O Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL) tem um novo líder. Rufino Lima, subchefe principal da PN, foi eleito presidente após o processo eleitoral que sucedeu à renúncia do antigo dirigente, Arlindo Jorge Duarte. Em declarações ao A NAÇÃO, Lima destacou as prioridades da sua gestão, as mudanças necessárias para a classe policial e o compromisso com uma gestão transparente.
Rufino Lima destacou que a plataforma da sua gestão está alicerçada em 10 pontos principais, incluindo organização, mobilização, negociação, moralidade e a criação de uma federação para mulheres policiais e sindicalistas.
“A minha prioridade será transmitir confiança aos associados por meio de uma gestão transparente, algo que faltou no passado, especialmente com os rumores sobre desvios de fundos do sindicato. Vamos aguardar os trâmites da Procuradoria-Geral da República para apurar responsabilidades”, afirmou.
Equipa diversa e estratégia de organização
A nova direcção nacional do SINAPOL, liderada por Rufino Lima, é composta por quatro vice-presidentes: Onilvaldo Santos (Sal), Florentino Gonçalves (São Vicente), João Gomes (Praia) e Rui Fernandes (Fogo). O sindicalista explicou que buscou equilibrar a representação geográfica ao convidar Selson Batalha para a Assembleia Geral (Sul) e Amílcar Andrade para o Conselho Fiscal (Norte). “A ideia foi estruturar o sindicato para ter representatividade em todas as regiões do país”, disse.
Sem querer falar em rupturas, o nosso interlocutor afirmou que há outras questões que podem entrar na ordem do dia e, consequentemente, trazer melhorias classe, como é exemplo a questão salarial.
“A base salarial foi cumprida conforme o cronograma sendo republicada através do decreto 19/2024 porem neste quesito vendo as atualizações que tem sido aprovada para classe que somos similares, acreditamos que o Ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, saberá nos defender no conselho ministros, uma vez se o distanciamento for grande e sem nenhuma atualização seremos obrigados a encetar lutas”, avisou.
O presidente defende ainda a necessidade de ajustes para melhorar as condições da classe policial, como o subsídio de risco, numa proposta de três níveis diferenciados para burocráticos, esquadras e especialidades, refletindo o grau de exposição ao perigo e um subsídio de turno equiparado com outras forças similares.
Lima falou ainda em justes na carreira de agentes e subchefes, que, disse, passa por uma reformulação que inclua mais dois postos e melhorar a progressão na carreira. Este falou ainda na revisão do regulamento disciplinar, por forma a garantir penas mais proporcionais e justas, e ainda em melhorias nas fronteiras, com a modernização dos processos, valorização dos policiais e redistribuição de recursos gerados nos serviços centrais. “Vamos continuar a lutar pelos direitos da Guarda Fiscal e da Polícia Marítima, garantindo que também sejam observados”, garantiu.
Relação com associados e saúde mental
Prosseguindo, Lima realçou a importância de fortalecer a comunicação com os associados, bem como de tratar questões de saúde mental e bem-estar. O novo líder da SINAPOL propõe parcerias com clínicas e hospedagens em grandes centros para apoio aos policiais deslocados e maior atuação do serviço social da Polícia Nacional.
“Os policias sobretudo os das esquadras (operacionais) não têm feriado, fim-semanas, tolerância-ponto, as grandes manifestações culturais e datas emblemáticas estão no terreno, sem falar da pressão das diligências em virtude da dinâmica criminal, turnos de madrugada 3 em 3 dias, ora isso cria um desgaste enorme, aliás muitos “tombaram” antes de chegar a desfrutar da reforma”, destacou.
Compromisso com o diálogo e a classe
Quanto à relação com o governo, Rufino Lima reafirmou que a estratégia de actuação será pautada pelo diálogo e pela diplomacia, mas sem prescindir da firmeza nas reivindicações. “Vamos tentar dialogar ao máximo, mas, se necessário, recorreremos a outras formas de luta, sempre com o apoio dos nossos associados”, declarou.
Dirigindo-se à classe, Lima transmitiu uma mensagem de esperança e compromisso, reconhecendo os sinais de desconfiança de muitos associados. Garantiu que a sua gestão será marcada pela transparência, que as reivindicações da classe serão ouvidas e defendidas com determinação.
O novo presidente do SINAPOL destacou os desafios internos enfrentados pelo sindicato, lamentando que, em Cabo Verde, ainda sejam poucas as organizações que aceitam plenamente a democracia interna e as eleições. Lima criticou a postura “de um grupo específico, que tem se empenhado em denegrir a imagem do sindicato e até fomentado deserções entre os associados”.
O entrevistado do A NAÇÃO reforçou que é preciso seguir com empenho e foco nos objectivos a serem alcançados, visando o bem da classe. Com base na sua experiência e conhecimento sobre o funcionamento das esquadras e fronteiras, que abrangem mais de 90% do efetivo policial, afirmou que possui ideias, propostas e coragem para enfrentar os desafios. Reconheceu que a unanimidade é difícil, mas acredita que, com o apoio da maioria, será possível avançar de forma sólida rumo a melhorias significativas para os associados e para a instituição.
Rufino Lima, 49 anos, é subchefe principal exercendo funções na Esquadra Policial de Espargos, ilha do Sal, tem a especialidade no trabalho de fronteira, tendo trabalhado no aeroporto do Sal entre 2012 a 2023. Foi também presidente da Associação da Polícia de Ordem Pública (ASP-POP) entre 2008 a 2011.
Geremias S. Furtado
Publicado na Edição 900 do Jornal A Nação, de 28 de Novembro de 2024