Um alegado surto de infecção neonatal está a deixar apreensivos os familiares de recém-nascidos internados na maternidade do Hospital Universitário Dr. Agostinho Neto (HUAN), na cidade da Praia. Segundo relatos de mães e familiares, vários bebés foram diagnosticados com infecções, e um número significativo de óbitos tem sido registado nos últimos dias. A direcção do HUAN relegou declarações para mais tarde.
“Segundo informações que estamos a receber das próprias mães, elas foram informadas de que a maioria dos recém-nascidos internados estão com infecção, e nós não estamos a achar normal. Queremos questionar a direção do hospital e saber que trabalho tem sido feito. Queremos que haja um cuidado redobrado”, afirmou uma familiar de uma das mães que tem o seu filho internado no HUAN.
Entre os casos relatados, está o de uma mãe que perdeu o seu filho nesta quarta- -feira, após um agravamento rápido do seu quadro clínico.
“No último dia 24 de Fevereiro, segunda-feira, fui ver o meu bebé de manhã e ele estava bem. No entanto, à tarde, por volta das 15h, encontrei os seus pés a ficarem roxos e ninguém parecia ter notado. Chamei um médico, que acionou uma enfermeira. Horas depois, fui informada de que o meu filho recebeu uma transfusão de sangue devido à anemia. No dia seguinte, uma médica cubana disse-me que ele tinha uma infecção, mas não soube explicar a causa”, relatou a mãe, que viu o quadro clínico do seu filho piorar progressivamente até ao seu falecimento.
Necessidade de expor
Um avô de um recém- -nascido falecido reforça as preocupações. “Na unidade de incubadoras do hospital, já faleceram oito bebés nos últimos dias, todos devido à mesma causa, que dizem ser uma infecção. De ontem para hoje, três crianças morreram. Quando cheguei ao hospital, informaram-me que o meu neto teve uma infecção no sangue após uma transfusão. Estas situações ficam escondidas, e nós sentimos a necessidade de expor isso.”
A NAÇÃO tentou ouvir a direcção do HUAN sobre a situação, mas a directora clínica, Hirondina Spencer, disse desconhecer os factos, sugerindo que poderiam ser informações falsas. No entanto, garantiu que irá pronunciar-se oportunamente, após inteirar-se do assunto.
O caso volta a levantar preocupações sobre as condições de atendimento neonatal no HUAN, sobretudo tendo em conta episódios anteriores que abalaram a confiança da população na instituição. Em Outubro do ano passado, o Ministério Público abriu uma investigação à morte de uma grávida e o desaparecimento do corpo de um bebé no mesmo hospital. Na altura, a administração do HUAN anunciou a abertura de um inquérito conduzido por uma equipa independente para apurar eventuais responsabilidades.
Enquanto se aguardam esclarecimentos oficiais, familiares de recém-nascidos internados continuam a manifestar preocupação e exigem respostas claras sobre o que está a acontecer na maternidade do HUAN.
Geremias S. Furtado
