Os familiares de Anaziza Gonçalves de Pina, mais conhecida por Póla, morta em 2021 em condições brutais, continuam inconformados com a forma como a justiça tem lidado com o caso. Póla, segundo contam, foi assassinada dentro da sua própria casa, em Lém Cachorro, na cidade da Praia, por asfixia. Um crime que, para os seus entes queridos, ainda não recebeu a devida atenção por parte das autoridades. Um homem chegou a ser condenado, mas foi solto nove meses depois.
Segundo o relato de uma das irmãs da vítima, que encontrou Póla ainda a respirar antes de falecer, o socorro chegou tarde demais. Conforme disse na altura do acontecimento, accionou as autoridades por volta das três horas da madrugada, mas a polícia só apareceu às seis da manhã, e os bombeiros, ainda mais tarde, por volta das oito horas. Quando finalmente chegaram, Póla já não apresentava sinais de vida.
O crime chocou a comunidade Lém Cachorro e ainda gerou várias reacções nas redes sociais pela crueldade com que foi cometido. Dois indivíduos foram acusados de terem asfixiado a vítima com um lençol, um deles identificado como Zé Pála, que havia sido liberto da cadeia recentemente. Na altura, o silêncio das autoridades, que não divulgaram detalhes sobre o caso, gerou uma revolta ainda maior entre os familiares, questionando se a vida de Póla, por ser “quem ela era”, não merece o mesmo respeito e atenção de outras vítimas.
Suposto assassino libertado
No entanto, o que mais revolta a família é que, após a condenação, o suposto assassino foi liberto depois de ter cumprido apenas nove meses de prisão. Segundo Maria Manuela, irmã de Póla, o homem foi solto no mesmo dia em que se assinalava a missa de nove meses da morte da vítima, que deixou na época dois filhos menores. “A morte da minha irmã foi tratada com descaso. Parece que a justiça em Cabo Verde só existe para quem tem dinheiro”, lamenta.
“A morte da minha irmã foi uma das experiências mais dolorosas da minha vida. Nem mesmo a perda da minha mãe afetou-me tanto quanto essa. Ela foi assassinada dentro da sua própria casa, na cama dela, e a justiça não foi feita. Mataram-na como se fosse um animal, e talvez se fosse um cão de estimação, a situação fosse diferente. Eles trataram- -na como se fosse inferior, e isso me leva a concluir que a justiça em Cabo Verde não é justa”, continuou no seu desabafo ao A NAÇÃO.
Sobre o suspeito, que chegou a ser condenado, Maria Manuela afirma que, inicialmente, foi dito que ele receberia uma pena de cinco anos, o que já consideraram pouco, mas que decidiram não cumprir.
“Sinto uma tristeza profunda ao ver esse homem todos os dias. Cada vez que o encontro, é um choque no meu coração, uma dor que parece não ter fim. Desde a morte da minha irmã, a minha vida mudou completamente. A morte da minha irmã não foi considerada com a seriedade que merecia. Para mim, ela era uma grande pessoa, e a dor que sentimos é a mesma. Essa perda marcou-me profundamente e vai continuar a doer-me até o dia em que eu partir deste mundo”, concluiu.
Geremias S. Furtado
Publicado na edição 891 do Jornal A Nação, de 26 de Setembro de 2024