Manuel Brito-Semedo é candidato a deputado pelo partido Livre, nas eleições legislativas antecipadas, em Portugal, agendadas para 18 de Maio. Este académico defensor da cabo-verdianidade e que é hoje considerado próximo do MpD, garantiu, ao A NAÇÃO, que sempre foi de esquerda.
Conhecido académico cabo-verdiano, autor de vários livros sobre a cabo-verdianidade e temas afins, Manuel Brito-Semedo (MBS) é candidato, em Cabo Verde, pelo Livre, partido da esquerda portuguesa.
A ligação entre MBS e o Livre, como o próprio explicou ao A NAÇÃO, é recente e surgiu de um contacto entre ele e Rui Tavares, um dos fundadores e líder desse partido, presente no Parlamento português com um assento; e, dessa conversa, “ele disse-me que eu seria um bom candidato” pelo Livre.
“Pelas nossas conversas o Rui Tavares achou que eu reunia as condições para me candidatar como deputado e, na sequência, inscrevi-me no Livre, como militante. Agora com a antecipação das eleições legislativas, aceitei o convite para ser candidato do partido para o círculo fora da Europa”, esclareceu.
Confrontado com o facto de ser conotado actualmente como “simpatizante” ou “próximo” do MpD, um partido de direita e estar a concorrer para deputado de um partido da esquerda em Portugal, MBS esclarece que sempre foi de esquerda e que a sua ligação com o partido no poder em Cabo Verde foi mais numa perspectiva de ajudar a romper com as “más” políticas do PAICV em determinados sectores.
“Tenho toda uma formação de pastor (nazareno) que é voltada para o social. Por isso considero que sempre fui de esquerda”, realça Brito Semedo, esclarecendo que a sua disponibilidade junto do MpD “era para contribuir” para a mudança que acabou por acontecer em 2016. “Na minha perspectiva, o PAICV estava esgotado, sobretudo nas áreas em que achava que tinha possibilidade de colaborar, nomeadamente, na educação. Essa foi a minha ideia, mas procurando sempre ser independente”.
Autor de entre outros, “Cabo Verde, Ilhas crioulas”, livro publicado no ano passado e que causou uma viva celeuma, a partir das declarações que foi fazendo na imprensa, de que Cabo Verde nada tem a ver com África, e nunca existiu em Cabo Verde um “destino africano”, A NAÇÃO quis saber como será, doravante, a posição de MBS, enquanto cidadão português, em relação a questões que se prendem com a cultura cabo-verdiana, tendo em conta a possibilidade de ser eleito como deputado de um país europeu, Portugal, mas o nosso interlocutor desdramatizou a situação.
“A defesa da cabo-verdianidade é uma forma, também, de apoiar esse propósito, porquanto, da mesma forma que defendo o crioulo defendo o português”. Enquanto cidadão luso-cabo-verdiano, já que possui a nacionalidade portuguesa, MBS assegura que irá manter as suas convicções e que essa “nova oportunidade pode ser uma forma de ajudar Cabo Verde”.
Motivações
Manuel Brito-Semedo diz acreditar que a diáspora é essencial para o fortalecimento das relações entre os países de língua portuguesa e para a projeção da identidade cultural e económica das “nossas” nações. “Defenderei políticas públicas que garantam o reconhecimento e a representatividade dos emigrantes, promovendo a sua participação activa na sociedade e reforçando os laços entre Portugal, os PALOP e as suas comunidades no estrangeiro”, realçou.
“A minha candidatura nasce deste compromisso: trabalhar por uma diáspora mais reconhecida, integrada e influente. Com experiência e dedicação, coloco-me ao serviço de um projecto político que valorize a presença lusófona no mundo e fortaleça as suas ligações históricas, culturais e económicas”, enfatizou.
“Bandeiras”
De igual modo, para MBS, a diáspora portuguesa desempenha um papel essencial na projeção de Portugal no mundo, contribuindo para o seu desenvolvimento económico, cultural e social. “No entanto, essa presença global carece de uma representação política mais forte e eficaz, que responda às necessidades das comunidades portuguesas no estrangeiro”, algo que diz estar em condições de defender.
“É fundamental reforçar o acesso a serviços consulares eficientes, garantir o reconhecimento de qualificações profissionais, fortalecer as redes de apoio social e económico e promover uma maior ligação das novas gerações à cultura e identidade portuguesas”, enfatizou MBS, considerando que nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), “estas questões assumem uma relevância estratégica, exigindo políticas adaptadas à realidade local”.
“A minha candidatura assenta no compromisso de construir pontes mais sólidas entre Portugal e a sua diáspora, assegurando direitos, fomentando oportunidades e valorizando o contributo das comunidades portuguesas para o futuro do país”, afirmou.
E, por fim, rematou: “Mais do que representar, quero ser um agente activo na implementação de soluções que reforcem a presença portuguesa no mundo e consolidem a diáspora como um verdadeiro parceiro estratégico de Portugal”.
Daniel Almeida
