Donald Trump, a certeza da imprevisibilidade
Em 2025, a primeira grande questão que se coloca é como vai Donald Trump e a sua administração lidar com um conjunto de assuntos internacionais que estão na agenda. O presidente eleito protagonizou um dos mais espectaculares regressos na política, de sempre, e a única certeza que existe é a incerteza quanto às suas decisões. Para já, as atenções ficaram concentradas nas várias nomeações que fez para cargos na sua administração. E, como se viu, muitas delas bastante polémicas pelos nomes escolhidos, quer para a saúde, ambiente, justiça, imigração, ou para os simples cargos de embaixadores.
As promessas que fez ao seu eleitorado, em forma de ameaças para os visados, criam muito receio entre os imigrantes ilegais, que poderão vir mesmo a ser deportados em massa, com a ajuda dos militares, como Trump anunciou. Quem também vive com medo são os seus adversários políticos, considerados pelo próprio como ‘inimigos’, que lhe fizeram frente na comunicação social do país, e que temem o início de uma perseguição, como é seu timbre. Assim, o mundo que iremos ter em 2025 não consegue ficar imune às decisões do próximo presidente dos Estados Unidos, a começar pelo anunciado lema ‘Make America Great Again’, com tudo o que isso acarreta.
Regresso do isolacionismo americano
O primeiro passo, como também anunciado, serão medidas para uma política de isolacionismo, de regresso à Casa Branca, algumas já experimentadas no seu primeiro mandato. Sectores como o ambiente, os acordos de Paris, poderão a ser revertidos pelos escolhidos por Trump. Como é sabido, professa uma posição negacionista das alterações climáticas, por exemplo. Aqui, os nomes escolhidos pelo presidente eleito são Chris Wright, um executivo dos combustíveis fósseis, como secretário de energia, e Lee Zeldin, antigo congressista que votou contra a criação de santuários de vida animal e as moratórias exigidas sobre a exploração do petróleo. Assim, são esperados a aprovação de novas leis para suspender acordos de protecção da natureza, de incentivo às energias renováveis, aprovados durante o mandato de Joe Biden, como o Inflation Reductio Act, considerado o plano ambiental mais ambicioso até hoje conseguido pelos Estados Unidos.
Zelensky e Putin na expectativa, Netanyahu de olho na Cisjordânia
As grandes expectativas vão igualmente para o que Trump anunciou durante a campanha eleitoral sobre a guerra na Ucrânia e em Gaza. Quer a Ucrânia, quer a Rússia, estão na expectativa sobre o que vai fazer Donald Trump, que prometeu acabar com a guerra ‘em 24 horas’. É quase certo que iremos ver o aprofundar de conversações com vista a um cessar fogo, como já se adivinha. Se Joe Biden aprovou, sobre a última hora, um último pacote de ajuda a Zelensky, é sabido que o presidente ucraniano poderá ver este apoio americano reduzir-se com Trump. Como também já se anuncia, poderá não restar a Zelensky ter de vir para a mesa das negociações e aceitar um acordo de paz com a perda do Donbass para a Rússia, incluindo a Crimeia, anexada em 2014.
Finalmente, o presidente ucraniano deverá querer a garantia de que o país não voltará a ser invadido no futuro, e Vladimir Putin que a Ucrânia nunca venha a ser membro da NATO. Adoptar um estatuto idêntico ao da Finlândia, antes desta ter aderido à NATO, na sequência desta invasão, em 2022, é o objectivo de Putin. No entanto, a tensão existente entre a Rússia e alguns países fronteiriços, como os três Estados Bálticos (Lituânia, Estónia e Letónia), a Finlândia e a Polónia, levaram inclusive alguns países a preparar a sua população para uma guerra no futuro, com Moscovo, como é o caso da Suécia.
Que futuro para Gaza?
Estando a população de Gaza de rastos, sob uma devastação completa de todas as infraestruturas básicas, incluindo escolas e hospitais, é muito difícil prever até onde poderá ir ainda a destruição deste território. Mais de um ano depois do início da operação militar israelita, tudo aponta para que em 2025 o conflito acabe também num acordo imposto pelos vencedores, naturalmente. Assim como a libertação total dos reféns israelitas ainda na posse dos militantes do Hamas. Mas serão precisos anos para recuperar de toda a destruição levada a cabo pelo exército israelita, ficando ainda em aberto o estatuto de Gaza, agora que o Hamas perdeu toda a sua força.
Teme-se, igualmente, que Donald Trump feche os olhos a um plano de Benjamin Netanyahu para anexar toda a Cisjordânia, que praticamente está em curso, com o aumento dos colonatos, de forma a formar a ‘Grande Israel’, como desejado pela extrema-direita que o sustenta no governo. Os maiores opositores deste plano na região, o Irão e o Hezbollah, perdedores neste conflito que começou há pouco mais de um ano, deixaram de representar uma ameaça às pretensões do Estado hebreu. Restando apenas as instâncias jurídicas internacionais, como as Nações Unidas ou o Tribunal Internacional de Haia, como única forma de o impedir.
A incógnita da nova Síria
Os olhos estarão também concentrados na evolução política da Síria, com um governo de transição em vigor até Março, o que irá suceder até lá e, principalmente, depois desta data. A complexidade étnica e social do país, recentemente libertado de cinco décadas do regime da família Assad, levanta sérias dúvidas quanto à orientação que os novos dirigentes irão dar ao país. Alguns exemplos, como a região noroeste onde o grupo HTS governou, a partir da cidade de Idlib, onde vigorou a lei islâmica, com restrições profundas no que respeita à liberdade e direitos das mulheres, não abona nada a favor de uma sociedade mais livre.
Por outro lado, com a destruição total das infraestruturas militares, portos e aeroportos, utilizados pelo Hezbollah e pelo Irão, pela aviação israelita, obriga a uma redefinição do estatuto da Síria no contexto regional. No entanto, o regresso de milhões de refugiados e exilados poderá representar um enorme desafio de integração e de aproveitamento de recursos humanos indispensáveis para o arranque do país para uma nova página na sua história.
Europa
Emmanuel Macron mais isolado
Grandes expectativas, igualmente, em 2025, para a situação política dos dois países mais importantes da União Europeia: a França e a Alemanha. Se 2024 já é visto como um ‘annus horribilis’ para a política de Emmanuel Macron, pelas decisões tomada – a antecipação de eleições legislativas, a dificuldade em formar novo governo contra a esquerda ganhadora, o curto tempo do primeiro ministro nomeado, tendo de se socorrer de Raymond Barre, no final deste ano – 2025 não deverá vir acompanhado de grande estabilidade, apesar de Macron ainda gozar de mais dois anos de mandato, até às próximas eleições presidenciais de 2026. Nunca um presidente francês se havia visto face a uma crise política tão acentuada. Ainda mais com a subida de um partido como o Rassemblemet National, populista radical, a causar danos em todas as direcções e baralhar as cartas da política francesa.
Os desafios de Olaf Scholz
Na Alemanha, com o fracasso da coligação que dirigia a maior economia da Europa, a população manifestou-se por uma clara antecipação das eleições. Olaf Scholz, no poder desde 2021, demitiu o ministro das Finanças, Christian Lindner, do Partido Liberal Democrático. Lindner havia proposto uma reforma com cortes de impostos e de benefícios sociais, rejeitada pelos outros dois partidos da coligação. O desencontro vem do facto de Os Verdes e o social-democrata de Scholz preferirem que o governo gaste mais para modernizar a indústria e adoptar energia limpa. O Presidente da República , Franck-Walter Steinmeir dissolveu o parlamento e convocou eleições antecipadas para o dia 23 de Fevereiro de 2025. Os resultados ditarão se a estabilidade política voltará à ‘locomotiva económica’ da Europa, cujo rumo se reflecte nos seus vários parceiros.
África
‘Haitização’ de Moçambique?
A crise política e social em Moçambique agudizou-se neste final de 2024, com a aprovação e confirmação (apenas uma alteração de 10% nos resultados do candidato vencedor) dos resultados das últimas eleições presidenciais de Outubro, que dão a vitória a Daniel Chapo, contra Venâncio Mondlane, pelo Conselho Constitucional. A somar às várias dezenas de mortos registados entre os manifestantes, nas várias ocasiões dos tumultos pelas ruas de Maputo e outras cidades, estão novas mortes e a fuga de 1500 reclusos de uma cadeia de alta segurança, nos arredores da capital. O que lança grandes preocupações sobre o rumo do país, para 2025. Fala-se, inclusive, no risco de uma ‘haitização’ de Moçambique, por comparação com o caos que reina naquele país francófono das Caraíbas.
CEDEAO amputada
Julho de 2025 é o final do prazo formal de seis meses dado ao Burkina Faso, Mali e Níger para que estes três países reconsiderem a saída da CEDEAO. A decisão, anunciada ainda no início de Janeiro de 2024, será efectivada a partir de 29 de janeiro de 2025. As atenções estão agora viradas sobre o futuro destes três países sahelianos, que no passado mês de Julho formalizaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES), cuja criação já havia sido anunciada em 2023. Por outro lado, o ano de 2025, ao que tudo indica, será o da confirmação do abandono, mas também do começo de várias mudanças que a saída dos três Estados trazem à CEDEAO e a si mesmos, no contexto político, social e económico da África Ocidental. A organização regional vê, assim, o seu prestígio abalado nos seus objectivos, e a perda destes países representa a prova da sua incapacidade em se manter solidária e coesa.