No seu quarto livro, o Frei Bernardino Lima traz um leque de argumentos para redimensionarmos as nossas posições e relações em todos os sectores da vida, inspirado num Cristo, como diz, “sem preconceitos e sem padrões”.
Nesta que é sua quarta obra publicada, o Frei Bernardino Lima propõe uma reflexão acerca da nova conjuntura social que estamos a viver, mas, sobretudo, lança uma provocação à mudança de mentalidade, de perspetiva e de linguagem no que se refere aos crentes.
Neste livro, editado pela Livraria Pedro Cardoso, o autor apresenta um Cristo despido de preconceitos e de padrões, sejam eles sociais, religiosos ou culturais. “O Cristo dos Oprimidos ensina-nos, silenciosamente, que ele é um publicano, um judeu, um samaritano, um nazareno, um fariseu, um saduceu, um muçulmano, um católico, um cristão e, ainda, um de todos os excluídos da sociedade e da religião e das igrejas”, indica.
Daí, explica o nosso entrevistado, a importância de apresentar um cristo totalmente disponível a estar com o homem, independentemente da raça, do sexo, da cultura, da religião, da política.
“Resulta de uma vontade de querer demonstrar que Deus não tem preferências, mas também a necessidade de reconhecermos profundamente que todos somos oprimidos e opressores, sobretudo na nova conjuntura social em que estamos a viver”, indica o Frei.
A presente obra, conforme explica o seu autor, é um incentivo a todos os não crentes, homens de boa vontade, a acolher Jesus Cristo como um paradigma de referência no mundo actual. “O livro tem muito a ver com uma pedagogia cristã do pecador. Muitas vezes nós falamos de masiadamente sobre os pecados, sobre os males, e falamos muito menos dos pecadores, da importância do pecador.
Contributos transversais
Os contributos nesta obra, explica, são transversais a todos os sectores da vida e da sociedade, em concordância com aquilo que é Cristo, que “quer estar em todos os setores da vida humana”.
“Portanto, um cristo que confronta com o hospital, com a escola, com a família, com o comércio e a economia, com a política, com o militar, com a prisão. Um Cristo que tenta se encontrar com o homem pecador, mas também com o homem que é santo, justo, honesto”, avança.
Nesta obra, apresenta um Cristo um pouco além das fronteiras da igreja e recintos religiosos, para que ele esteja, segundo disse, nas mãos e na vida de qualquer pessoa.
“Aí está o valor desse livro, de um cristo que é capaz de comer comigo, estar comigo, mesmo eu sendo um pecador. Jesus Cristo não tem complexo de estar com os pecadores, com os excluídos, com os marginalizados. É um Cristo livre, que convida os homens de hoje também a serem livres e libertadores”, complementa.
Discrepância de valores entre gerações
Para o Frei Bernardino, desde o início do ano 2000 que se está a viver perante um uma forte discrepância moral e social entre as gerações, daí a necessidade de repensar seriamente os valores, quer para a velha, quer para a nova geração.
“Temos que rever todos esses valores sociais para que a nova juventude possa encarar a vida com realismo, mas, sobretudo, com perspectiva. Neste sentido, penso que o livro será um elo de conjunção e de união social, familiar e escolar, entre jovens, adultos, crianças, pais e filhos”, fundamenta.
O frei deixa aos leitores uma mensagem de paz, de justiça e, sobretudo, de fraternidade. “Apesar de sermos diferentes uns dos outros, todos nós somos homens e mulheres, portanto, é o ser humano que deve ser focalizado e nem tanto as nossas conquistas, ideias e pensamentos”, encoraja.
Baseando-se no pensamento de que “é o homem que está em mim que está nos outros”, acredita que, se houver esse entendimento, haverá menos conflitos, menos guerra, menos injustiça, mais paz, fraternidade e tranquilidade. “O Cristo dos Oprimidos”, foi apresentado quinta-feira,26 de setembro, no Salão de Banquetes da Assembleia Nacional, por Lígia Fonseca e Edson Soares.
Sobre Frei Bernardino Lima
Natural da ilha Brava, Bernardino Lima é Frade Capuchinho, doutor em Ciências de Educação com especialidade em psicopedagogia pela Pontifícia Universidade Salesiana, em Roma.
É autor de quatro livros, entre os quais “Psicopedgogia familiar – uma relação de interajuda”, publicado em 2021.
Publicada na edição nº891 do Jornal A Nação, de 26 de Setembro de 2024