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Uma análise da afirmação do PM de que cada vez há menos razões para pessoas abandonarem de Santo Antão

Por: António Medina

A contradição entre o discurso otimista do Primeiro-Ministro e a realidade populacional de Santo Antão revela uma desconexão significativa entre as promessas governamentais e os resultados práticos observados. A afirmação de que “há cada vez menos razões para que as pessoas continuem a sair de Santo Antão” não resiste à análise dos dados demográficos. O censo de 2021 indica que a ilha perdeu cerca de 7 mil habitantes na última década, tornando-se a ilha com a maior redução populacional em Cabo Verde. Esse êxodo, composto principalmente por jovens em busca de melhores oportunidades, reflete a incapacidade das políticas implementadas até o momento de reter a população local.

Esses números sugerem que, apesar de alguns projetos de infraestrutura em andamento, como a ampliação do porto e a produção de energia fotovoltaica, eles não estão gerando impactos suficientemente amplos para conter a migração. As condições económicas em Santo Antão ainda não proporcionam empregos estáveis ou oportunidades atraentes o bastante para competir com o que as ilhas maiores, como Santiago, ou até outros países, oferecem. O crescimento contínuo da população de Santiago, contrastando com o declínio em outras ilhas, evidencia essa disparidade de oportunidades, criando um ciclo vicioso de emigração e estagnação económica em ilhas periféricas como Santo Antão.

O fenómeno da migração está intrinsecamente ligado a uma ausência de desenvolvimento económico sustentável. Enquanto o Governo se concentra em grandes projetos estruturais, há uma carência de iniciativas voltadas diretamente para a criação de empregos acessíveis e diversificados que possam beneficiar a população local de imediato. Além disso, a falta de investimentos robustos em setores como educação, capacitação profissional e empreendedorismo acaba perpetuando a fuga de talentos para outras regiões. A ausência de políticas inclusivas e voltadas para as necessidades reais da população jovem reforça o sentimento de que o futuro em Santo Antão é incerto, empurrando essas pessoas para fora da ilha.

Portanto, a política de desenvolvimento para Santo Antão precisa ser repensada de maneira mais pragmática e eficiente. Não basta apenas investir em grandes projetos de infraestrutura se eles não se traduzem em benefícios tangíveis para a comunidade local. Para que as pessoas realmente tenham “menos razões para sair”, é necessário criar um ambiente económico dinâmico que ofereça oportunidades concretas de emprego e qualidade de vida. Isso implica na implementação de políticas integradas que levem em consideração o desenvolvimento social e económico da população, abordando as causas estruturais que ainda forçam a migração em massa da ilha. Uma dinâmica de desigualdade regional que deve ser enfrentada com políticas mais equilibradas.

A proximidade das campanhas eleitorais levanta questões sobre a autenticidade das promessas feitas pelo Governo. É comum que líderes políticos apresentem planos ambiciosos em tempos de eleições, mas a realidade posterior muitas vezes não acompanha o entusiasmo inicial. A menção a grandes projetos pode ser interpretada como uma tentativa de conquistar apoio eleitoral, mas sem uma visão clara de como esses projetos realmente transformarão as condições de vida em Santo Antão no curto e médio prazo.

A retórica do Primeiro-Ministro sobre os projetos em Santo Antão não alivia as preocupações reais dos seus habitantes, que continuam a abandonar a ilha devido à falta de oportunidades concretas e imediatas. A perda populacional, especialmente de jovens, é um sinal claro de que as políticas atuais não estão funcionando. O Governo precisa acelerar a implementação de projetos e garantir que esses investimentos beneficiem diretamente a população local, criando empregos sustentáveis e oportunidades reais de desenvolvimento. Caso contrário, o discurso otimista corre o risco de parecer desconectado da realidade vivida por quem está sofrendo com a emigração e o declínio socioeconômico da ilha.

30/09/2024

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