PUB

São Vicente

São Vicente: Mindelenses clamam por segurança pública

A insegurança em São Vicente atingiu nas últimas semanas níveis preocupantes, com assaltos, furtos e até ataques a turistas. Os mindelenses mostram-se cansados e agastados, chegando a tentar fazer justiça com as próprias mãos diante da alegada inacção das autoridades. Para este sábado está programado um cordão humano como forma de protesto na emblemática Avenida Marginal, cidade do Mindelo.

A insegurança que assola São Vicente nas últimas semanas tem gerado reacções de revolta e agastamento entre os moradores da segunda ilha mais importante do país.

Madleny Santos, 37 anos, residente em Madeiralzinho, diz que o medo que tomou conta da sua comunidade.

“Já chegamos a um limite. Chegou o momento de o nosso governo tomar medidas para nos devolver a nossa segurança. Tenho medo de sair à rua. Na minha zona, onde sempre existiu paz e tranquilidade, uma das mais seguras da cidade do Mindelo, hoje há registo de assaltos quase todos os dias”, afirma.

“É necessário que acabem com as ‘bocas de fumo’ para iniciar-se o combate real ao crime. Há que se rever tudo aquilo que está na lei para incentivar as autoridades policiais a fazerem o seu trabalho sem problemas”, sugere a nossa entrevistada.

Indignação dos Mindelenses

A indignação dos mindelenses também é evidente nas palavras de Manuel Conceição, 57 anos, residente em Bela Vista.

“As pessoas estão cansadas da falta de segurança e justiça neste país. O culpado de tudo isso é o governo, que nada faz para melhorar a situação. A justiça mantém pessoas inocentes presas e coloca criminosos em liberdade”.

Manuel também alerta para o risco de a população recorrer à justiça pelas próprias mãos, caso as autoridades não tomem medidas concretas, como quase aconteceu na semana passada.

“Eu já tinha dito há algum tempo que o governo está à espera que haja sangue nas ruas, com pessoas fazendo justiça com as próprias mãos. Era isso que eu temia, e agora parece que estamos muito perto disso. Mas sei que o governo vai continuar a ignorar este assunto, como se estivesse à sombra da bananeira”, desabafou.

Manifestação na próxima semana

Cristina Santos, 55 anos, é outra cidadã e munícipe que se diz preocupada com a actual onda de crimes que vai assolando São Vicente nos últimos meses.

“São Vicente sempre foi tida como uma ilha segura, mas, ultimamente, temos assistido a um aumento preocupante da criminalidade, não apenas no centro da cidade, mas também nas zonas periféricas. É chocante ouvir relatos de turistas sendo assaltados com uma agressividade que deixa a população em estado de alerta”, disse.

Cristina elogia a iniciativa de um grupo de cidadãos que conta organizar, no próximo semana, uma manifestação em forma de corrente humana, destacando a importância da mobilização popular.

“A iniciativa de organizar uma corrente humana é de louvar. Só assim, quem de direito será pressionado a tomar medidas urgentes para conter esta onda de criminalidade e rever as leis de forma a garantir que funcionem de verdade”.

A par disso, Cristina Santos também critica a falta de eficácia no sistema judicial, que, como refere, muitas vezes, anula os esforços das forças policiais. “Não basta a polícia fazer o seu trabalho para depois o Ministério Público colocar os criminosos de volta às ruas, permitindo que cometam os mesmos crimes novamente. Precisamos de mudanças reais e imediatas”, aponta.

“Não nos sentimos seguros nem mesmo em nossas próprias casas”, desabafa, por seu turno, uma residente da zona de Fonte Francês. A sensação de vulnerabilidade é compartilhada por comerciantes, que relatam assaltos frequentes a estabelecimentos, mesmo em áreas centrais da cidade.

Nas redes sociais, os internautas têm-se mobilizado para denunciar casos de violência e cobrar acções mais efectivas das autoridades. “Não podemos continuar reféns do medo. Precisamos de uma resposta imediata”, escreveu um usuário em uma postagem amplamente compartilhada.

Acção policial e desafios

Criticada pela “voz popular”, a Polícia Nacional (PN) intensificou nos últimos dias várias operações para combater a criminalidade. No último fim de semana, segundo um relatório da corporação, 25 indivíduos foram detidos por crimes que vão desde roubo e posse de drogas a condução ilegal e sob efeito de álcool. Durante essas operações, foram apreendidas armas de fogo, munições, armas brancas e estupefacientes, além de veículos e outros objectos de origem ilícita.

Apesar dos esforços, a PN enfrenta críticas pela demora em responder a denúncias, alegando falta de recursos. “Estamos no terreno, mas precisamos da colaboração da população e de mais apoio logístico para garantir a segurança de todos”, afirmou o comandante Madelino da Luz numa entrevista recente publicada por este jornal.

No entanto, a lentidão do sistema judicial tem sido apontada como um dos entraves para a resolução de certos crimes. Moradores relatam frustração com a burocracia e a sensação de impunidade que ela gera.

“Mesmo quando identificamos os suspeitos, a falta de mandados e a demora nos processos judiciais dificultam a ação policial”, explica um agente sob anonimato. Essa inércia alimenta a percepção de que o crime compensa, um sentimento que só agrava a tensão na comunidade.

“Penk” e a justiça pelas próprias mãos

Um dos nomes que tem circulado entre os moradores de Chã de Alecrim é o de “Penk”, 37 anos, detido pela Polícia Nacional por suspeitas de crimes de furto e roubo em residências. A sua captura ocorreu após diversas denúncias e um mandado de busca domiciliária, onde foram encontrados objectos roubados e uma pequena quantidade de canabis.

A indignação da população foi tão grande que, antes da sua detenção, houve tentativas de o linchar. Moradores, cansados da impunidade, chegaram a perseguir o suspeito e confrontá-lo directamente, expondo o risco de uma escalada de violência entre cidadãos e criminosos.

João A. do Rosário

Confira a matéria na íntegra no Jornal A Nação, de 03 de Abril de 2025

PUB

Adicionar um comentário

Faça o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PUB

PUB

To Top