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Unidade e Luta: Amílcar Cabral e o uso do desporto na luta pela libertação nacional

Por: William Sena Vieira

“Um pode ser muçulmano, outro católico, um pode apoiar a situação, outro pode ser da oposição. Contudo, ao entrarem em campo, precisam agir em conjunto para vencer o adversário” – Amilcar Cabral.

Nos anos 70, em plena preparação para a luta pela independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau, Amílcar Cabral inspirava os seus camaradas, orientando-os nos princípios do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Um desses princípios fundamentais era o conceito de “Unidade e Luta”, tema central abordado no primeiro capítulo do livro Amílcar Cabral, disponível no site www.amilcarcabral.org.

Nesse capítulo, Cabral procurava esclarecer os militantes sobre as bases ideológicas do PAIGC, mostrando que a unidade era crucial para o sucesso da luta de libertação nacional. Ele se referia ao documento de 1965 intitulado Palavras de Ordem Gerais do Nosso Partido, que delineava a “aplicabilidade prática dos princípios do Partido”. Cabral sublinhava que, embora muitos reconhecessem a importância desses princípios, poucos compreendiam que eles eram tão essenciais quanto a própria luta.

Para Cabral, a “Unidade e Luta” era indispensável para enfrentar o regime colonial português. Em um de seus discursos, ele usou o desporto como metáfora, mais precisamente o futebol, para ilustrar o conceito de unidade. Ele explicou que, assim como em uma equipa de futebol, os combatentes da luta de libertação deviam trabalhar juntos, respeitando as diferenças sociais, religiosas e políticas, mas sempre focados em um objetivo comum.

No discurso, Cabral exemplificava:

“O que é Unidade? No nosso princípio, unidade é algo dinâmico, em movimento.”

“Consideremos, por exemplo, uma equipa de futebol. Ela é composta por 11 jogadores, cada um com um papel específico. São pessoas diferentes: temperamentos, níveis de instrução, religiões, ou até mesmo afiliações políticas distintas. Um pode ser muçulmano, outro católico, um pode apoiar a situação, outro pode ser da oposição. Contudo, ao entrarem em campo, precisam agir em conjunto para vencer o adversário. Cada um mantém a sua individualidade, mas é necessário que obedeçam à lógica do jogo em equipa, com o objetivo claro de marcar o máximo de golos. Sem essa unidade, não há equipa de futebol. Este é um exemplo claro de unidade.”

Com essa analogia, Cabral demonstrava que a diversidade entre os combatentes não era um obstáculo, mas uma riqueza que, bem coordenada, poderia levar à vitória. Assim, ele ressaltava que a unidade, quando aliada à luta, era a chave para o sucesso na luta pela independência.

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