Por: Carlos Carvalho
E… foi mais um Carnaval.
Caiu o pano.
Os actores-carnavalescos saíram de cena.
Foi mais do mesmo… anu entra… anu sai.
As mesmas queixas; mesmas mágoas e frustrações; as mesmas promessas e as mesmas expectativas futuras.
Igualmente, os mesmos encantos e desencantos; as mesmas alegrias e, claro, as mesmas tristezas.
Até o próximo Carnaval!!
Para recomeçar… tudo de novo!!
Lição
Até parece que não se aprende a matéria do sumário da lição anterior…i ta skesedu ma ten Carnaval…tudu anu!!
É sempre o mesmo improviso, com promessas tardiamente cumpridas ou não cumpridas…ou ainda cumpridas desajustadamente.
Quem(ns) de Direito parece que só lembra(m) do Carnaval…riba d’ora…quando a procissão já está a sair!!
Como é possível que Grupos que saem…dja na strada…inda ta spera djuda…miseravel…de uns e de outros.
É tanto amadorismo!!
Na forca
Sei que vai cair o Carmo e a Trindade, pós-leitura deste artigo.
Sei…serei concertezamenti crucificado pela maioria…por isto que aqui vou escrever.
Mesmo assim, vou trazer o meu pensamento, minha reflexão sobre o “Meu” Carnaval, contrapondo ao Nosso-Carnaval.
Confesso, à partida, que não sou muito fã do Carnaval. Pelo menos deste Nosso Carnaval.
Alias, não sou muito fã de grandes aglomerações.
Carnaval– Definição
Para melhor argumentar esta reflexão fui consultar o Pai-dos-Burros para perceber a “Definição de Carnaval”.
Não é o Sr. Google, não!!
Fui mesmo ao Pai-dos-Burros.
No alpha-encyclopédie, tomo 3, 1968, dá-se a mais longa definição do que é literalmente “adieu à la chair” (chair: caro, em latim; adieu: vale). E diz que Carnaval é “Período calendário de festividades tradicionais que consistem principalmente em disfarce” tradução livre do francês.
Sobre a origem o alpha-encyclopédie nos leva…imaginem…ao neolito; fala dos principais centros da “brincadeira de Carnaval”, na Europa e na América Latina, claro sobressaindo dentre todos o do Rio de Janeiro pela dimensão que ganhou.
No Dicionário Universal de Língua Portuguesa, 2003, e vários outros Dicionários dá-se mais ou menos a mesma definição: “tempo de folia que precede a quarta-feira de Cinzas; folguedo; orgia (figurativo); Entrudo”.
Igualmente dei-me ao trabalho de ir ver alguns Carnavais que se brincam pelo mundo.
Do Brasil, todos veem, passa em toda a TV que se preze;
Da Colômbia, vizinha do Brasil;
Da Martinica, com uma cultura igual à nossa;
De Angola e Guiné, nó ermons palopianos;
Ba djobi tanbi alguns di Europa.
Todos estes Carnavais têm especificidades próprias, retratando suas respectivas culturas.
O espantoso desses Carnavais é a originalidade…Cultura e identidade pura…que as enformam.
Nosso Carnaval
Confesso.
Nta fika tristi odja nós Carnaval.
Temos uma Cultura rica.
A riqueza e variedade de nossa música, sem falsa modéstia, não fica atrás de nenhuma no mundo.
A nossa morna é única, aliás, é PM.
A nossa coladeira é só nossa.
Igualmente o nosso batuco e funana k são tao sabin…parsen ma é Grace k canta…i bunitu di badjar, em qualquer palco; ouvindo, ninguém aguenta…todos badjan.
Gossi nu djunta kotxi-po, não sei como se dança e cansa ouvir; porém, já é nossa.
Como é bunitu ver…quem sabe dançar a nossa mazurca.
A Tabanca é só nossa.
É podi ti ser PM…um dia…se bem trabalhado o dossier, o que não aconteceu no passado.
Faço mea culpa no falhanço na 1ª tentativa de sua inscrição como Património Imaterial da Humanidade. Éramos inexperientes e não fomos competentes para elaborar um dossier convincente.
Temos as mulheres mais lindas do mundo…disso ninguém tem dúvidas. O CAN foi um grande palco para uma pequeníssima amostra.
E…ninguen ka ta badja sima és.
É um colírio para os olhos…de qualquer humano…ver nossas badjudas desfilando no Nosso Carnaval.
Nossos prosadores compõem só coisas lindíssimas.
Nossos intérpretes cantam coisas bunitas…sima falecida Sara canta.
Então, o que falta para fazermos Nosso Carnaval!!??
O SONHO
Tive um Sonho…não o Sonho do Luther King.
Tive um Sonho de um dia ver…Nosso Carnaval.
Sei que estou dizendo-escrevendo uma heresia.
Sim, sei.
Sei que vai cair o Carmo e a Trindade.
És sa ta ben da riba mi pa mata…mas, tenho o sonho.
Na nossa bazofaria e na nossa nosenteza…até já ouvi que estamos nos aproximando do Carnaval do Brasil.
Porém, sem um pingo de nossa identidade.
Não há ou há muito pouco de nossa cultura no nosso Carnaval.
Salva o Gamal e seu grupo!!
Falamos até em…sambódromo…para parecermos ainda mais com o Brasil.
Paxenxa!!
As músicas dos Carnavais são uma cópia…cá entre nós bastante ruim…do samba-carnavaliado-brasileiro.
Copiamos o rebolar brasileiro…
quando podíamos rebolar ao som de um funana;
deslizar nas ruas…coladeirando;
compassando…mazurcando;
Não!!
Não é difícil fazer isso!!
Vendo o desfilar do Nosso Carnaval-“Brasileiro”…fácil perceber que não é difícil fazê-lo. Criatividade para fazermos Nosso Carnaval não falta.
É só decidirmos “aculturar” nosso Carnaval.
Temas para nosso “Novo Carnaval”
Apesar de só termos 500 anos de existência, temáticas para um “Carnaval-Nosso-mesmo” não faltam.
O Brasil, tal como existe hoje, é mais novo que nós.
E…os brasileiros contam suas estórias-histórias; usam sua cultura, o que os identifica como brasileiros; cantam suas músicas; rebolam sambando, enfim!! vivem, valorizam e promovem sua cultura.
Igualmente, os colombianos com seu Carnaval.
Os nossos irmãos angolanos e guineenses fazem desfilar sua Cultura
E nós!!??
Repito.
Temos uma história curta, mas interessante.
Temos uma Cultura rica e variada.
Tudo isto pode constituir-enformar as temáticas para nossos Carnavais.
Desde a nossa origem…a Odisseia de chegar a estas ilhas desafortunadas
Ao “furtunio” de nelas termos chegado e termos nascido e sermos um povo e uma Nação
Da nossa resiliência como um povo…resistindo às secas e às fomes.
E…o presente
Estou imaginando um cenário carnavalesco, ouvindo Neto cantando Dan Nha Dinheru, enquadrando a reivindicação dos professores por um melhor salário
Vendo as coladeras do D’Novas sendo dançadas nos asfaltos de nossas cidades, num Carnaval
A inovação – Os Mandingas
O nosso Carnaval é hoje o que é.
Só a introdução dos “mandingas” no cenário carnavalesco dá algum ar dalguma originalidade. O fenómeno que nasceu em S. Vicente…espalhou-se pelas ilhas.
Pergunto.
Porque não, pelo menos em Santiago, não inovar introduzindo a Tabanca nos desfiles dos grupos.
A Tabanca tem quase todos os personagens que copiamos do Brasil: Rei da Corte; Rainha; Damas; Cavalheiros; Santos; personagens estranhos como o corbu.
As três grandes Tabancas da Praia podiam perfeitamente enriquecer o Carnaval Praiense.
Enfim!!
Sendo eu responsável cultural, pelo menos abria espaço para esta reflexão.
Day-After
O que é feito de toda a produção artística carnavalesca, pergunto?
Tudu beleza di andoris “dizaparesi”, logo pós-anúncio dos resultados.
O colorido das vestimentas dos diferentes personagens também desaparece.
Porque não em cada ilha, onde mais se brinca o Carnaval, criar “Espaços do Carnaval”, uma espécie de Museus-a-céu-aberto, onde se expõe peças mais emblemáticas dos melhores grupos carnavalescos. As peças ficariam expostos até os preparativos para o próximo Carnaval.
Concluindo
A meu ver, urge refletir profundamente sobre o “Nosso Carnaval”; sobre que Carnaval temos e que Carnaval poderíamos ter e evitando barracas como aquelas dos empates.
Ouvi dizer que o Samba Tropical vai criar um Museu. Sempre original…inovador. Se puder ajudar!!
Este o caminho que, creio, devemos seguir.
Para reflexão dos Carnavalescos e de Quem(ns)-de-Direito.
NB: Ma sima tanbi ka ta intendi nada do assunto, já devo ter escrito um cabazada de asnera…pelo que desde já me penitencio.