A Federação de Jornalistas Africanos (FAJ), em parceria com a sua afiliada, a Union Nationale des Journalistes de Côte d’Ivoire (UNJCI), realizou uma conferência continental histórica em Abidjan, Costa do Marfim, que decorreu nos dias 4 e 5 de setembro de 2024.
O evento, intitulado “Amplificando Narrativas Africanas em Justiça Climática: Capacitando Jornalistas para Avançar na Realização da Transição Justa da África”, reuniu líderes de sindicatos de jornalistas de 29 países africanos.
Segundo uma nota de imprensa enviada à nossa redação, a conferência, apoiada pela Mondiaal FNV e pela Oxfam, contou com a participação significativa de sindicatos de jornalistas e defensores ambientais.
O foco das discussões foram os desafios e oportunidades enfrentados pela África na luta contra as mudanças climáticas. Reconhecendo a vulnerabilidade do continente, o encontro destacou a necessidade urgente de uma liderança ativa dos jornalistas na reformulação das narrativas públicas, na exigência de responsabilidade e no impulsionamento da ação climática.
Várias actividades
Conforme a mesma fonte durante os dois dias de evento, foram realizadas sessões interativas e painéis conduzidos por especialistas, abordando temas como transição justa, justiça climática, técnicas avançadas de narrativa e a segurança dos jornalistas que cobrem questões ambientais. Os participantes discutiram como a mídia africana pode moldar efetivamente a narrativa climática do continente e defender políticas de desenvolvimento justas e inclusivas.
Em paralelo à Conferência Ministerial Africana sobre o Meio Ambiente (AMCEN), o encontro desempenhou um papel crucial na formação das agendas climáticas regionais e globais. Entre os principais resultados, destaca-se o reconhecimento da importância de uma transição justa para a África e o papel essencial do jornalismo na promoção de economias equitativas e sustentáveis. As sessões enfatizaram a importância da mídia na criação de empregos verdes e na necessidade de jornalistas africanos liderarem a formação de percepções e influenciar políticas para um futuro mais justo e sustentável.
O presidente da FAJ, Omar Faruk Osman, afirmou que “a narrativa da crise climática na África deve passar rapidamente de uma de vulnerabilidade e desespero para uma de resiliência, oportunidade e liderança”.
Acção decisiva
Ele destacou que a conferência forneceu ferramentas essenciais para que os jornalistas africanos liderem a transformação, posicionando-os como atores centrais no movimento climático global. “Os nossos jornalistas não estão apenas amplificando vozes africanas em plataformas internacionais — eles estão a exigir ação decisiva e equidade para enfrentar os desafios climáticos únicos do continente.”
O presidente do Grupo Africano de Negociadores sobre Mudanças Climáticas (AGN), Embaixador Ali Daud Mohammed, apresentou as prioridades da África para a COP29, ressaltando a importância do papel dos jornalistas na amplificação das narrativas africanas sobre justiça climática e na garantia de que a voz do continente seja central nas negociações globais. Ele reafirmou o compromisso do AGN de colaborar estreitamente com a FAJ e os seus sindicatos filiados, enfatizando a importância dessa cooperação para alcançar resultados impactantes, especialmente na questão da transição justa.
Coumba Diop, Diretora do Escritório da OIT em Abidjan, destacou a importância da mídia na luta contra as mudanças climáticas. Ela ressaltou que os profissionais da mídia são essenciais para moldar a compreensão pública e as narrativas sobre as mudanças climáticas, e a necessidade de ação imediata.
“A influência da mídia vai além de simplesmente relatar eventos; vocês desempenham um papel crítico na educação do público, moldando percepções e impulsionando ações. Podem comunicar os benefícios de uma transição justa, como a criação de empregos, a resiliência económica e a sustentabilidade ambiental, ao mesmo tempo, em que abordam os impactos sociais nas comunidades afetadas.”
Declaração de Abidjan
Um resultado significativo da conferência foi a adoção da Declaração de Abidjan, um documento histórico que pede maior colaboração entre jornalistas, sindicatos e a sociedade civil para ampliar as perspectivas africanas nas discussões climáticas. A Declaração destacou a urgência de promover a transição justa na África, defendendo estratégias de desenvolvimento inclusivas e de baixo carbono que priorizem a criação de empregos equitativos e o crescimento sustentável. Também enfatizou a necessidade de mecanismos de responsabilização robustos para garantir que governos e corporações cumpram os seus compromissos climáticos.
Além disso, foi elaborado um Plano de Ação, fornecendo um roteiro claro para o avanço da ação climática em todo o continente. O Plano enfatiza a importância da conscientização e educação contínuas sobre o clima em todas as plataformas de mídia africanas, garantindo que o público esteja informado sobre as realidades e soluções para as mudanças climáticas. Ele também aborda a necessidade crítica de fortalecer a segurança dos jornalistas que relatam questões ambientais e climáticas, protegendo-os de assédio, censura e ameaças.
A Declaração e o Plano de Ação de Abidjan refletem a determinação coletiva dos jornalistas africanos em liderar a ação climática e defender a agenda de transição justa em todo o continente. Fortalecendo as suas capacidades, os jornalistas africanos estão bem posicionados para moldar narrativas climáticas globais e advogar por soluções que atendam aos interesses da África e do seu povo.