A crise criada com a demissão colectiva da direcção do Grupo Parlamentar do MpD será resolvida na próxima semana com a eleição de um novo líder para substituir Paulo Veiga, que bateu com a porta alegando “falta de articulação” com o Governo. Ao que tudo indica, Celso Ribeiro será o próximo presidente da bancada ventoinha, o que, para o deputado Orlando Dias, será uma “incoerência”.
Salvo alguma reviravolta, Celso Ribeiro deverá ser eleito o novo presidente do Grupo Parlamentar do MpD, no próximo dia 02, numa jornada parlamentar convocada para o efeito. Isto depois de ter sido vice-presidente da direcção chefiada pelo demissionário líder, Paulo Veiga. Esta é a indicação da Comissão Política Nacional do MpD que decidiu apostar no deputado eleito pelo círculo de Santiago Norte.
No início desta semana, numa jornada parlamentar extraordinária, Celso Ribeiro obteve o apoio “massivo” dos deputados do partido que suporta politicamente o Governo com um expressivo apoio de 31 dos 38 parlamentares que formam a bancada.
Mas esta solução é no mínimo estranha, tendo em conta que Celso Ribeiro apareceu ao lado de Paulo Veiga, juntamente com Euclides Silva, no pedido de demissão dos três da direcção do Grupo Parlamentar do MpD, em protesto contra “a falta de articulação” entre o Governo e o Grupo Parlamentar, com destaque para a “decisão unilateral”, como se disse, de emitir um selo comemorativo relacionado ao centenário de Amílcar Cabral pelos Correios de Cabo Verde.
De acordo com uma fonte bem posicionada, a jornada parlamentar extraordinária do MpD para analisar o pedido de demissão em bloco da direcção dessa bancada foi tensa, com alguns deputados a atacarem a postura de Paulo Veiga. Segundo os críticos de Veiga, a sua postura pondo em causa o Governo, em especial o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, poderá perigar a estratégia do partido em relação às eleições autárquicas que acontecerão dentro de dois meses, aproximadamente.
Apesar de ter protagonizado o mesmo acto contra o Governo, repita-se, juntamente com um outro colega (Euclides Silva), Celso Ribeiro conseguiu sobreviver ao ponto de obter 31 votos dos seus colegas de bancada. Terá feito a sua “auto-crítica”, primeiro, a nível da Comissão Política do MpD e, depois, perante os deputados colegas do Grupo Parlamentar?
“Incoerência”, diz Orlando Dias
Orlando Dias, dirigente e deputado do MpD que tem sido principal voz dissonante em relação à liderança do partido, contactado pelo A NAÇÃO, considera que uma eventual eleição de Celso Ribeiro para líder da bancada da maioria será “falta de coerência”, tendo em conta que este deputado pertence à direcção demissionária.
“Não deveriam ter pedido demissão colectiva, ainda mais com a argumentação que fizeram”, sublinha Dias, vendo nessa história toda “muita incoerência”. A seu ver, eleito para “chefiar” o Grupo Parlamentar do MpD, Celso Ribeiro será um líder “fragilizado” e a oposição terá argumentos para “atacá-lo” politicamente pela sua falta de “coerência”.
Paulo Veiga reitera “falta de articulação com Governo”
Em declarações à imprensa logo após a jornada parlamentar extraordinária, na segunda-feira, Paulo Veiga disse que deverá ser substituído, na liderança do Grupo Parlamentar do MpD, pelo seu colega Celso Ribeiro, que foi o seu braço direito e que, também, avalizou o pedido de demissão colectiva da direção da bancada da maioria.
Face às críticas, Paulo Veiga esclareceu que vai continuar a exercer a função de deputado até a eleição do seu sucessor. Lembrou, entretanto, que, de acordo com o estatuto do partido e o regimento interno do Grupo Parlamentar, o líder da bancada é o responsável pela articulação com o Governo, que no seu caso “não aconteceu”.
Paulo Veiga disse ainda que tem feito o seu trabalho “com muita dificuldade”, especialmente em relação aos membros do Governo, dando a entender que estes não respeitam os deputados. Recordou que, em Outubro de 2023, a bancada do MpD chumbou uma proposta de resolução para que o Estado celebrasse o centenário de Amílcar Cabral.
“Na nossa opinião, Amílcar Cabral é um herói nacional, pessoa importante para a história de Cabo Verde, mas não o pai da nação cabo-verdiana, pois a nação tem 562 anos”, acentuou, frisando que a articulação com o Governo foi um dos pontos chave para a demissão do cargo de líder parlamentar do MpD.
“O motivo da minha demissão é que nós tomamos um posicionamento e o Governo com toda legitimidade pode fazer o que fez, estamos a falar do 12º selo emitido em nome de Amílcar Cabral, mas deveria por respeito e articulação-me o que se passa, os acordos entre as instituições Correios de Cabo Verde e Correios de Portugal”, avançou.
Aliás, segundo Paulo Veiga, foi um acumular de falta de articulações, acrescentando que, neste momento, não reúne condições para continuar e “fingir que nada aconteceu”, por ter sido o porta-voz do grupo e ter “dado a cara ao chumbo” .
Segundo o líder demissionário, durante o seu mandato, foi um “acumular” de “falta de articulação” e que, antes de ser substituído, preferiu pedir a sua demissão, deixando a Comissão Política Nacional do MpD com mãos livres para escolher um novo líder do Grupo Parlamentar.
Publicado na edição 891 do Jornal A Nação, de 26 de Setembro de 2024