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A Educação em Cabo Verde as falhas das reformas e da parceria Família-Escola

Por: José Manuel Pina* 

A educação é um sistema em constante mutação, evoluindo e adaptando-se às características das sociedades. O nosso sistema educativo, enquanto parte integrante do sistema social, é por natureza dinâmico. Evolui ou deve evoluir em função das mudanças operadas na sociedade, sendo as opções da sociedade também as opções da educação. Quando o sistema não acompanha a evolução da sociedade, esse sistema entra, irremediavelmente, em crise. 

O ambiente atual exige cada vez mais que os seus agentes socializadores: a escola, professores(as), pais e mães, alunos(as) estarem coesos e preparados para fazer face a demandas sociais. Todavia, o nosso sistema de ensino enfrenta fragilidades, sendo determinante fomentar uma maior aproximação da família com a escola, visto que ambas são instituições responsáveis pela formação do cidadão.

A escola, porém, está a perder autoridade face às inúmeras reformas ineficientes: a forma de avaliação com tanta flexibilidade. Transitar de graça? Escasseiam manuais em diferentes ciclos e há escolas que não usufruem de estruturas mínimas tecnológicas e laboratoriais para o ensino de aulas práticas. 

Deve-se pensar também o perfil do docente na sala de aula. Cada vez mais desmotivados em termos de salário e progressão na carreira. Outros(as) estão aí a cumprir programa, porque é uma exigência superior, não um amor ao trabalho, tendo em vista tantas desilusões e traições na sua carreira. 

Na mesma senda, é desafiante avaliar o quanto o envolvimento da família ajuda na evolução escolar dos filhos(as), enquanto esta passa, também, pela qualidade do ensino, do ambiente da sala de aula, do material didático, do contexto em que se insere a escola e das condições socioeconómicas e familiares. Apresenta-se nesse ponto dois cenários:

Há pais e mães que envolvem efetivamente, não só na vida escolar dos seus filhos(as), como nas várias dimensões da sua vida; estes são pais que convidam os amigos(as) dos filhos(as) para irem a sua casa estudar, participam nas reuniões e nos projetos da escola e manifestamente interessam-se pelo dia a dia dos filhos(as). Este tipo de envolvimento é gerador de crianças e jovens com um maior desempenho escolar e com a perceção da escola como algo prazeroso, mesmo que tenha alguns momentos mais aborrecidos. Por outro lado, há pais e as mães que já perderam esta aproximação com os seus filhos(as). Os pais e as mães que, por variados motivos, poucas vezes estão com os filhos(as) em casa e têm pouco tempo para acompanhar a escola. O vínculo educativo é baixo, não havendo diálogo, manifestações expressas de carinho e geradoras de sentimentos de proteção. Nestes casos, o seu desempenho escolar é mais baixo e, não menos frequente, o seu comportamento disruptivo. Por entre estes dois extremos, muitos pais esforçam-se, mas não sabem como auxiliar os filhos(as) a aprender melhor.

A família, contudo, deve participar ativamente da vida escolar do  seu filho, um aspeto que se têm discutido entre escola, famílias e professores(as) são as tarefas para realizar em casa, pois na maioria das vezes os alunos(as) não realizam. A lição de casa jamais deve ser vista como um castigo no ambiente familiar.  Muitas vezes a família alega não poder ajudar o filho(a) por falta de tempo, grau de escolaridade baixa entre outros esquecendo que, a presença, mesmo que seja com tempo reduzido pode representar confiança e segurança, suprindo muitas vezes uma disponibilidade maior de tempo, porém com um certo vazio. A atividade de casa é um momento de participar na formação cidadã do (a) filho (a). Este é um assunto que deve contemplar o cronograma das reuniões com os pais e as mães, e o professor(a) como mediador deve expor com clareza a finalidade da mesma, por ser notório que há muitos conflitos em sala de aula. 

Outro aspeto importante são as visitas que as famílias devem fazer à escola, demonstrando interesse pelas atividades que os filhos(as) realizam no âmbito escolar. Quando há a participação ativa dos pais ou responsáveis e argumentação sobre os assuntos relacionados a escola são visíveis os resultados positivos, tornando-se a família uma aliada direta da instituição escolar. A participação da família na escola, muito mais que uma obrigação, deve tornar-se um canal aberto de trocas de ideias, de modo a favorecer o processo educativo.

A relevância do papel da família no acompanhamento da vida escolar dos (as) filhos(as) configura-se um grande desafio, uma vez que esta necessita, também, ser vista como “lócus educacional”, na qual possa existir uma prática educativa dialógica como veículo de facilitação do desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente.

As atitudes e práticas familiares no contexto educativo influenciam a manifestação de emoções positivas por parte dos alunos(as), uma vez que se sentem mais seguros na escola por saberem que a família os apoia, reforçando positivamente o seu desempenho escolar. As emoções positivas sentidas pelos alunos(as), nos momentos em que a família se envolve na sua escolaridade, têm um grande impacto no sucesso escolar dos filhos(as). Sobre o reflexo do envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos(as), a investigação em ciências da educação demonstra que este contribui para melhorar significativamente os desempenhos sociais e académicos dos alunos(as).

Com efeito, as diferentes modalidades de envolvimento e participação nas escolas trazem aos pais uma melhoria na autoestima, um maior conhecimento do processo de desenvolvimento das crianças/jovens, maior interação entre pais/filhos, entre pais/pais, entre pais/professores(as), uma melhoria qualitativa da participação em atividades coletiva. 

Em suma, o envolvimento dos pais e das mães na educação escolar dos filhos(as) passa pela valorização das suas atitudes, em detrimento da sua preocupação em fazer tudo por eles. Desta forma contribuiremos para um desenvolvimento escolar de sucesso.

* Docente 

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