Mais de um mês e meio após a destruição total do Pontão de Santa Maria, na ilha do Sal, causada pela tempestade de 10 de Outubro, operadores marítimos continuam sem alternativas viáveis para suas actividades, expondo a fragilidade do sector e a falta de medidas por parte das autoridades.
“O governo afirmou que buscaria uma solução rapidamente, mas, infelizmente, não há alternativas temporárias e, o pior, o tempo está passando sem que qualquer medida efetiva seja tomada”, denuncia um operador, que preferiu não se identificar com receio de represálias e consequências para os seus negócios.
Para esses trabalhadores, o Pontão de Santa Maria não é apenas um símbolo da cidade de Santa Maria ou da ilha do Sal. “É o coração de Santa Maria, essencial para quem trabalha no mar. Sem ele, estamos sendo severamente prejudicados e forçados a interromper nossas atividades, o que afeta diretamente uma cadeia produtiva vital que emprega muitas pessoas e sustenta suas famílias”, acrescentou um outro elemento do grupo.
Riscos e prejuízos crescentes
Sem o Pontão, dizem os nossos interlocutores, centros de mergulho, barcos de vela, catamarãs, embarcações de passeio, excursões de snorkeling, pesca desportiva e pesca artesanal enfrentam desafios diários para operar e ganhar a vida. Conforme acrescentam, a situação é agravada pela falta de segurança, tanto para trabalhadores quanto para turistas.
“Já estamos lidando com dificuldades significativas. Embarcar pessoas, equipamentos e equipas no mar aberto é perigoso e, muitas vezes, arriscamos nossa própria segurança para manter os negócios. Com a chegada do inverno, com ventos fortes e ondas intensas, será impossível continuar. As actividades serão canceladas, e os prejuízos para as empresas, empregados e suas famílias serão imensos”, alerta outro operador.
Os trabalhadores também destacam que as condições actuais podem levar a acidentes graves a qualquer momento. “Com as condições actuais, a segurança de nossos trabalhadores e turistas já está comprometida. A qualquer momento, um acidente poderá ocorrer. É apenas uma questão de tempo”, advertiu um deles.
Cobrança por ação imediata
O grupo de operadores marítimos criticou a demora do governo em tomar medidas concretas. “Até o momento, nenhuma acção foi tomada para abrir um processo licitatório e contratar uma empresa qualificada para reconstruir o cais. Sabemos que a reconstrução exigirá tempo, mas o tempo que está sendo perdido enquanto se espera pela adjudicação da obra é um prejuízo crescente para todos nós”.
Os queixosos também apontaram que já existe um projecto para a reconstrução do cais, elaborado no ano passado devido ao estado precário em que a infraestrutura já se encontrava antes mesmo do temporal de Outubro. A sugestão é, conforme disseram, que a licitação seja baseada nesse projecto, com a contratação de uma empresa que se comprometa a concluir a obra no menor prazo possível e que seja penalizada em caso de descumprimento.
“Como operadores do sector marítimo, pedimos ao governo que tome uma atitude imediata. Não podemos continuar esperando enquanto nossas atividades e a economia local entram em colapso. A reconstrução do cais não é apenas uma necessidade, é uma urgência”, conclui o grupo.
Contraditório
Sobre o assunto, A NAÇÃO tentou obter esclarecimentos junto da Câmara Municipal do Sal, mas o edil Júlio Lopes afirmou que a questão não é da sua competência. No Ministério das Infraestruturas, fomos encaminhados para a Unidade de Gestão de Projetos Especiais (UGPE), que, por sua vez, nos direccionou ao Gabinete do Ministro do Turismo. Contudo, todas as tentativas de contato com este último foram infrutíferas.
Também procurámos o presidente do Conselho de Administração do Instituto do Turismo, Humberto Lélis, que se comprometeu a dar um parecer assim que possível, o que, entretanto, não ocorreu antes do fecho desta edição.
Geremias S. Furtado
Publicado na Edição 901 do Jornal A Nação, de 05 de Dezembro de 2024