Um cabo-verdiano encontra-se a braços com a justiça francesa, após ter atropelado, mortalmente, um policial na cidade Mougins, sul da França, na segunda-feira,26. Segundo informações avançadas pela imprensa gaulesa, o indivíduo, cabo-verdiano em situação legal e cuja identidade não foi revelada, partiu para cima da vítima, que o havia mandado parar numa operação.
Informações avançadas pela imprensa francesa, apontam que o incidente aconteceu numa autoestrada perto de Mougins, quando o condutor cabo-verdiano ter-se-á recusado a obedecer ao mandado para parar durante uma operação na estrada.
O ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, destacou o trabalho da polícia que prendeu o suspeito na noite de terça-feira em Cannes. “Ele foi encontrado quando havia poucos elementos, por isso, gostaria de agradecer aos gendarmes (GNR), à Polícia Científica e Judiciária que conseguiram encontrar esta pessoa muito rapidamente, às 4 horas da manhã”.
“Estrangeiro regular”
Já o suspeito, natural de Cabo Verde, foi apresentado por Gérald Darmanin como um “estrangeiro regular em solo nacional, que tinha carta de condução, mas que tinha numerosos registos de infrações rodoviárias, nomeadamente, recusa de cumprimento”.
“Esta não é a primeira vez”, revelou o governante, acrescentando que ainda não teve acesso às condenações judiciais precisas, mas que “em diversas ocasiões, durante vários anos, foi um criminoso de estrada”.
“Morreu um pai, vestia o uniforme da República. Estou feliz que ele tenha sido preso, muito rapidamente. Tenho um pensamento para todos os policiais, para Éric Comyn, um policial de 54 anos que tem dois filhos e que morreu de parada respiratória numa área de descanso de uma rodovia porque fazia o seu trabalho para nos proteger e parar um motorista”, disse o ministro.
“A França matou o meu marido”
Num país onde a xenofobia vem crescendo, este caso está a suscitar uma grande comoção em França. Dois dias após a morte de Éric Comyn, a sua esposa participou numa cerimónia de homenagem ontem, em Mandelieu-la-Napoule, cidade onde o marido trabalhava há mais de 30 anos, ela responsabilizou o Estado francês pela tragédia.
“Digo isso em alto e bom som, a França matou o meu marido”, disse a viúva diante de policiais uniformizados e autoridades eleitas reunidas. “Pela sua insuficiência, pela sua frouxidão e pelo seu excesso de tolerância. A França matou o meu marido”, insistiu Harmonie Comyn.
“Como é que esse homem reincidente pode se movimentar com total liberdade?”, questiona esta mãe de dois filhos, enquanto o fugitivo, um homem de 39 anos, tinha dez condenações no seu registo criminal, segundo o Ministério Público de Grasse.
Governo de Cabo Verde condena “ato hediondo”
Entretanto, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Figueiredo Soares, recebeu em audiência esta quarta-feira,28, na Praia, a embaixadora da França em Cabo Verde, Catherine Mancip. Durante o encontro, o Chefe da Diplomacia cabo-verdiana expressou, em nome do Governo de Cabo Verde, “as mais profundas condolências” por esta morte.
Figueiredo, citado por uma nota oficial, asseverou que “tal comportamento é completamente estranho aos valores, aos hábitos e ao modo de estar dos cabo-verdianos, em geral, particularmente da comunidade cabo-verdiana radicada há várias décadas em França, onde a mesma se encontra bem integrada”.
Rui Figueiredo Soares reafirmou o “compromisso” de Cabo Verde com a cooperação internacional e a justiça, sublinhando a importância da continuidade do diálogo e da colaboração entre as autoridades dos dois países “para o devido esclarecimento dos factos”, lê-se.
Lamento de uma cabo-verdiana
“Eu estou super triste, isso mexe muito comigo”, lamentou, por seu turno, no Facebook, Cecília Vicente, uma emigrante cabo-verdiana muito conhecida na França. “Ele se recusou a parar e, infelizmente, acabou numa tragédia com a morte de um policial. Eu não desejo que isso aconteça com ninguém, mas quando acontece com os nossos, ficamos muito mais tristes. Essa situação complica ainda mais a vida dos imigrantes”.
“Coragem para os pais desse rapaz, que devem estar com o coração apertado. Filhos, muitas vezes vocês não pensem só em vocês, pensem na dor das suas mães e pais que dão tudo de si para a educação e para vocês serem alguém na vida. Em momentos como esse, quando pensamos que já vencemos, acabamos sofrendo uma dor sem medida”, completou Cecília Vicente.