Por: Adérito Barbosa
Francisco Carvalho foi reeleito Presidente da Câmara Municipal da Praia com todo o mérito e, claro, fez questão de transformar o palco numa espécie de altar improvisado. O homem chamou toda a gente pelo nome, sobrenome, cargo e apelido, abraçou como quem abraça o mundo como se tivesse descoberto a cura para todos os males – deu beijinhos dignos de telenovela, bebeu água como um mártir no deserto e limpou o suor da testa, porque a aclamação é uma tarefa árdua. Ah, mas que espetáculo! Não faltou ninguém, nem mesmo a Janira e o Semedo, e com isso a tropa comunista estava completa no pavilhão, devidamente formada em batalhões. Estavam tão bem organizados que não faltaram bandeiras da foice e do martelo, tremulando ao som do hino : – Francisco Francisco, Francisco Praia sta co bó,’ co bó Praia riba la”.
Francisco, sempre magnânimo, não deixou de lembrar sua obra-prima: as casas de banho. Sim, senhoras e senhores, o grande visionário que ousou prometer uma casa de banho por habitação. Quem precisa de emprego ou saúde quando se tem uma retrete novinha? Mas a festa não parou por aí. O homem ainda apresentou uma lista extensa de esmolas internacionais, com origem em Paris, Dakar, Marrocos, Portugal em geral, Amadora em particular, Estados Unidos e, veja só, até um miradouro também lhe deram sobre anonimato. Francisco tinha consigo uma listinha de esmolas: dizem que Francisco é um pedinte qualificado, mas isso seria subestimar sua habilidade de transformar esmola em show de luzes e confete debaixo daquele hino: — “Francisco, Francisco, Francisco Praia sta co bó’ co bó Praia riba la”.
Enquanto isso, o candidato derrotado, Abrão, foi para casa carpir lágrimas na companhia da família, que já estava com o kit consolo pronto. Abrão anda por enquanto a café, bolacha, água e muitos lenços de papel para conter as lágrimas e o ranho. Afinal, não foi difícil confortar um homem que, de corpo rijo, já está com o espírito mais mole que gelatina de pacote. Abrão mostrou-se ser mau demais. Achava que poderia vencer os comunistas à base de gritaria e pauladas verbais. Parece que ninguém avisou o rapaz que ninguém vence os comunistas à pancada.
Abrão entrou leão e saiu sendeiro. E, enquanto ele lambia as feridas, Orlando Dias e o seu grupo decidiram que era hora de desafiar o grande chefe, Ulisses. “Sim, o CEO vitalício do MPD,” que, como toda boa lapa, só larga o poder quando arrancado a ferros. Dizem que “ele não ouve ninguém – e, se ouve, finge que não. O homem transformou o partido numa sociedade anónima, e só fala com os membros do conselho de administração, que por acaso são seus próprios clones políticos.”
A rebelião interna começou, e a contagem de espingardas já está em andamento. Enquanto isso, Neves um grande matreirão que anda com mais problemas que uma novela mexicana – incluindo um caso não resolvido sobre pagamento de prestação de serviços amorosos à namorada – vê aí sua chance. Os mais atentos murmuram: se os revoltosos do MPD seguirem com a intentona, Neves aproveitará o caos para dissolver o parlamento, marcar novas eleições e, assim, cumprir a profecia: comunistas na presidência, nas câmaras municipais, no governo, e, claro, nas portarias das casas de banho, em número suficientes para toda a merda que vão fazer.
Entre comunistas, namorada do Neves e casas de banho não sei se choro ou se me fico porque Ulisses está a ajudar o PAICV a voltar à vida claramente.