Depois de Coimbra e Mindelo, a exposição Arquitectura Prometida chega à Praia na próxima semana. Inserida numa investigação de doutoramento do arquitecto cabo-verdiano Hugo Lopes, o projecto procura investigar, pesquisar, documentar e interpretar o trabalho do decano dos arquitectos cabo-verdianos, Pedro Gregório, no seu contexto social e político.

Pedro Gregório
Como explica o jovem arquitecto mindelense Hugo Lopes, de 26 anos, o projecto “parte de uma análise transversal do trabalho de Pedro Gregório, o valor que ele atribui à arquitectura nos trópicos e o papel que a sua obra ocupa no período colonial tardio e pós-independência, para se discutir os contextos políticos e culturais que sustentam a produção arquitectónica, em Cabo Verde, nesse período que vai de 1959 a 1981”.
A sua investigação gira em torno da obra do primeiro cabo-verdiano licenciado em arquitectura. Nascido em 1932, em São Nicolau, Pedro Gregório Lopes matriculou-se nas Belas-Artes, em Lisboa. A ideia inicial, depois de formado, era ir para Angola. Mas, em 1959, é o próprio Governador Silvino Silvério Marques que o convence a ficar e a ingressar nas obras públicas, ficando até 1981.
“O objectivo da investigação é contribuir para a historiografia da arquitectura moderna em Cabo Verde e em África, através da análise e divulgação da obra deste actor local, que na minha opinião ocupa um papel preponderante no desenvolvimento de várias zonas do arquipélago, como a Praia e o Mindelo”, adianta Hugo Lopes.
Enquanto quadro da Repartição Provincial dos Serviços das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Pedro Gregório apresenta o seu projecto da antiga Adega do Leão, existente ainda no Platô. Na sua pesquisa, Hugo Lopes encontrou ainda outros projectos do arquitecto, desde escolas primárias, cisternas, pequenos equipamentos, fontes. Mas também projectos, entretanto demolidos ou que nunca saíram do papel, como a Pousada da Prainha, de 1959, e a Pousada Praia-Mar, de 1968, que se encontram nos arquivos. Para o seu trabalho de investigação, Hugo Lopes contou com o apoio do próprio Pedro Gregório e da sua família, no estudo do seu acervo.
“Mas o que me surpreendeu foi essa viagem pelos arquivos das obras públicas, em que fiquei assoberbado com tanta informação, desde as brigadas hidráulicas, brigadas de estradas, relatórios, orçamentos, correspondência, que permite estabelecer uma orgânica das obras públicas, da década de 1950 até aos dias de hoje.
O traço histórico de Pedro Gregório
As marcas do arquitecto Pedro Gregório foram deixadas na Câmara Municipal da Praia, onde fica pelos anos sessenta, intercalando com a docência no Liceu da Praia e o seu atelier Trópico, que abre em finais dessa década.
Hugo Lopes destaca o ‘monumental’ (para a época) edifício SERBAM (Sérgio Barbosa Mendes), hoje mais conhecido por Galerias, projectado por Pedro Gregório, assim como o ante-projecto do Seminário de São José. “E um dos mais importantes é o Complexo Ténis, no Platô, que vai até ao pós-independência, construído em várias fases e que só por si daria uma tese”, afiança Hugo Lopes.
Patrocinado pela cátedra da Unesco da Universidade de Coimbra, a exposição arrancou em Coimbra, antes do Mindelo, com mesas redondas para debate das questões levantadas. “A ideia desta itinerância é discutir, criticar as obras públicas, o arquivo e a investigação.”
A inauguração na Praia está prevista para 1 de Abril, na sede do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), e conta com a participação do historiador António Correia e Silva. Para o encerramento está igualmente prevista uma sessão com as presenças do Bastonário da Ordem dos Arquitectos, do Director do Arquivo Nacional e do Instituto para a Promoção Cultural, moderada pelo próprio arquitecto Hugo Lopes.
Hugo Lopes
Nascido em São Vicente, em 1998, Hugo Lopes, licenciou-se em arquitectura em Inglaterra. Trabalhou no G_ APO (Gabinete de Arquitetura e Planeamento de Obra) extensão do M_EIA, instituição com a qual colabora e faz parte desde então, em Mindelo. Em 2022, co-fundou o RAM, estúdio de arquitetura baseado nesta cidade. Em 2024 iniciou o seu doutoramento na Universidade de Coimbra. A investigação sobre a obra do arquitecto Pedro Gregório (1959-81) é realizada no âmbito do Doutoramento em Patrimónios de Influência Portuguesa do III-UC e financiada pela FCT (linha de investigação para PALOP).
Joaquim Arena
