Na pacata localidade de Fajã dos Cumes, em João Afonso, interior do município da Ribeira Grande de Santo Antão, uma família vive sob a constante ameaça de um poste de electricidade prestes a desabar sobre a sua residência. A espera pela intervenção da Electra, agora EDEC (Empresa de Distribuição de Eletricidade de Cabo Verde), já dura vários anos, com a situação a agravar-se a cada dia, especialmente durante a época das chuvas.
Desde 2019, Matilde Aniceto e o seu marido António Andrade têm, insistentemente, buscado uma solução para o problema que os aflige: um poste de iluminação que vai desafiando a lei da gravidade, com risco de desabar sobre a moradia do casal. “Já fomos várias vezes à loja da Electra na Povoação, sempre munidos de fotos e vídeos, para mostrar a situação em que vivemos, mas nada é feito”, diz Matilde ao A NAÇÃO.
A frustração do casal é visível e a sensação de abandono e descaso é crescente. Afinal, além dos danos materiais que a queda do poste poderá causar, Matilde destaca os perigos ainda maiores devido aos fios de electricidade, caso o poste venha a cair, especialmente durante as chuvas.
“Uma vez, vieram técnicos aqui, mas tivemos que buscar cordas para amarrar o poste, antes de subirem para fazer o seu trabalho, pois eles não queriam arriscar as suas vidas”, relata António Andrade, evidenciando a gravidade da situação.
Problema Generalizado
Infelizmente, este não é um caso isolado. Nas proximidades, outro poste ameaça cair, também sobre uma residência. “O poste já soltou faíscas várias vezes”, conta uma moradora, preocupada com a instabilidade do poste, que foi danificado pela queda de uma árvore (papaieira).
Para além da situação dos dois postes, segundo moradores, toda a zona encontra-se há anos sem iluminação pública, uma vez que todas as lâmpadas estão danificadas. “Desde Caibros até aqui, não há um único poste com luz. Estamos no escuro há anos”, lamenta Matilde.
Os moradores de João Afonso e arredores sentem-se abandonados pela Electra, que, apesar de ter consertado as lâmpadas no passado, nunca mais voltou, após novos problemas surgirem.
Fajã dos Cumes
Situada na zona alta de João Afonso, Fajã dos Cumes faz parte da freguesia de Santo Crucifixo. Como muitas outras comunidades de Santo Antão, neste caso do concelho da Ribeira Grande, sofre com a perda de população, contando actualmente com cerca de doze casas habitadas, predominantemente por adultos de avançada idade. A principal actividade económica é a agricultura e a criação de gado, voltadas para a subsistência local. Os jovens há muito que deixaram a zona por falta de perspectiva futura.
Ainda sem reacção da EDEC
Este jornal chegou a falar, na segunda-feira, com o responsável da EDEC em Santo Antão, Irlando Ramos, por telefone e, a seu pedido, enviamos um e-mail explicando o conteúdo da queixa. O mesmo prometeu levar o caso aos seus superiores para uma eventual e posterior reacção, mas, até o fecho desta edição (esta quarta-feira), a empresa não se manifestou.
