Félix Martins, 44 anos, é deputado municipal em Burela, eleito nas listas do PP – Partido Popular (direita). É o segundo ‘conselleiro municipal’ oriundo da comunidade cabo-verdiana, depois de Angélica Sanches, na lista do PSOE (socialista), em 2011.
Esta filha de cabo-verdianos teve nas suas mãos o pelouro da Imigração. Actualmente é uma profissional na área do comércio. Uma realidade ainda impensável fora de Burela, explica Félix, mesmo se a tendência começa a ser integrar ‘outras cores’ nas listas partidárias da região. Félix nasceu em Burela. Faz parte da geração para quem as ilhas já são mais memória paterna e raiz da cultura do que paisagem familiar.
Uma geração que fala um crioulo ‘agalegado’, com recurso a várias palavras e expressões castelhanas. O pai foi um dos que vieram para trabalhar na fábrica de alumínio, uma empresa estatal espanhola e agora detida por americanos, explica. Os salários no mar eram mais altos e o pai e vários outros santiaguenses entraram na pesca de alto mar. “Na época de ‘bonito’ (atum) ganhava-se bom dinheiro.”
Ao telefone para o A NAÇÃO, conta que fez um curso de formação profissional em Alcaniz, perto de Teruel (Aragão), trabalhou com um tio em Saragoça, numa empresa de casas pré-fabricadas. “A mesma que depois foi para Cabo Verde e esteve na construção do novo aeroporto da Praia” conta.
Chegou à política depois de ter trabalhado também na área do ‘pescado’ e sido jogador de futebol, muito conhecido em equipas locais. Félix foi o número 2 da lista do PP, nas últimas eleições, mas o partido foi ultrapassado pela coligação dos socialistas com o Bloco Nacionalista Galego, que actualmente governam Burela.
Conta que ainda pensaram coligar-se com um partido local, mais à direita que o PP, mas não foi possível o entendimento. Agora, como deputado municipal, tem a seu cargo as matérias relativas à ‘Juventud Y Deporte’ na assembleia municipal e faz ainda parte da comissão de inclusão social e dos estrangeiros da Xunta da Galiza, a nível autonómico.
Enquanto jovem adulto, conviveu de perto com uns vizinhos, a família de um amigo, que o tratavam muito bem e por sua mão, entrou para o PP, deu os primeiros passos na política. Félix não tem razões de queixa e diz que todos respeitam muito o seu trabalho. Muito recentemente veio a Cabo Verde, para acompanhar uma filha de cabo-verdianos, de Burela, que veio fazer um estágio na empresa de águas ANAS, na Praia. “Fiquei muito contente e impressionado com o desenvolvimento do país”, afirma.
Todos os irmãos de Félix nasceram na Galiza e ele confessa que já tem poucos motivos para vir a Cabo Verde. “A minha família está quase toda em Nice, em França, e vamos mais à Suíça, a Portugal, que é muito mais barato”.
Joaquim Arena
Veja na integra no Jornal A Nação edição 883 de 01 de Agosto de 2024