Cabo Verde terá recebido 1,2 milhões de turistas em 2024, ultrapassando os cerca de 1 milhão registados em 2023. Contudo, a diversificação do mercado turístico emissor, muito centrado nos ingleses, continua a ser um desafio, assim como a descentralização do próprio destino dentro do país, a outras ilhas que não o Sal e a Boa Vista.
Como já tínhamos dado conta em edições anteriores, as perspectivas para o contínuo aumento do número de turistas no país em 2024, confirmam-se. Apesar de o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) ainda não ter divulgado os dados oficiais, Jair Fernandes, novo presidente do Instituto do Turismo, confirmou esta semana à Lusa que a procura pelo destino turístico cabo-verdiano aumentou o ano passado, comparativamente a 2023.
Os números avançados por esse responsável dão conta de uma estimativa que coloca em 1,2 milhões de turistas o número de visitantes de Cabo Verde em 2024. Em 2023, o país foi visitado por 1.010.739 milhões de turistas, com a ilha do Sal a absorver 57,1% das entradas, consolidando o seu posicionamento habitual enquanto destino de eleição da maioria dos turistas. Os ingleses, que procuram o sol e as praias de Cabo Verde, são aqueles que mais nos visitaram naquele ano.
Resta agora saber, porém, se houve efectivamente uma maior diversificação dos turistas nas outras ilhas, em 2024, sendo expectável, mesmo assim, que a ilha do Sal continue a ser a maior porta de entrada de turistas no país, mesmo que possa vir a perder terreno em termos de percentagem.
O certo é que a percepção que tem existido é que há cada vez mais europeus a visitar Cabo Verde, com os portugueses, por exemplo, a mostrarem uma grande apetência por o destino da morabeza, apenas com quatro horas de distância. Aliás, à mesma fonte, Jair Fernandes disse que a tendência é que os números devam continuar a crescer, a confirmar-se o aumento do mercado de turistas europeus.
EasyJet poderá voar para Santiago e São Vicente
A entrada na rota cabo-verdiana de ligação à Europa das “low costs” da EasyJet, a partir de Lisboa e Porto, com ligações à ilha do Sal, em Outubro passado, deve certamente ter contribuído para o aumento do número de turistas europeus nas estatísticas de 2024, tendo em conta que é uma companhia conhecida por praticar preços extremamente competitivos, que beneficiam mais o mercado turístico do que o mercado residente.
O desafio agora é trazer a EasyJet, por exemplo, para a ilha de Santiago, onde se consegue perceber desde finais do ano passado e início de 2025, um fluxo de turistas fora do normal, constituído por portugueses, franceses, alemães, etc. Muitos destes turistas têm optado por alojamentos locais privados disponíveis no airbnb ou no booking, mercado este que o próprio Governo de Cabo Verde tem vindo a regular e que tem crescido, por exemplo, na capital do país, e em Santiago, no geral.
“Temos de pé a possibilidade de ter a Easyjet nas ilhas de Santiago e São Vicente, demonstrando que esse pode ser o caminho imediato para a desconcentração do turismo, levando-o a todas as nove ilhas, em articulação com novas linhas domésticas”, avançou Jair Fernandes.
Voos inter-ilhas essenciais à descentralização
Contudo, de notar que os constrangimentos verificados no primeiro trimestre de 2024 nos voos aéreos inter-ilhas poderá não favorecer as estatísticas de acolhimento de turistas em ilhas como São Nicolau, Fogo e Brava. Aliás, os operadores turísticos e agências de viagens e turismo no país chegaram a lamentar publicamente que esses constrangimentos não abonavam à diversificação do turismo a outras ilhas.
Contudo, com a entrada da TACV nos voos domésticos desde meados de Março do ano passado e com o aumento da frota, o país deverá ter fechado 2024 com maior fluxo de turistas a circular na rota inter-ilhas, com todas as vantagens que isso terá trazido para os negócios que dependem directa e indirectamente do turismo. A ver vamos assim que saírem os dados oficiais do INE da movimentação de hóspedes no país em 2024.
Retoma pós-covid
Recorde-se que em 2023 os estabelecimentos hoteleiros do arquipélago acolheram 1.010.739 hóspedes, equivalentes a 5.150.806 dormidas, traduzindo em aumentos de 20,9% (foram 785.272 hóspedes em 2022) e 26,0% (foram 4.088.412 dormidas em 2022), respectivamente.
Se atentarmos a análise do INE, face ao ano de 2019 (período pré-pandemia da covid-19), pode-se concluir que se registou um crescimento de 23,4% no número de hóspedes, passando de 819.308 para 1.010.739 hóspedes, em 2023. Também comparativamente com o ano de 2019 (pré-pandemia da covid-19), o número de dormidas sofre um acréscimo, ainda que residual, de 0,7%, passando de 5.117.403 para 5.150.806, em 2023.
