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Santiago

Praia: Alunas suspensas após gravarem jogo com declarações “comprometedoras” no LDR

O vídeo em questão tem 3 minutos e 13 segundos, tem po durante o qual as jovens do 10º ano de escolaridade, com idades entre os 16 e os 18 anos, supostamente, desmascaram umas as outras revelando peripécias que cada uma terá hipoteticamente feito, começando sempre com a expressão “pelo menos eu nunca”. Nas declarações figuram actos, envolvimento com pai de uma amiga, prostituição, sedução de professor com os seios e envolvimento com professor devido a notas.

As alunas publicaram o vídeo nas suas redes sociais, originando críticas, questionamento e até mesmo comentários engraçados. As visadas chegaram a remover o mes mo, mas este já estava viral e reproduzido por algumas páginas no Facebook, Tik Tok e Instagram.

Direcção do LDR reage

Contactada pelo A NAÇÃO, a directora do LDR, Celina Mendes, disse que, ao tomar conhecimento do vídeo, o seu estabelecimento de ensino se guiu os trâmites legais.

“Convocamos os pais para averiguar se tinham conhecimento do conteúdo. Alguns já haviam visto, outros não. Após informá-los, tomamos as providências necessárias em conjunto com o conselho diretivo, sem agir isoladamente. Diante do impacto negativo na imagem da escola, encaminhamos o caso ao conselho disciplinar, responsável por definir as sanções adequadas dentro do estatuto do aluno e do regulamento interno”, revela.

Segundo conta, as alunas envolvidas receberam uma suspensão de quatro dias, contados a partir da notifica ção dos pais. “O conselho disciplinar decidiu essa duração para evitar coincidência com dias de testes. Após o término da suspensão, acompanharemos a frequência delas para avaliar possíveis repercussões académicas, como reprovação por faltas. Caso necessário, tomaremos novas medidas”, garante.

Segundo Celina Mendes, essas alunas já apresentavam “um histórico de faltas frequentes” antes do incidente, o que pesou na aplicação do castigo. “Poderíamos ter aplicado a pena máxima de oito dias, mas optamos por uma medida que permitisse o retorno à escola. Elas estão no 10º ano, são repetentes. Uma delas já havia passado pelo conselho disciplinar anteriormente”, acrescenta.

Trecho preocupante

“O vídeo preocupou-nos principalmente pelo trecho em que mencionam um professor, ainda que, ao serem questionadas, tenham alega do que inventaram o nome que a situação não ocorreu na nossa escola. Diante disso, verificamos cuidadosamente a gravação e interrogamos as alunas para garantir que nenhum professor da escola estivesse envolvido. Elas reafirmaram que se tratava de uma brincadeira e que não faziam referência a docentes daqui”, realçou a responsável escolar.

Celina Mendes afirma ainda que a preocupação da Direção do LDR foi imediata, uma vez que o vídeo foi gravado no espaço escolar, com alunas uniformizadas, o que “com promete a imagem da instituição e de toda a comunidade educativa”.

“Mesmo sem a citação de um professor específico, o simples fato de mencionarem “é professor” causa apreensão entre os docentes e afeta a integridade da escola. Caso tivessem identificado algum professor, a direção acionaria imediatamente a inspeção para tomar as medidas necessárias, pois qualquer insinuação desse tipo fere a ética e a legislação”.

A directora do LDR garante ainda que seguirão acompanhando o caso para garantir que medidas pedagógicas e disciplinares adequadas se jam aplicadas, “sempre priorizando a integridade da escola e o bem-estar da comunidade educativa”.

Necessidade de “existência social”

Instada a comentar este caso, a antiga professora da extinta disciplina Formação Pessoal e Social (FPS) no Liceu Domingos Ramos, Marilene Pereira, fala de uma necessidade de “existência social” dos jovens, um problema antigo que se manifesta hoje de forma intensa nas redes sociais.

Segundo diz, actualmente, muitos jovens, principalmente da “periferia”, encontram nas redes sociais um meio de obter reconhecimento, já que não possuem espaço nem mesmo na escola. Para eles, ganhar ‘likes’ equivale a “existir”, substituindo a lógica filosófica do “penso, logo existo” pelo “ganho ‘likes’, logo existo”.

A professora critica ainda o papel dos pais e educadores nesse contexto. “Muitos pais têm baixa escolaridade e também utilizam as redes sociais de maneira irresponsável. Os professores, por sua vez, muitas vezes não conseguem identificar alunos que enfrentam problemas, pois lidam com turmas superlotadas e uma carga disciplinar excessiva. A falta de proximidade impede que os alunos se sintam vistos e valorizados dentro do ambiente escolar”, comenta.

Continuando, Marilene Pereira ressalta que o problema não é recente, mas que a forma de manifestação sim. Segundo defende, antes as agressões eram físicas, hoje, ocorrem no ambiente digital. Segundo esta professora experiente, ca sos de exposição e humilhação ‘online’ tornaram-se comuns, reflectindo uma “doença global” que precisa de soluções locais.

Finalizando, como medidas, Marilene Pereira defende a presença de psicólogos nas escolas, a redução do número de alunos por turma e um olhar mais atento dos professores para identificar com portamentos desviantes. Sem essas mudanças, entende a nossa entrevistada, o sistema continuará a falhar em atender as necessidades emocionais e sociais dos estudantes.

Geremias S. Furtado

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