Pela lente do fotógrafo francês Dominic Robelin, o quotidiano das mulheres apanhadoras de areia da Ribeira da Barca, na ilha de Santiago, estará presente, de 1 de Junho até 30 de setembro, numa exposição pelas ruas dos municípios de Guilvinec e de Lechiagat, da Finisterra, na Bretanha francesa. O festival “O Homem e o Mar”, de acordo com a organização, é um “convite à viagem por paisagens da Córsega, Irlanda, Estónia, Açores, mas também com passagem por Cabo Verde, Sri Lanka, Tailândia, Coreia e Indonésia.”
“Elas têm os pés na água, os rostos expostos aos respingos do oceano, como guerreiras”, assim são descritas as apanhadoras de areia, da praia da Ribeira da Barca, no catálogo de apresentação. “Na pequena vila piscatória, ao final do dia, as mulheres reúnem-se para cantar a sua onda emocionante ao ritmo do batuque, um estilo musical, tanto de canto quanto de dança, legado dos tempos da escravatura. Na praia de areia preta, mães e filhas lutam diariamente para ganhar a vida recolhendo areia, muitas vezes em detrimento da saúde”.
Uma prática ilegal que serve para alimentar o mercado da construção. “Elas conduzem um balê incessante entre o mar e a praia, transportando cargas pesadas enquanto tentam evitar serem arrastadas pelas ondas. De início, a areia foi recolhida na praia. Mas à medida que avançavam, tiveram de recorrer a homens para recolherem a areia mais longe, no fundo do mar, com a ajuda de pás.”
Dominic Robelin chegou ao Mindelo em 1999 e decidiu instalar-se em São Vicente, onde nasceu a sua filha. Produziu retratos de artistas cabo-verdianos para o mercado discográfico, capas de CDs, e fez reportagens sobre o quotidiano das mulheres das ilhas. Colaborou ainda em documentários televisivos (Thalassa: Uma temporada nas ilhas de Cabo Verde; Não deve sonhar: Cabo Verde, as ilhas do tesouro, France Television). É autor de várias exposições e de livros de fotografias sobre as ilhas de Cabo Verde. Em 2022, apresentou a série Havana no off-festival Rencontres de la Photographie, em Arles, França.
João A. Rosário