Por: Emanuel Charles d’ Oliveira
Nas décadas de 40, 50 e parte de 60 do século passado uma estrela brilhou mais na constelação do futebol da Praia. De nome Raimundo Lima, admirado e conhecido por Mundinho contribuiu significativamente à construção do futebol na cidade onde nasceu e cresceu. Mais do que isso, foi um desportista exemplar dentro e fora dos campos de jogo, uma referência da juventude que viram nele os benefícios de uma prática desportiva saudável e correcta.
Excecional a jogar com os pés e cabeça, as suas qualidades desportivas e humanas fizeram dele um dos jogadores que mais representou a capital fora dele. Integrou equipas e seleções diversas e ainda frequentou e destacou-se nos retângulos de Mindelo, Bissau, Conacri, Dakar, Lisboa e Castelo Branco. Aqueles que o conheceram e viram jogar são unânimes em afirmar que foi um dos maiores que passou pelo pelado da Várzea, um autentico gentleman pela sua postura íntegra que o caracterizava.
Num torneio de dois dias (4 e 5 de outubro de 1964) recheado de amigos despediu-se do campo onde passeou a sua classe durante uma década ao serviço do Sporting Club da Praia. No auge da cerimónia distribuiu uma lembrança a cada jogador presente, uma fotografia sua autografada. Foi uma das mais sentidas despedidas de um jogador quando saíam do arquipélago pelas mais variadas razões. Uns iam à tropa, outros eram colocados nas demais colónias portuguesas, uns poucos seguiam para clubes da Guiné e Portugal, havia aqueles que simplesmente emigravam à procura de melhor vida. Mundinho ia para França onde o esperava um posto de trabalho.
Duas semanas após a despedida que se seguiu da viagem, uma notícia proveniente da França abalou a cidade. O capitão do Sporting CP tinha perecido num grave acidente no mesmo dia que entrava no país de destino, no dia 20 de outubro de 1964. Não tinha ainda completado os 35 anos. Hoje Raimundo jaz num cemitério no sul da França ao lado de três outros companheiros que sucumbiram naquela gélida e nebulosa madrugada.
O legado de Mundinho não ficou pela sua qualidade de jogador cuja escassez de meios mediáticos não permitiu que mais elementos visuais chegassem aos nossos dias. Um apaixonado da fotografia como ele foi possibilitou a descoberta de interessantes pormenores do futebol de 60 anos atrás e mais. Deu ainda a sua contribuição como dirigente do Sporting, organizou e incentivou o futebol juvenil.
No ano do 60º aniversário do seu desaparecimento físico e 95º do nascimento é-lhe dedicado uma fotobiografia cujo título é o mesmo deste artigo. O formato livro encontra-se no prelo e o digital será oportunamente apresentado publicamente, dando assim a conhecer à actual e futuras gerações que no campo da Várzea uma estrela brilhou mais.