Supostas acções de navios piratas na zona marítima da África Ocidental, incluindo Cabo Verde, estão a alterar as rotas de navegação, aumentando os custos dos transportes e provocando atrasos nas entregas de cargas. Especialista em segurança, José Rebelo acredita que o caso de ataque a um petroleiro a sudoeste da ilha Brava, no passado mês de Maio, poderá ter sim implicações neste sentido.
As embarcações de cargas têm demorado mais tempo para chegar a Cabo Verde, uma vez que têm feito mudanças de rotas, percorrendo caminhos mais longos. Tudo isto para evitarem possíveis acções de navios piratas que poderão estar a atuar nas proximidades da zona marítima cabo-verdiana”, revelou ao A NAÇÃO um operador do sector, sob anonimato, completando ainda que tem havido relatos de ataques a navios nas proximidades do arquipélago.
Conforme o noticiado por A NAÇÃO em 20 de Maio passado, um navio petroleiro foi assaltado, a sudoeste da ilha Brava, indiciando uma presença cada vez mais significativa de piratas na zona marítima da África Ocidental. Esta informação foi, contudo, minimizada pelas autoridades cabo- -verdianas, que alegaram que o referido incidente aconteceu nas águas internacionais, bem longe de Cabo Verde
Porém, é dado adquirido que nos últimos meses, devido à guerra no Golfo e ao conflito que opõe Israel ao Hamas, na Faixa de Gaza, a chamada rota do Cabo (África do Sul) viu renovada a sua importância estratégica. Com base nisso também a pirataria no Golfo da Guiné ganhou novo fôlego, daí o episódio de Maio passado, tendo o caso sido bastante noticiado pela imprensa internacional.
Explicação teórica
Sobre este assunto, abordado pelo A NAÇÃO, José Rebelo começa por dizer que não está na posse de dados concretos que indicam a alteração de rotas dos navios e respectivo impacto na entrega das suas cargas em Cabo Verde, e sua real dimensão financeira. Todavia, acredita que a ocorrência da “acção marítima inopinada” sobre o navio-tanque de produtos petrolíferos com bandeira turca ocorrida a sudoeste da ilha Brava pode, efectivamente, ter implicação sobre esta e outras matérias de “interesse abrangente” quando vistas no quadro da vasta teoria sobre a globalização e segurança.
“A pirataria marítima, que afecta as águas do Golfo de Aden ou o Golfo da Guiné, são sérios problemas e têm causado grandes preocupações para a comunidade internacional e sobretudo às nações que dependem do comércio marítimo nessas áreas”, afirma.
“Cabo Verde está situado na Zona G do Golfo da Guiné. Ainda que, há bem pouco, sem ocorrência de acções marítimas inopinadas do tipo, este acontecimento muda, definitivamente, o cenário para da avaliação de risco ou pelo menos, sua perceção de nível de alerta, na escala de probabilidade que uma ocorrência aconteça”, adverte.
Para Rebelo, mesmo que as autoridades nacionais, “mediante um comunicado tardio”, tenham reportados que tais ocorrências aconteceram fora da zona económica exclusiva, a 700 km do porto do Vale dos Cavaleiros, na ilha do Fogo, “tal facto em nada diminui a preocupação internacional nem a responsabilidade da segurança cooperativa internacional com o qual o país está comprometido, na qualidade de soberania mais próxima da zona da ocorrência, considerando um ato ilícito do caso, a luz da comunidade internacional”.
Leia na íntegra na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 881, de 18 de Julho de 2024