O Grupo Meliã, uma das mais conhecidas cadeias hoteleiras na ilha do Sal, estará a ser vítima de um esquema de fraude interno que envolve quase 40 pessoas, incluindo altos dirigentes e responsáveis de departamentos. A fraude, que se suspeita estar em curso há anos, foi revelada através de uma auditoria interna iniciada na semana passada devido a suspeitas de desvio financeiro.
Segundo informações avançadas pelas fontes do A NAÇÃO, a coordenadora do grupo é suspeita de desviar para contas pessoais os pagamentos de subsídios de turno que eram devidos aos trabalhadores dos serviços operacionais. Não há por ora informações exactas sobre o valor que terá sido desviado, mas nossas fontes falam em “milhares de contos”.
A fraude incluía, conforme relatos dos nossos informantes, a criação de “trabalhadores fantasmas”, cujos salários eram transferidos para contas individuais, prejudicando directamente os verdadeiros funcionários da empresa.
O esquema foi, ainda ao que consta, descoberto pelo actual chefe de Recursos Humanos, que iniciou uma investigação mais aprofundada após denúncias feitas por trabalhadores oriundos da costa ocidental da África, que reclamavam não estar a receber os seus subsídios noturnos.
Sabe-se, entretanto, que o caso já chegou aos tribunais, resultando na apreensão de veículos de um dos responsáveis de Recursos Humanos envolvido e acusações contra outros implicados que teriam adquirido bens de luxo com o dinheiro desviado.
Quanto ao proprietário do grupo, Rob Jarrett, avançam os nossos interlocutores que tem estado ausente por motivos de tratamento médico, isto numa altura em que a empresa enfrenta o risco de falência devido à extensão dos desvios, fora outros problemas. A polícia ainda não confirmou o seu envolvimento nas investigações, mas a situação continua a desenvolver-se.
“Ambiente laboral é opressivo”
Em Julho do ano passado, trabalhadores de diferentes sectores do Grupo Meliã, incluindo Tortuga, Llana e Dunas, davam conta da existência de um ambiente laboral alegadamente opressivo, marcado por desconfiança e tratamento degradante. Estes denunciam a proibição de entrar com bolsas e mochilas, além de serem revistados na saída, o que consideram uma humilhação.
Além disso, reclamam de atrasos no pagamento dos salários, que geralmente ocorre no dia 08 de cada mês, e do não cumprimento das contribuições para a segurança social, deixando-os desprotegidos em termos de assistência médica.
Os trabalhadores também se queixavam da falta de dignidade no ambiente de trabalho, incluindo dificuldades para se alimentarem e beberem água durante o expediente. Afirmaram que muitas vezes ficam com fome porque não podem levar comida ou água, e o refeitório nem sempre oferece comida adequada. Pediram ainda a intervenção das autoridades e do Governo para garantir melhor consideração e respeito pelos cabo-verdianos.
Incumprimentos
Afora isso, em várias ocasiões, este jornal reportou situações como endividamento, não pagamento de dívidas a credores externos, fuga de capitais, além de outros incumprimentos, por parte do Grupo presidido por Rob Jarret. Quase sempre, o visado procurou desmentir os factos, mesmo os referidos e reportados pela imprensa do seu país, a Grã-Bretanha, onde alguns dos seus credores chegaram a recorrer à justiça para reaver os seus investimentos em Cabo Verde, nomeadamente apartamentos e outros imóveis.
Geremias S. Furtado
Publicado na edição nº 878 do Jornal A Nação, do dia 27 de junho de 2024