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Economia

Retrospectiva: Economia afectada pela emigração em massa em 2024

Encontrar o equilíbrio entre a macro e a microeconomia em Cabo Verde continuou a ser o maior desafio do sector em 2024. Nesse fio a emigração em massa acabou por impactar em vários sectores especialmente o turismo e restauração, mas também a agricultura. Sem esquecer os transportes inter-ilhas, especialmente aéreos, que continuaram a causar muitas dores de cabeça ao cidadão comum e aos operadores neste ano que ora termina.

O FMI estimou em Novembro de 2024 um crescimento de 6% da economia cabo-verdiana em 2024, mais 1,3 pontos percentuais em relação às perspectivas do mês anterior, de Outubro, apontando também um aumento de 4,7% para 5% nas projecções para 2025. Contudo, como é sabido, são apenas estimativas que podem sofrer alterações, depois, quando saírem os dados oficiais. O próprio Banco de Cabo Verde (BCV) também reviu em alta de 6,1%, recentemente, o crescimento económico para 2024.

Mesmo assim, a inflação e as variações nos preços dos combustíveis e bens alimentares tiveram um impacto directo no dia a dia dos cabo- -verdianos, que se queixam que a vida está cada vez mais cara, em relação aos salários, que, de forma geral, não têm sofrido actualizações. Aliás, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) chegou a prever uma inflação de 2,2% em Cabo Verde em 2024. A ver vamos. Das estatísticas, à percepção das pessoas, há sempre uma diferença.

Contudo, e embora não seja ainda o suficiente para dar resposta aos desafios das famílias cabo-verdianas, está previsto o aumento de 15 para 17 contos do salário mínimo em 2025, tanto no público, como no privado. Mas a meta é 25 contos, pedem os sindicatos.

Turismo

O certo é que o desenvolvimento económico de Cabo Verde continuou, à semelhança dos anos anteriores, com excepção do período da Covid-19, a estar muito alavancado no Turismo, seja de forma directa ou indirecta, especialmente em ilhas como Sal e Boa Vista e até Santo Antão, apesar da sazonalidade, como acontece até com o Fogo, São Vicente e Santiago, onde muitas empresas e pequenos negócios acabam por depender do turismo em áreas como restauração, hotelaria e aluguer de quartos, viaturas, entre outros serviços.

Aliás, o que já tinha dado sinais claros em relação à falta de mão de obra para o sector em 2023, parece ter-se agravado em 2024, pelo menos é a percepção que se tem. De cozinheiros a recepcionistas, passando por vários outros segmentos, houve uma grande demanda junto da Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde para a formação de novos quadros. Por exemplo, na ilha de Santiago, especialmente na capital, mas também no Tarrafal de Santiago, não faltaram relatos de falta de quadros técnicos especializados para a hotelaria e restauração, face à emigração em massa. Isto sendo certo que a maioria dos formandos da referida escola preferem trabalhar no Sal e Boa Vista, devido há maior atratividade dos salários e condições de progressão na carreira.

Depois de ultrapassados o 1 milhão de hóspedes em 2023, as perspectivas é que este número seja ultrapassado em 2025, sendo também certo que o turismo de cruzeiros aumentou este ano, com uma maior oferta de escalas para a época 2024/2025 (Outubro/Maio).

Transportes

Também com impacto directo no turismo pela negativa, os transportes aéreos inter- -ilhas continuaram a dar muitas dores de cabeça aos cabo-verdianos em 2024. Seja ao cidadão comum, seja aos pequenos comerciantes, empresários, até turistas e homens de negócio, mas também ao próprio Governo.

Com o fracasso da Bestfly (antiga TICV), incapaz de dar resposta à demanda dos transportes, devido às sucessivas avarias dos aparelhos, entre outros factores, que foram várias vezes noticiados ao longo do ano pelo A NAÇÃO, o Estado viu-se obrigado a assumir as rédeas da situação, depois de muitas queixas e pressão da sociedade civil.

Com a saída definitiva dos angolanos da Bestfly, em Abril de 2024, a TACV (Cabo Verde Airlines) acabou por entrar na corrida e assumir as operações, tendo o Governo avançado com a criação de uma nova companhia aérea estatal.

Quem se congratulou com a medida foram os operadores turísticos e agências de viagens. Mesmo assim, a Bestfly ainda deve cerca de 33 mil contos às agências de viagens e turismo de Cabo Verde.

Porém, de notar que o movimento de aviões nos aeroportos e aeródromos de Cabo Verde cresceu 10,9 por cento (%) no terceiro trimestre de 2024 e o tráfego de passageiros 15,7%.

Nesse período registou-se um total de 8.299 movimentos de aeronaves nos aeroportos e aeródromos nacionais, correspondendo a um aumento de 10,9% em relação ao mesmo período do ano de 2023.

Já o número dos passageiros rondou os 788.171, correspondendo a um aumento de 15,7%, cerca de mais 107.112 passageiros transportados, comparativamente a igual período de 2023.

25 milhões do Banco Mundial para o crescimento económico sustentável

Uma boa notícia para a economia foi o recente anúncio d conselho de administração do Banco Mundial que aprovou um crédito no valor de 25 milhões de dólares para apoiar Cabo Verde na implementação do seu Financiamento da Política de Desenvolvimento (DPF).

A verba visa fortalecer a consolidação fiscal do país e impulsionar o crescimento económico sustentável, com foco nas reformas para enfrentar os desafios das crises globais recentes e garantir um desenvolvimento resiliente às mudanças climáticas.

“A economia de Cabo Verde está a emergir bem dos recentes choques. As reformas destinadas a reforçar a resiliência orçamental – através do aumento das receitas e da atenuação de potenciais choques – são fundamentais para esta recuperação, assim como para importantes investimentos na economia azul e verde”, explicava recentemente um comunicado do BAD.

A operação DPF está estruturada em três pilares principais: “Reforçar a resiliência fiscal”, “Permitir a adopção de serviços digitais e energias renováveis” e “Reforçar as oportunidades económicas”.

Foto @ Balai

Publicado na Edição 904 do Jornal A Nação, de 26 de dezembro de 2024

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