições a dispensas, mesmo em situações de necessidade comprovada. Um caso citado envolve um agente que, após acidente em serviço, teve de suportar despesas superiores a 400 mil escudos por falta de apoio institucional, situação que o levou a abandonar a profissão.

No plano logístico, há relatos de viaturas policiais a operar “sem inspecção técnica obrigatória”, o que, no entender das nossas fontes, põe em xeque a legalidade e credibilidade da própria instituição.

“Favorecimento e corrupção” 

No rol das críticas constam a atribuição de cargos e missões internacionais atribuídas, segundo as nossas fontes, sem processos transparentes, favorecendo elementos com ligações a altos quadros da PN ou ao poder político. “A ausência de concursos para promoções internas entre subchefes, há vários anos, tem gerado frustração e sentimento de injustiça”, frisou uma fonte.

Um caso citado por sindicalistas refere-se a um representante da Cova Figueira, Santa Catarina do Fogo, alvo de um processo disciplinar sem notificação prévia do sindicato, uma situação posteriormente anulada por irregularidades legais.

Geremias S. Furtado 

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