Em comunicado a Associação dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) afirma que recebeu “com espanto” e diz ser “preocupante” o recente comunicado do Movimento para Democracia (MpD) onde desfere acusações contra o jornalista Carlos Santos, da Rádio de Cabo Verde (RCV), relativamente à sua condução da rubrica “Café Central”. A AJOC manifestou total apoio a Carlos Santos e reafirmou o seu compromisso com a “defesa intransigente” da liberdade de imprensa e da autonomia editorial.
A reação da AJOC via comunicado aconteceu hoje, 17, sobre a missiva, assinada pelo Secretário-Geral do MPD, Agostinho Lopes, em que acusa o jornalista da RCV, Carlos Santos e a rúbrica “Café Central”, de “falta de rigor e sínteses enviesadas” e onde afirma que o jornalista tem usado o espaço para atacar o Governo e o partido que o suporta, o MPD.
Em causa estará também o convite para participação na rubrica “Café Central” do cidadão António Alte Pinho, um dia após a participação do Primeiro-Ministro e Presidente do MPD, Ulisses Correia e Silva.
Afirmações graves
A AJOC diz considerar graves as afirmações feitas pelo MPD e que põem em causa a integridade profissional de Carlos Santos que, segundo a associação sindical, “é um jornalista com provas dadas”, ainda mais quando estas mesmas acusações são feitas “sem se apresentar provas objetivas”.
“É preocupante que, numa semana em que se está a falar de liberdade e democracia, um partido político, que se gaba de dar liberdade ao povo cabo-verdiano, recorra a acusações públicas dessa natureza contra um jornalista, promovendo ataques contra a sua pessoa nas redes sociais, muito deles vindo covardemente de perfis falsos” escreve a direção da AJOC, que interpretou a ação do MPD como uma “tentativa de intimidação e condicionamento da liberdade de imprensa”.
“Avisamos que vamos estar atentos a qualquer tentativa de censura ou coação contra profissionais da comunicação social, prontos para agir lá onde for preciso” enfatiza.
Valorizar importância da Liberdade de Imprensa
A AJOC finaliza relembrando que a liberdade de imprensa e a independência editorial são conquistas que precisam ser valorizadas e defendidas a todo o custo e que, enquanto associação sindical, não irá baixar os braços “quando for este o propósito”.
Jornalistas José Vicente Lopes e José Mário Correia apoiam Carlos Santos
Na edição desta sexta-feira, 17, do programa “Clube de Imprensa” da Rádio Alfa, o primeiro presidente da AJOC, o jornalista José Vicente Lopes diz que a reclamação do MPD, e de Agostinho Lopes em particular, é “completamente desnecessária, quer mostrar serviço” criando toda esta situação à volta de um programa que tem “grande prestígio junto da opinião pública”.
“Eu fui ouvir o programa e cheguei ao fim sem perceber qual é a razão da reclamação” disse José Vicente Lopes que pontuou que a reclamação levada à Autoridade Reguladora para Comunicação Social (ARC) “não faz sentido e não tem pernas para andar”.
António Alte Pinho, que foi também um dos convidados desta edição do “Clube de Imprensa” e está no embrolho da acusação do MPD a Carlos Santos, afirmou categoricamente que durante a quase meia hora de conversa só fez menção ao MPD no início do programa, em resposta a uma questão colocada pelo jornalista da RCV sobre a remodelação do governo.
“Eu não falei nada sobre a entrevista do Primeiro-Ministro”, garante Alte Pinho.
Questionado sobre se a situação poderá amedrontar jovens jornalistas, José Mário Correia afirma que não, pois “os tempos são outros e há uma determinação maior”.
“Quem acompanhou esse tempo todo sabe que o MPD nunca se deu bem com a classe jornalística” relembrou, sublinhando ainda que Agostinho Lopes “reeditou aquilo que parecia já não ser prática do MPD, entrou feito um leão mas sairá disso, se calhar, até pior que um cordeiro, vai sair mal disso, acho que foi um mau trabalho”.
