Tommy Melo, presidente da Associação Biosfera, sedeada em São Vicente, afirma-se preocupado com a degradação ambiental em Cabo Verde. Numa mistura de esperança e crítica, este biólogo e ambientalista alerta para a situação “preocupante” existente na ilha de Santa Luzia.
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Tommy Melo
Tommy Melo reconhece que já existe actualmente uma considerável preocupação entre os cidadãos sobre questões ecológicas, mas lamenta que ainda persistam acções de prevaricação que afectam, negativamente, a todos.
“A falta de fiscalização é alarmante”, afirma, referindo-se à contínua prática de apanha de areia nas zonas costeiras e à captura de tartarugas, em São Vicente. Aqui, apesar dos esforços conjuntos, entre os poderes instituídos e as organizações ambientalistas, que resultaram na diminuição de lixo nessas áreas, os desafios permanecem.
O aumento da população de cães abandonados é, contudo, um outro problema. Essa situação, segundo o entrevistado do A NAÇÃO, está contribuindo para a mortalidade de tartarugas, uma espécie já ameaçada. “As autoridades precisam reconhecer a fragilidade dos recursos naturais de Cabo Verde. O que hoje pode parecer gasto de dinheiro, amanhã será visto como um investimento acertado”.
Santa Luzia continua exposta
Em relação a Santa Luzia, aqui, como refere o responsável da Biosfera, apesar dos esforços e não obstante a ilha ser considerada uma reserva ambiental, continua a ser palco de várias transgressões, daí a necessidade de um envolvimento mais sério das autoridades na protecção dessa reserva ambiental.
“Estamos a observar construções que são iniciadas e depois abandonadas, deteriorando o nosso património visual e ambiental”, lamenta. “Fazemos o que podemos, porém, se as autoridades não cumprirem com seriedade as suas obrigações, acabaremos apenas com um trabalho paliativo”.
Para Melo, o verdadeiro potencial das iniciativas ambientais em Cabo Verde poderia ser muito maior caso houvesse mais colaborações entre os sectores público e privado. “Os nossos decisores necessitam de maior instrução e educação ambiental. Devemos juntar esforços, pois tanto os nossos recursos como o conhecimento poderiam ser mais bem aproveitados em parcerias bilaterais ou multilaterais”, propôs.
Além disso, Tommy Melo fez um apelo à população, ressaltando que a defesa de um ambiente saudável vai além de participar de festas e comícios. “Os cidadãos devem exercer sua cidadania reivindicando a implementação das leis ambientais e regulamentações municipais”, instou. Ele encorajou a participação em fóruns e a prática do voluntariado, como formas eficazes de promover a consciência ambiental nas famílias.
Por fim, o líder da Associação Biosfera enfatiza a importância de investimentos efectivos na fiscalização das zonas marinhas e costeiras, sugerindo que a problemática dos cães abandonados deveria ser uma prioridade em 2025. “É hora de deixarmos as demagogias políticas de lado, em prol do bem comum e de um futuro mais promissor para todos nós”, conclui o presidente da Biosfera.
João A. do Rosário
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