Em contramão ao poder que alcançou integrando a administração Trump – e muito por causa disso –, Elon Musk estará a viver um dos piores momentos da sua vida empresarial. Em causa poderá estar, inclusive, a sua posição de homem mais rico do mundo, já que parte substantiva da sua fortuna pessoal decorre das acções da Tesla, a empresa que, até à chegada dos concorrentes da Volvo e da BYD, liderava o mercado mundial de carros eléctricos. Na Europa e nos EUA deixou de ser bem visto ter um automóvel da Tesla.
A ligação do dono da Tesla com Donald Trump e a extrema-direita, logo durante a campanha eleitoral do último ano, bem como a participação política no actual governo dos Estados Unidos da América (EUA), onde lidera o contestado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), acrescido do gesto semelhante à saudação nazi efetuado por Musk durante as cerimónias de tomada de posse de Trump, estão a abalar o seu principal activo (a Tesla), colocando-o em queda livre.
Vendas e acções em queda
Na Alemanha, China, França e Austrália, as vendas da Tesla estão a pique, com reflexos óbvios na cotação em bolsa. Na última sexta-feira, 07, as acções da empresa chegaram a 253 dólares, quando em Dezembro último estavam a 479, registando a sua maior queda de todos os tempos.
Na Austrália as vendas da marca, referentes a Fevereiro, caíram 70 por cento (%) se comparadas com o mesmo período do ano anterior. E, na Europa, a Tesla vendeu menos 45%. Na China, as vendas registaram uma queda de 49,2%, ao mesmo tempo que a sua mais directa concorrente (a BYD) registou um crescimento de 90%.
Já na Alemanha, as vendas desceram 76%, segundo foi divulgado na última quarta-feira, 05, e vários proprietários manifestaram o seu arrependimento por terem adquirido viaturas que, agora, consideram um símbolo das políticas de extrema-direita.
Actos de destruição
Paralelamente ao desastre financeiro, a Tesla está confrontada com uma onda, mais ou menos generalizada, de actos de destruição de carregadores de carros, concessionárias da marca e viaturas, promovidos por pessoas individuais ou colectivos de activistas, nos EUA e na Europa.
Um dos actos mais emblemáticos aconteceu precisamente nos EUA, onde um homem de 41 anos foi apanhado na posse de cocktails molotov nas imediações de uma concessionária da Tesla, na cidade de Salém, no Estado de Oregon.
Também em Nova Orleans, durante o desfile do carnaval, várias pessoas atiraram pedras, entulho e latas de cerveja e refrigerantes contra o modelo mais emblemático da Tesla, o Cybertruck. E em Loveland, no Colorado, uma mulher acendeu um cocktail molotov junto a um Tesla Cybertruck e escreveu “Nazi” sobre a placa de sinalização da concessionária. Mas, também, em Littleton, Massachusetts, uma estação de carregamento de viaturas pegou fogo.
A dimensão dos ataques nos EUA é de tal ordem que já se registaram apelos no Congresso (equivalente a parlamento) para que sejam tomadas medidas para obstar à destruição e ao cerco à marca de Elon Musk. A iniciativa tem sido protagonizada por proprietários de veículos, concessionários e estações de carregamento da Tesla. E há registo de proprietários a venderem as suas viaturas abaixo do preço, porque a marca, nos últimos tempos, se tornou perigosa para a sua integridade física.
As preocupações sobre o futuro da Tesla já chegaram aos accionistas, como é o caso de Ross Gerber, um investidor de primeira hora e crítico acérrimo de Elon Musk que, comentando a onda de contestação à marca, alegou que os actos de destruição podem criar um “efeito de intimidação” juntos dos clientes, que “podem não se querer associar com Elon e lidar com o vandalismo”. Gerber sustentou, ainda, que “tudo isso poderia ser facilmente resolvido, se alguém mais assumisse e comandasse a Tesla.”
Escalada contra a marca também na Europa
Na Europa também se verifica uma escalada de actos de destruição contra a marca de Musk. Mais recentemente, encheu os noticiários de França o incêndio na concessionária da Tesla em Toulouse, resultando na destruição de todas as viaturas. Mas, na memória colectiva está ainda uma acção do grupo ambientalista Volcano Group, ainda antes da tomada de posse da administração Trump, que assumiu o incêndio de um poste de electricidade junto à fábrica da Tesla nos arredores de Berlim, deixando-a sem energia, ao mesmo tempo que cerca de oito centenas de activistas tentaram invadir esta unidade fabril.
As posições extremistas de Elon Musk estão a ter um efeito extremamente negativo para a marca, o que poderá pôr em causa o futuro da Tesla.
Um “optimista tecnológico”
Nascido em 1971 em Pretória, na África do Sul, Elon Musk tem cidadania tripla, sul-africana, canadiana e norte-americana. Desde muito cedo manifestou interesse por tecnologias e, aos 10 anos de idade, aprendeu programação, tendo desenvolvido o seu primeiro jogo de computador (de nome Blastar) aos doze.
Musk licenciou-se em Economia e Física na Universidade da Pensilvânia e abandonou um doutoramento em Física Aplicada e Ciência dos Materiais, na Universidade de Stanford (Califórnia), para se dedicar ao empreendedorismo.
A sua carreira empresarial iniciou-se com a venda da Zip2 e a criação do PayPal, tendo expandido as suas actividades com a fundação da SpaceX e a liderança da Tesla (onde entrou em 2004), da qual é CEO desde 2008.
Autodefinindo-se como “optimista tecnológico”, acredita que os problemas globais podem ser resolvidos através da tecnologia e defende que o futuro da Humanidade passa pela colonização de Marte.
António Alte Pinho
