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“Meu nome é Mahmoud Khalil e sou um preso político”

Detido por oficiais do Department of Homeland Security (DHS, o Serviço de Estrangeiros dos EUA), em 08 de março último, na sua residência universitária, o estudante palestiniano Mahmoud Khalil, de 23 anos, aluno da Universidade de Columbia que frequenta a Escola de Assuntos Internacionais e Públicos, encontra-se na prisão de Louisiana e considera-se um “preso político”.

Khalil, que tem residência legal nos EUA e é casado com uma cidadã norte-americana que se encontra grávida, desempenhou um importante papel nas manifestações a favor da causa palestiniana, que tiveram lugar no passado ano, e foi um dos negociadores com a administração da Universidade de Columbia, em representação dos manifestantes pró-Palestina, deu a conhecer na última terça-feira, 18, uma carta, ditada por telefone desde a prisão, sobre a sua situação.

“Escrevo-vos do meu cárcere em Louisiana onde acordo a cada dia em manhãs frias e passo longas jornadas testemunhando as mais diversas injustiças silenciosas em curso contra muitas pessoas impedidas de estar sob a protecção da lei”, começa por referir na sua missiva, interrogando: “Quem tem o direito de ter direitos? Certamente não os seres humanos amontoados nestas celas por aqui. Não é o senegalês que conheci, privado de sua liberdade por um ano, numa situação de limbo legal e com a sua família a um oceano de distância. Não é o detento de 21 anos que conheci, que pisou neste país aos nove anos, apenas para ser deportado sem sequer uma audiência legal”.

Detido sem mandado legal

Sublinhando que “a justiça escapa aos limites das instalações de imigração desta nação”, Kalil faz um relato das circunstâncias da sua detenção: “Em 8 de março, fui levado por oficiais do Department of Homeland Security, que se recusaram a fornecer um mandado legal e abordaram minha esposa e eu intempestivamente quando voltávamos do jantar”.

Khalil refere que “as filmagens daquela noite já foram tornadas públicas” e avança pormenores da detenção, que considera ilegal: “Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, os oficiais me algemaram e me forçaram a entrar em um carro sem identificação. Naquele momento, minha única preocupação era com a segurança de Noor, minha esposa”, porquanto “não tinha ideia se ela seria levada também, já que os oficiais ameaçaram prendê-la por se recusar a sair do meu lado”

Ainda segundo, Mahmoud Khalil, o DHS não lhe disse nada “por horas”, desconhecendo a causa da sua prisão ou se “estava sendo confrontado com deportação imediata”, salienta o ativista.

“Minha prisão foi uma consequência directa do exercício do meu direito à liberdade de expressão, pois defendo uma Palestina livre e o fim do genocídio em Gaza, que recomeçou com força total na última segunda-feira à noite. Com o cessar-fogo de janeiro agora quebrado, os pais em Gaza estão, mais uma vez, embalando mortalhas muito pequenas, e as famílias são forçadas a sopesar a fome e o deslocamento face às bombas que caem. É o imperativo moral de nossa época persistir na luta pela sua liberdade irrestrita”, sublinha Khalil.

“Detenção injusta é indicativa do racismo anti-palestiniano”

Nascido num campo de refugiados palestinianos na Síria, refere que a sua família “foi arrancada de suas terras desde a Nakba [catástrofe ou desastre] de 1948”, e encontra na sua situação “semelhanças com o uso de detenção administrativa por Israel, prisão sem julgamento ou acusação, para privar os palestinianos de seus direitos”.

“Sempre acreditei que meu dever não era apenas me libertar do opressor, mas também libertar meus opressores de seu ódio e medo. Minha detenção injusta é indicativa do racismo anti-palestiniano que tanto o governo Biden quanto o governo Trump demonstraram nos últimos 16 meses, enquanto os EUA continuaram a fornecer armas a Israel para matar palestinianos e impediram a intervenção internacional”, diz ainda Khalil.

Alegando que a sua detenção “é uma prova da força do movimento estudantil em mudar a opinião pública em direção à libertação palestiniana”, Mahmoud Khalil diz que “os estudantes há muito tempo nos EUA estão na vanguarda da transformação social”, nomeadamente, “dirigindo a campanha contra a Guerra do Vietname, na linha da frente do Movimento pelos Direitos Civis e impulsionando a luta contra o regime de Apartheid na África do Sul”, e que “hoje, também, mesmo que parte do público ainda não tenha compreendido completamente, são os estudantes que nos conduzem em direcção à verdade e à justiça mais uma vez”.

“Estratégia mais ampla para suprimir a dissidência”

Por último Khali refere que o governo Trump o tem “na mira, como parte de uma estratégia mais ampla para suprimir a dissidência” e que “portadores de visto, titulares de ‘green card’ e cidadãos em geral, serão todos alvos por suas opiniões políticas”.

Com um juiz de Nova York suspendendo a deportação de Mahmoud Khalil, fundamentando com o direito ao devido processo legal e que a deportação viola as suas garantias constitucionais, a sociedade civil norte-americana está-se mobilizando e, “nas próximas semanas” – refere ainda Khalil -, “estudantes, advogados e autoridades públicas devem-se unir para defender o direito de protestar pela Palestina”.

Concluindo saber “plenamente que “este momento transcende” suas “circunstâncias individuais”, Mahmoud Khalil espera, no entanto, ser libertado para testemunhar o nascimento do meu primeiro filho.

António Alte Pinho

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