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Agravo do Desagravo

Por: Carlos Filipe Gonçalves*

Mário A. Matos, no seu artigo “Desagravo” publicado no “Suplemento Etc.” que acompanha a Edição nº 859 do A Nação | 15 de Fevereiro de 2024, formula a seguinte pergunta, cito: “como compreender um “lapso”, chamemos-lhe assim por enquanto” o que considera ser a omissão do nome de Mário Rui da Rocha Matos (Maiúca) na “entrada” dedicada ao agrupamento musical “Caites” ou “Os Caites” constante do meu livro “Kab Verd Band Música & Tradições” (2023).

Caro amigo, Mário A. Matos, bem-vinda a crítica/sugestão, mas, hás de compreender, as «notas biográficas» contêm apenas dados no essencial, porque num livro como este, com milhares de entradas há um limite de espaço/páginas. Note-se, a «entrada Caites» não tem um «Histórico» no qual se enquadra o reparo que agora fazes, mas sim, um «Percurso». Outrossim, não subestimei o papel do amigo e colega Maiúca, simplesmente, devo dizê-lo claramente, embora sendo fundador (acho melhor «pioneiro») ele teve uma curtíssima estada no referido conjunto, tendo saído antes da afirmação/sucesso do conjunto, eis porque ao longo de anos (percurso) se fixou na memória das pessoas, nas fontes documentais e imprensa da época, os nomes dos integrantes citados por mim.

Caro, Mário A. Matos, devemos ser razoáveis e entender que as informações que indicaste, devem constar de livros biográfico-temáticos, geralmente com muitas fotografias e documentos, que dão a conhecer pormenores da vida de um grupo musical e fazem recordar aos fãs, momentos inolvidáveis. Olha, no que diz respeito ao conjunto West Side (de que sou fundador), na nota biográfica constante nos meus dois livros (indicados) só estão os nomes dos elementos que constaram efectivamente do conjunto ao longo dos dois anos e meio da sua existência. Um dos fundadores do West Side (um grande amigo até hoje) não consta dessa lista, precisamente devido à sua passagem efémera pelo conjunto logo no início; este e outros factos, foram abordados por mim, num outro ângulo num outro livro meu em que tal ocorrência se justifica. E assim, acontece com os mil e um conjuntos que constam desses meus livros. 

Devo por outro lado alertar, o amigo Mário A. Matos não teve em conta no seu artigo o seguinte ponto que escrevi na “Introdução” do meu livro: “Em alguns casos (poucos) sou a testemunha de acontecimentos, apresento factos com o distanciamento e imparcialidade que me são exigidos.” E é justamente, neste ponto, que aproveito para recordar: fui músico e contemporâneo dos “Caites”, assisti à fundação deste conjunto em Abril de 1969; em Agosto daquele ano de 1969, os conjuntos West Side (a que eu pertencia) e Caites, animaram juntos, um baile de estudantes em férias no quintal da Rádio Barlavento, Maiúca que era vocalista e tocava harmónica, viria a sair pouco depois, foi substituído por Jorge Sousa. Quanto a mim, no «Histórico» do conjunto Caites, Maiúca foi um pioneiro, mas teve muito mais importância o «manager» que foi o Sr. Gabriel Borges (também não mencionado) que ao «caucionar» junto do Clube Amarante a compra da aparelhagem e instrumentos do Conjunto Voz de Cabo Verde, deu pernas ao conjunto para andar.

Já agora, para dizer que Mariozinho Matos (teu homónimo e primo) tem lugar num outro livro meu (já finalizado) em que destaco a sua faceta de homem da rádio, aliás como foi o pai Evandro Matos. Eis, para conhecimento do público, um extracto, que consta das “Biografias” no final do referido livro: “Matos, Mário Rui (Maiúca) – Mindelo, 22 de Janeiro de 1952 – Lisboa, 1996. Locutor. Filho de Evandro Matos. Produziu e apresentou o programa “Mocidade em Órbita” nos finais dos anos 1960. Um dos fundadores do famoso conjunto musical Caites, Mindelo em 1969 no qual teve breve passagem, pois, partiu logo depois para estudar em Portugal. Estabelecido em Angola, foi depois de 1975 adido cultural na Embaixada de Cabo Verde em Luanda, colaborou na Rádio Nacional de Angola, onde produziu programas sobre cultura e música Cabo Verde.” 

Neste ponto, cabe manifestar a minha estupefacção, perante o título “Desagravo” e à forma como uma questão tão simples e clara – um dos elementos iniciais dos Caites, que nem fez carreira no conjunto e saiu escassos meses após a fundação – se transforma num repositório contra a minha pessoa e os meus livros (com questionamentos indirectos e subentendidos). Desagravo, significa segundo vários dicionários: acção de reparar uma afronta ou injúria; desafrontar; atenuar. Eis, a causa desse «desagravo» conforme escreve Mário A. Matos: “Fiz notar isso ao Autor (eu, Carlos F. Gonçalves), informando-o que Mário Rui MCP Maiúca, tinha sido fundador e mentor de “Os Caites.” Sinceramente! Já discuti e falei com mil e uma pessoas, sobre mil e um assuntos musicais. Delas recebo mil e uma informações, muitas, publiquei no livro, fazendo questão de indicar os nomes e origem, para valorizar a fonte e credibilizar a informação. Agora, devo dizer claramente, eu também tenho opinião e livre-arbítrio!

Em face do exposto, quem agora sente um “agravo” sou eu, pois, Mário A. Matos em querendo fazer um artigo sobre o primo, poderia muito bem tê-lo feito, sem recurso a uma terceira pessoa (que sou eu) e os meus livros. Agravo, rezam vários dicionários: comportamento ou discurso ofensivo; injúria, afronta. Desculpa, Mário A. Matos, mas, assim entendo muitas linhas do teu texto, que em tom professoral e «pessoalizado» me atiram entre outros mimos, a sugestão: “Se tivesse alguma dúvida da veracidade (?) das minhas informações, porque não consultou Jorge Borges”; ou, então, a afirmação: “A Omissão é tanto mais grave e inexplicável ou melhor que cabe ao Autor explicar, por se tratar de alguém com esses papéis fundamentais!” Com todo o gosto, foi isso que acabo de fazer nesta resposta. Acredita, caro amigo desde a infância, fiquei preocupado pelo teu “(…) desencanto e estranheza nessa insistência por parte o Autor” (que sou eu), por na sua (minha) obra (livros indicados) “o nome de Mário Rui, continuar completamente ignorado!” Como acabo de explicar ao longo deste artigo, este nome não coube nas regras adoptadas para estes livros: “Kab Verd Band Música e Tradições” (2023) e “Kab Verd Band” (2006) … Mas, se houver uma 2.ª edição (que será corrigida e aumentada) prometo, irei focar a minha atenção na «sugestão» feita…, procurarei não quebrar as regras e escrever uma referencia fugaz à fundação do conjunto Caites. 

Enfim, agradeço que Mário A. Matos tenha reconhecido: “Carlos Filipe Gonçalves tem vindo a desenvolver um aturado e minucioso trabalho de pesquisa, de anos, sobre a nossa Música nos seus variados géneros, seus compositores, intérpretes, agrupamentos, etc.” – e ter referido alguns pontos da – “Apresentação (Introdução)” da sua (minha) obra monumental, KAB VERD BAND AZ – MÚSICA & TRADIÇÕES.” Aqui, o amigo Mário A. Matos, esqueceu-se na sua argumentação de um ponto fundamental dessa “Introdução”: “O conteúdo dos textos é baseado em notícias publicadas na imprensa ao longo dos anos, informação recolhida em artigos e ensaios, (…)”, etc. etc.

*Jornalista Aposentado

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