A situação do ténis na ilha de São Vicente, assim como noutros pontos do país, está longe do aceitável. Paulo Monteiro, presidente da Associação de Ténis dessa região desportiva, admite que desde a pandemia da covid-19 que deixou praticamente de haver actividades. As críticas são extensíveis ao presidente da Federação Cabo-verdiana da modalidade, José Almada Dias, acusado de pouco ou nada fazer para tirar o ténis da letargia em que se encontra.
Luís Melo, mais conhecido por “Lulu”, antigo campeão da Zona II do Conselho Superior do Desporto em África, lamenta a situação em que se encontra o ténis, actualmente, em São Vicente e em Cabo Verde. “Sem competições, os jovens perdem o interesse e migram para outras modalidades”, afirma, lamentando a inércia e a falta de incentivo como factores cruciais para o declínio do ténis.
A crítica de Lulu não se limita à falta de competições. Também aponta o estado deplorável das “quadras” no Castilho e no Clube de Ténis do Mindelo. “Os campos estão em condições lastimáveis, o que torna impossível a prática adequada do ténis”, diz ele.
Para este tenista, a solução passa por um compromisso sério das autoridades desportivas, no sentido de investir na reabilitação das quadras e na organização de campeonatos regulares para revitalizar o ténis em São Vicente e em Cabo Verde, no geral. “Precisamos de uma estratégia clara e de investimentos concretos para resgatar o ténis e inspirar a próxima geração de atletas”, conclui Lulu, com a esperança de que suas palavras possam catalisar mudanças positivas.
A luta de Djimba contra o abandono do ténis
O professor Arlindo Silva, “Djimba”, 76 anos, é uma outra voz que se faz ouvir a propósito da situação do ténis em São Vicente. O seu entusiasmo pela modalidade levou-o a exercer o cargo de presidente da Associação Regional do Ténis em São Vicente por algum tempo. Hoje, considera “caótico” e de “total abandono” o estado do ténis na sua ilha natal.
Como diz, também, há mais de seis anos, que a Federação não realiza uma prova nacional, o que tem contribuído para acentuar o declínio da modalidade. “Para mim, a situação é mesmo caótica e a modalidade está em perigo,” afirma.
Para este veterano, “a verdadeira força do desporto não está apenas nas vitórias, mas na capacidade de inspirar e transformar vidas. Mesmo diante das maiores adversidades, nunca devemos desistir de lutar pelo que acreditamos”, advoga, daí a sua convicção de que o ténis poderá renascer das cinzas e voltar a ser uma modalidade capaz de atrair os jovens de São Vicente e não só.
Presidente da Associação de Ténis de São Vicente
“Não me recandidato, mas tenho esperança na revitalização do ténis”
Paulo Monteiro, presidente da Associação de Ténis de São Vicente, expressou a sua preocupação com a situação do ténis, não apenas em São Vicente, mas em todas as ilhas. Desde a pandemia da covid-19, em 2021, como admite, a Associação não conseguiu realizar competições e a desorganização de algumas entidades tem afectado directamente as suas actividades.
“Estamos sem quadras adequadas, ao contrário de Santo Antão, que possui quatro quadras de ténis. Em São Vicente, contamos apenas com a quadra do Clube Sportivo Castilho e a do Clube de Ténis do Mindelo, que possui três campos, mas apenas um funciona. O Clube de Ténis do Mindelo passou por uma mudança de direcção recentemente, o que permitiu a realização de alguns torneios esporádicos, como o torneio em homenagem aos 100 anos do Dr. Antero Barros, organizado a pedido do Comité Olímpico Cabo-verdiano e do Instituto do Desporto e Juventude (IDJ) em 2023”, explicou Monteiro ao A NAÇÃO
Infelizmente, como também reconhece, a regularidade das competições foi perdida. “Perdemos muitos atletas para o exterior e outros pararam devido à pandemia. Mesmo que quiséssemos organizar torneios agora, não temos condições no Clube de Ténis do Mindelo. Desde 2023, estamos sem uma direcção fixa e actualmente temos uma comissão de gestão. Em finais de Outubro, haverá uma Assembleia para decidir se a Comissão continuará ou não”, acrescentou.
A falta de iluminação nocturna é um outro problema. “Das quatro torres com oito lâmpadas, apenas três funcionam. Já solicitamos um orçamento para trocar todas as lâmpadas de uma vez, estamos arrecadando fundos para a manutenção. Durante o dia, é possível realizar jogos, mas a maioria dos atletas são estudantes e trabalhadores, o que complica a situação”, lamenta.
Paulo Monteiro salienta que a desorganização por que passa o ténis é generalizada, estendendo-se a outras ilhas. “A Federação está desamparada desde a pandemia. O IDJ tem apoiado as associações para organizarem uma assembleia geral ainda este ano, visando a eleição de uma nova direcção para a Federação Cabo-verdiana de Ténis. Há nomes como o comandante Cadú e o antigo praticante Valdemar Almeida, actual presidente da Associação Regional de Ténis do Sal, que podem se candidatar. Eu estou indisponível para a Federação e pretendo sair da Associação até o final do ano, independentemente de haver Assembleia ou não. Estou à frente desde 2014, entrei como tesoureiro em 2013 e sinto que não tenho feito nada na Associação”, desabafou.
Valdemar Almeida descarta Federação de Ténis
Valdemar Almeida, ex-tenista e actual presidente da Associação Regional de Ténis do Sal, revelou ao A NAÇÃO que desistiu de concorrer à liderança da Federação de Ténis, por “razões ponderáveis”.
Almeida explicou que, diante das actuais circunstâncias do ténis nacional, sente que sua presença é mais necessária na Associação de Ténis do Sal do que na Federação. Uma das razões para a sua decisão foi o afastamento de pessoas ligadas ao sector, que se mostram desinteressadas e desencantadas com o desporto.
E, sendo assim, através do A NAÇÃO, expressa o seu apoio à possível candidatura do ex-tenista Florêncio Cardoso, caso este decidir apresentar uma lista para a Direcção da Federação.
Situação no Sal é diferente
Valdemar Almeida salienta que a situação e a dinâmica do ténis na ilha do Sal são completamente diferentes das de São Vicente, Praia e Santo Antão, apesar de reconhecer neste último caso alguma dinâmica.
No Sal, como refere, a Associação tem realizado actividades que contornam a ausência e a inércia da Federação.
“Temos organizado competições e eventos, como uma gala, onde premiamos atletas de uma forma inédita em Cabo Verde”, apontou, incentivando outras associações a seguirem o mesmo exemplo e não ficarem paradas.
Almeida informou que a Associação que dirige tem procurado a cooperação internacional, conseguindo apoios para a formação de treinadores, monitores, atletas e árbitros. Também mencionou a cedência de um terreno pela Câmara Municipal para a construção de um Centro de Ténis, bem como apoios na melhorias do campo onde trabalham actualmente, e de materiais desportivo.
“Temos realizado provas para juniores e seniores, e planeamos organizar, no final deste mês, uma competição ‘open’ com a participação de tenistas internacionais de Galícia, Espanha, e de Paços de Brandão, Portugal”, disse Almeida, acrescentando que o evento contará com a participação dos oito melhores tenistas nacionais. Antes do final do ano, a Associação ainda tem actividades programadas para as festas de Natal.