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Economia

Mindelo, Kavala Fresk Feastival: Já se sente o cheiro…

À medida que o calendário avança para 13 de Julho, São Vicente prepara-se para acolher a 12ª edição do Kavala Fresk Feastival. Uma edição que este ano promete uma “viagem” aos diversos sabores da gastronomia africana. Mas nem todos compartilham do mesmo entusiasmo. Peixeiras, pescadores, pequenos empreendedores e cozinheiros locais expressaram ao A NAÇÃO algumas das suas reticências, no meio da expectativa crescente.

O Kavala Fresk Feastival (KFF), que há mais de uma década traz animação, sabores e temperos ao Mindelo, para o deleite dos amantes da gastronomia, prepara-se para mais uma edição desse evento onde a Cavala reina suprema. A “Mariventos”, organizadora do certame, não esconde que pretende elevar o festival a novos patamares, elegendo desta feita a gastronomia africana como um dos seus atractivos, através uma vasta oferta de sabores e conhecimentos, como nunca visto na ilha do Monte Cara.

Custos de participação

Durante o KFF, que começa por volta do meio dia de 13 de Julho, prolongando-se até à madrugada do dia seguinte, os visitantes poderão saborear peixe na brasa e pratos elaborados com as mais frescas capturas do dia. A organização convida os participantes, isto é, os operadores, a mergulharem na cultura culinária marítima com duas categorias principais de inscrição, cuidando desde já das respectivas inscrições.

Na primeira categoria, destinada aos entusiastas do ‘Peixe na Brasa’, aqui, a inscrição é de 15 mil escudos, no espaço da Rua da Praia até a rotunda do Pássaro (Posse). Já a segunda categoria, para os restaurantes que desejam exibir suas especialidades no ‘Peixe na Prot’, o palco será a Avenida, da Marina até ao parque da Enapor, sendo a inscrição a 30 mil escudos.

Para além disso, haverá ainda uma sessão especial de “diplomacia gastronómica” que convidará um chefe renomado do continente africano para apresentar sua visão criativa através de uma variedade de pratos a partir da cavala. É, pois, uma forma de internacionalizar o KFF, conforme se depreende daquilo que se vai dizendo e ouvindo de mais este atractivo para São Vicente e sua cidade, Mindelo, que já conta com vários eventos, sobretudo durante o Verão.

Festa dos sentidos

Mas o Kavala Fresk Feastival não é apenas um deleite para o paladar. A organização anuncia uma festa para os sentidos através de um programa diverso, com actividades culturais vibrantes, como música ao vivo e exposições artísticas, recreativas (passeios de barco), corrida de botes, entre outros itens. Nomeadamente, workshops e laboratórios interativos, oferecendo uma experiência rica e multifacetada para todos os presentes.

Gente preocupada e vozes dissonantes

À medida que o 13 de Julho se aproxima, data do Kavala Fresk Feastival, não são apenas os preparativos que fervilham na cidade do Mindelo. Muito ao gosto dos mindelenses, que nestas coisas têm sempre uma ressalva a fazer, a Mariventos encontra-se no centro de uma controvérsia: peixeiras, pescadores, vendedeiras ambulantes e até mesmo chefes de cozinha de renome expressam suas inquietações em relação ao Festival deste ano. Alguns chegam a dizer-se discriminados, como é o caso da Associação das Peixeiras de São Vicente.

A presidente dessa agremiação, Eloisa Mota, entende que o KFF passa ao largo dos benefícios económicos para as peixeiras, transformando-se em mais um dia comum de trabalho, ainda por cima, sem reconhecimento ou ganhos adicionais.

Mota acusa a organização do KFF de relegar a Associação das Peixeiras a uma tenda marginalizada, longe do epicentro da actividade e do fluxo de visitantes.  Além disso, a falta de acesso à energia eléctrica nos anos anteriores é um obstáculo adicional mencionado pela entrevistada do A NAÇÃO.

Como alega, a Associação das Peixeiras tem sido forçada a adquirir gelo para manter seus produtos frescos, um custo extra e um desafio logístico que pesa sobre os ombros das trabalhadoras. 

Este ano, apesar dos desafios anteriores e da consideração inicial de não participar, a promessa de fornecimento de energia eléctrica pela Mariventos renovou o interesse de algumas associadas. Mesmo assim, Eloisa Mota critica o custo elevado da tenda – 15 mil escudos – um valor que considera exorbitante para uma organização sem fins lucrativos que busca angariar fundos para apoiar as peixeiras de São Vicente.

Pescadores não lucram

Neste mar de ressalvas, os pescadores locais também sentem que o festival não lhes traz benefícios tangíveis. Para o presidente da Associação dos Pescadores de S. Pedro, “são os armadores dos barcos de pesca industrial que colhem os frutos” do KFF, “conseguindo ir mais longe na captura”.

Luís de S. Pedro destaca ainda um problema crescente que é o afastamento do pescado da costa, um desafio que complica ainda mais a vida dos pescadores artesanais. Apesar disso, ele menciona que os pescadores vão participar das actividades desportivas e lúdicas do festival, como a corrida de botes e a prova de natação.

Jovens reclamam oportunidades

No fervor do Kavala Fresk Festival, uma outra questão emerge das cinzas: a luta dos jovens talentos por reconhecimento e oportunidade. Luísa Fonseca, uma cozinheira de 42 anos, com vasta experiência, é porta-voz dessa inquietação.

Ela apontou ao A NAÇÃO o alto custo das licenças e espaços no evento como barreiras que sufocam as aspirações da juventude culinária. “O festival coloca os jovens em desvantagem, favorecendo apenas aqueles que já têm um nome estabelecido no mercado – como restaurantes e hotéis”. 

Mas não são apenas os jovens a reclamar. Um operador da praça disse ao A NAÇÃO preferir não aderir ao festival, onde, para se obter lucro, uma casa ou um particular terá de vender no mínimo entre os 250 e 350 mil escudos, o que para essa fonte não será de todo fácil para um evento de 14 horas. 

João A. do Rosário

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