O presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Cabo-verdiana de Deficientes (ACD) procurou A Nação para denunciar supostas ilegalidades e práticas arbitrárias alegadamente cometidas pelo presidente da direção, Bernardino Gonçalves. Entre as acusações está a leitura enviesada do estatuto, gestão indevida da tesouraria, maus tratos a funcionários e demissões arbitrárias.
Em entrevista a este online, Diamantino Moreno diz que procura a comunicação social para fazer tais denúncias após ter tentado, sem resultados, solucionar os problemas internamente.
Para já, diz que o presidente vem interferindo na constituição da mesa da Assembleia Geral (AG), competência que não lhe é atribuída, o que o levou a indicar e empossar um “amigo” para o cargo de vice-presidente, à revelia da equipa e a margem do estatuto da ACD.
Isto aconteceu, conforme indicou, após a saída do antigo vice-presidente. No entanto, explica, conforme o estatuto, que deveria assumir o lugar é a secretária, uma vez que “um suplente não pode passar a eleito”.
Situações irregulares
“O mais grave de tudo é que ele enviou uma convocatória para este seu amigo (Helder Pio), que assinou e assumiu que é ele quem faz a assembleia. Após isso, o senhor Bernardino me enviou uma convocatória para o dia 21, sendo eu o presidente”, relatou.
O mais caricato, segundo diz, é que o próprio Bernardino contratou um jurista para o Cenorf (Centro NAcional Ortopédico e de Reeducação Funcional), e mesmo com ladeamento jurídico não cumpre o estatuto, o que o leva a pensar que o jurista está lá para servir interesses pessoais do presidente e não para defender a ACD.
Ainda sobre esta contratação, sublinha o facto de a direção ter aprovado um contrato de seis meses, que foi “alterado” de forma arbitrária pelo presidente, passando a ser de um ano.
Para Diamantino, o presidente não tem respeitado os restantes órgãos, a saber o Conselho Fiscal e mesa da AG, nem os restantes elementos da direção.
Uso de recursos para benefício próprio
Diamantino Moreno acusa ainda o presidente de estar a utilizar os recursos da associação para benefícios próprios.
“O senhor Bernardino está a tomar para ele todo o poder da direção, controlando, inclusive, as finanças da ACD. O tesoureiro já enviou um email a avisar que não assina mais cheques pois já fez muitas transferências para o estrangeiro em milhares de contos e não tem qualquer recibo”, acusa, acrescentando que o presidente colocou a própria sobrinha na administração das finanças do Cenorf.
Apesar do Cenorf estar de portas fechadas por falta de recursos, diz que no domingo, 23, vai ser realizada a Corrida David, com custos a volta dos 500 contos, atitude que não compreende, tendo em vistas o que devem ser as prioridades no momento.
Falta de transparência
O presidente é acusado, ainda, de falta de transparência nos processos internos, desrespeito e queixas de maus-tratos aos funcionários, decisões centralizadas, assinatura de protocolos não aprovados e não prioritários, entre outras queixas.
Neste momento, diz, o acusado assume três funções na ACD, sendo presidente da direção da ACD, presidente do conselho de administração do Cenorf e diretor do Cenorf.
Diamantino cita ainda um encontro realizado a 20 de janeiro, onde terão participado 23 membros e sócios da ACD, e da qual saiu uma lista de preocupações perante o cenário agora denunciado.
Discussão deve ser em sede própria
A Nação procurou o visado nas acusações, Bernardino Gonçalves, que desvalorizou as denúncias, alegando que os problemas internos da ACD devem ser discutidos em sede própria, ou seja, em assembleia geral (que aliás acontece esta sexta-feira, 21), e não na comunicação social.
“Pela dignidade dos membros, pelo respeito. A ACD é uma grande associação, celebrou 30 anos no ano passado, criou uma unidade de produção de velas que emprega mulheres, pessoas com deficiência, a ACD é uma entidade que criou o único centro no país que presta serviços de reabilitação ortoprotésico, com tamanha responsabilidade não posso debater estes assuntos na imprensa, quando há órgãos próprios”, alegou.
De frisar que esta quinta-feira o Cenorf celebra 20 anos de história, data assinalada com a conferência internacional “Reabilitacao: uma questão de justiça social”, que está a ter lugar no Palácio do Governo, sob o lema “Celebrando a inclusão e a superação”.
Natalina Andrade
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