Por: António Delgado Medina
A ilha de Santo Antão, conhecida por sua riqueza agrícola e paisagens de tirar o fôlego, enfrenta uma das crises mais graves que já teve que encarar: o êxodo rural. Antigamente, as comunidades em locais como Figueira, Ribeira Alta, Garça, Cruzinha, Formiguinha, Fontainhas, Ribeira da Cruz, Martien, Chã de Norte, Santa Isabel e Ribeira de Janela eram repletas de vida, de gente que trabalhava no campo, cultivava a terra e vivia em harmonia com a natureza.
Hoje, essas localidades estão a perder sua população rapidamente. Jovens, em busca de melhores oportunidades, migram para outras ilhas, como São Vicente, Santiago, Sal e Boa Vista, em uma busca incessante por melhores condições de vida. Esse êxodo não é apenas um reflexo de uma procura por empregos, mas também de uma falta de esperança no futuro de Santo Antão. E, sem políticas públicas adequadas, o futuro da ilha corre sério risco de ser irreversível.
Esse êxodo não é apenas um reflexo de uma procura por empregos, mas também de uma falta de esperança no futuro de Santo Antão. E, sem políticas públicas adequadas, o futuro da ilha corre sério risco de ser irreversível.
Abandono das plantações e o envelhecimento da população rural
A agricultura sempre foi a base da economia e da vida em Santo Antão. A ilha, com suas condições climáticas e geográficas privilegiadas, possui um enorme potencial para a produção agrícola. No entanto, hoje, o setor vive uma crise profunda. A terra, que antes era cultivada com dedicação pelas famílias, agora se encontra abandonada, com o abandono das plantações e o envelhecimento da população rural.
Um número crescente de jovens, desiludidos com a falta de apoio e incentivos, decide abandonar o campo. Não há condições para os jovens se fixarem nas zonas rurais, seja pela falta de recursos, seja pela dificuldade em obter crédito ou pela falta de investimentos em tecnologia e inovação.
A agricultura em Santo Antão sofre também com a escassez de mão de obra. Enquanto o número de pessoas dispostas a trabalhar no campo diminui, a produção agrícola continua a cair, afetando a subsistência das famílias e a economia da ilha. A falta de uma política agrícola consistente, que envolva a modernização do setor e incentive a diversificação de culturas, deixa a ilha à mercê de uma agricultura arcaica e ineficiente. Os jovens, que são o futuro da ilha, preferem migrar para outras ilhas, onde existem mais oportunidades de emprego e uma qualidade de vida superior.
Falta de infraestrutura básica
Outro fator que agrava o êxodo rural é a falta de infraestrutura básica. Santo Antão, embora seja uma ilha com grande potencial turístico, sofre com sérios problemas de acessibilidade e infraestrutura. O transporte entre as diferentes zonas da ilha é precário, e as condições das estradas e transportes públicos não contribuem para o desenvolvimento da ilha. Esse isolamento geográfico, somado à carência de serviços básicos como saúde, educação e segurança, faz com que a vida em muitas localidades se torne insustentável.
Os jovens, que buscam educação de qualidade e melhores serviços de saúde, não encontram esses recursos de forma adequada em sua ilha natal. Portanto, a migração para outras ilhas não é apenas uma escolha profissional, mas também uma questão de necessidade.
Além disso, a ilha enfrenta um grande desafio na área de turismo. Apesar de seu potencial natural inegável, Santo Antão não consegue se posicionar como um destino turístico competitivo. O turismo, que poderia ser uma das chaves para a revitalização da economia local, sofre com a escassez de infraestruturas de qualidade, como alojamento e transporte adequados, e com a falta de profissionais capacitados para oferecer serviços turísticos de alto nível.
A falta de uma política agrícola consistente, que envolva a modernização do setor e incentive a diversificação de culturas, deixa a ilha à mercê de uma agricultura arcaica e ineficiente. Os jovens, que são o futuro da ilha, preferem migrar para outras ilhas, onde existem mais oportunidades de emprego e uma qualidade de vida superior.
Investimento na agricultura deve ser uma prioridade
É inegável que o governo de Cabo Verde e os governos regionais de Santo Antão têm implementado algumas iniciativas para o desenvolvimento da ilha. No entanto, essas políticas têm sido insuficientes diante da magnitude do problema do êxodo rural. O governo precisa adotar uma abordagem mais integrada e sustentável, com políticas públicas que garantam a fixação da população nas zonas rurais, a revitalização da agricultura e o fortalecimento do setor turístico.
Investir na agricultura deve ser uma prioridade, não apenas com subsídios, mas com a implementação de políticas que incentivem a utilização de tecnologias modernas, o apoio à diversificação de cultivos e a melhoria das condições de trabalho para os pequenos agricultores. O setor agrícola pode ser um pilar fundamental para a economia de Santo Antão, mas para isso é necessário criar um ambiente favorável ao investimento e à inovação. Além disso, é essencial incentivar a criação de cooperativas e associações que possam melhorar a organização e a comercialização dos produtos locais.
O processo de migração já está em andamento, e as populações mais jovens estão deixando a ilha em busca de um futuro mais promissor. Em 20 ou 30 anos, se nada for feito, o que restará de Santo Antão será uma terra sem vida, sem agricultura, sem turismo e sem as suas comunidades vibrantes.
Necessidade de ação imediata do governo e das autoridades regionais
O turismo também deve ser explorado de forma mais agressiva. O potencial de Santo Antão para o ecoturismo e o turismo rural é enorme, mas isso só será possível com investimentos em infraestrutura, como a construção de mais vias de acesso, o aumento da oferta de alojamento e a capacitação da população local para atuar no setor. O governo deve promover campanhas de marketing que posicionem Santo Antão como um destino turístico sustentável e autêntico, capaz de atrair turistas interessados em vivenciar a cultura e a natureza da ilha de maneira responsável e imersiva.
Se o governo e os governos regionais não adotarem medidas concretas, Santo Antão corre o risco de se tornar uma ilha desabitada em poucas décadas. O processo de migração já está em andamento, e as populações mais jovens estão deixando a ilha em busca de um futuro mais promissor. Em 20 ou 30 anos, se nada for feito, o que restará de Santo Antão será uma terra sem vida, sem agricultura, sem turismo e sem as suas comunidades vibrantes.
O futuro da ilha depende diretamente das decisões que serão tomadas agora. Políticas públicas eficazes para reverter o êxodo rural, investir na agricultura e no turismo, e melhorar a infraestrutura são essenciais para garantir que Santo Antão continue a ser um lugar próspero e habitado. Caso contrário, a ilha poderá perder sua identidade e seu potencial, condenando suas gerações futuras a um destino de abandono e desolação. A ação imediata do governo e das autoridades regionais é a única maneira de evitar esse futuro sombrio e garantir um futuro sustentável para Santo Antão e seus habitantes.