O artista MC Prego Prego foi detido na segunda-feira no Aeroporto Internacional da Praia, após invadir uma área restrita da infraestrutura aeroportuária. O incidente ocorreu no meio da confusão causada pela chegada do influenciador digital Tininho Cruz, que prometera oferecer um iPhone 16 Pro Max ao primeiro fã que o encontrasse no local. A promessa de oferta gerou um caos no aeroporto da capital.
A promessa do influenciador digital levou dezenas de seguidores a deslocarem-se até ao aeroporto, muitos vindos do interior da ilha de Santiago. Com telemóveis em punho, procuravam captar o momento e garantir o prémio, criando um ambiente caótico e desorganizado.
No auge da agitação, MC Prego Prego forçou a entrada numa zona de acesso restrito, violando normas de segurança impostas pelas autoridades aeroportuárias. O momento foi registado em vídeo e rapidamente partilhado nas redes sociais, gerando críticas à conduta do artista, que deveria servir de exemplo para os seus seguidores.
Infração grave
A invasão de áreas restritas em aeroportos constitui uma infração grave, com implicações legais e operacionais. Apesar de algumas tentativas de justificar a atitude como uma “brincadeira”, especialistas alertam para o risco que este tipo de comportamento representa, sobretudo quando protagonizado por figuras públicas com forte influência junto da juventude.
Nas redes sociais, a detenção do artista dividiu opiniões. O internauta Manu foi um dos que condenou a atitude do MC, afirmando que “um artista com cachê mais caro que o telemóvel foi se submeter a essa humilhação. Humildade não é humilhação, mas parece que o MC está a humilhar a própria cabeça.”
Este questionou ainda o tipo de música que o artista vai lançar depois de tudo, afirmando que “a pobreza está na mente, e não no bolso e essa a gente pode superar”.
Já Mariza Sanches, embora reconheça que o artista errou ao invadir área restrita, criticou a atuação da agente policial envolvida na contenção: “Concordo que o MC Prego ultrapassou limites e merecia ser detido. Mas aquela senhora agente…foi formada online? Repararam como ela agiu? Nunca se deve ficar exposto ao ponto de o detido poder tomar sua arma”.
O cantor Cesar Sanches também se manifestou, levantando reflexões mais profundas sobre o papel do poder, da justiça e das figuras públicas. “A que tipo de profissional se dá o direito de deter um cidadão desse jeito, ainda mais quando o cidadão não estava a oferecer resistência? Cabo Verde é uma terra rica para quem tem olhos para ver, mas pobre de mente para alguns”, realçou.
Sanches destacou que o salário dos agentes é pago com dinheiro do povo e apelou à união entre artistas para denunciar abusos de poder. “É hora de união. Cabo Verde corre ao encontro do abismo. Nenhum artista apoia o seu companheiro. Só se criticam. Precisamos levantar a voz contra os abusos que sentimos nesta terra”, disse.
Em tom de crítica direta, outro internauta Codê Di Nanda foi mais dura com o comportamento de MC Prego Prego. “Um artista que já andou pelo mundo inteiro e faz aquele papel? Triste. A cada show que faz, não consegue juntar dinheiro para um iPhone?”, questionou.
A A Nação tentou, sem sucesso, obter esclarecimentos junto da assessoria de imprensa da corporação, cujas chamadas foram recusadas logo na primeira tentativa. Até ao momento, a Polícia Nacional ainda não se pronunciou oficialmente sobre a ocorrência. A A Nação tentou, sem sucesso, obter esclarecimentos junto da assessoria de imprensa da corporação, cujas chamadas foram recusadas à primeira tentativa.
Limites do bom senso
Entretanto, o episódio volta a colocar sob escrutínio a conduta de Tininho Cruz, conhecido por lançar desafios virais que muitas vezes ultrapassam os limites do bom senso. Além da promessa do iPhone, o influenciador já esteve no centro de outras controvérsias, como o desafio do “beijo por dinheiro” e a aposta polémica de 10 mil euros num jogo do Benfica, que dividiu opiniões na esfera pública.
Actualmente em digressão pelas ilhas de Santiago, São Vicente, Sal e Boa Vista, Tininho Cruz tem como objectivo aproximar-se dos seus seguidores e “levar o virtual ao real”. Contudo, o impacto das suas ações levanta dúvidas sobre a responsabilidade social dos criadores de conteúdo digital e os limites da influência exercida sobre os seus públicos.
Instada a comentar sobre a responsabilidade social dos criadores de conteúdo digital e os limites da influência exercida sobre os seus públicos, a jornalista e antiga professora de Formação Pessoal e Social, Marilene Pereira, afirmou que atualmente, os criadores de conteúdos digitais, os tais influencers, andam a ultrapassar os limites do puro “fait divers” aos quais, no começo da sua existência, se limitavam.
“Hoje, praticamente todos, se arvoram em agentes de informação, em psicólogos, em especialistas disso e mais alguma coisa. Esta realidade é um perigo, sobretudo quando o público que consome os conteúdos produzidos, uma grande maioria puro lixo, não tem uma base informativa ou cultural para se defender. Como nem eles nem o público vai mudar nos próximos tempos, é preciso criar legislação, para que eles saibam as balizas dentro das quais podem se movimentar, e supervisão, para autuar contra quem pisar neles”, arrematou.
Geremias Furtado / Adelise Furtado (Estagiária)
