O MIT Global Seed Funds seleccionou, pela primeira vez, numa competição internacional de financiamento, um projecto de investigação de Cabo Verde. Elaborado por Raffaella Gozzelino, em colaboração com outros profissionais da diáspora, esta é a primeira vez de um país africano de língua portuguesa a ter uma presença do MIT.
O 6MIT – África, do Massachusetts Institute of Technology (MIT) foi implementado em Cabo Verde em 2023, enquanto primeiro país africano de língua portuguesa a estabelecer esta parceria. Tem na sua base um programa de mobilidade que visa integrar estudantes e investigadores do MIT em projectos de investigação conduzidos por instituições africanas.
O estudo, conforme Raffaella Gozzelino, antiga reitora da Universidade Técnica do Atlântico (São Vicente, Cabo Verde) será co-liderado pelo investigador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Jacquin Niles, director do Centro de Saúde Ambiental do MIT, e pelo também cabo-verdiano Luís Barros, professor na Escola de Gestão de Negócios do MIT (MIT-Sloan School of Management).
Informações que coadjuvaram a elaboração da proposta financiada foram também compiladas pela estudante do MIT Cindy Xie, que se deslocou para a cidade da Praia no verão passado para a realização de um estágio.
Mudanças climáticas e novas doenças
Análises observacionais, referentes às alterações climáticas que afectam o arquipélago e o estado de saúde da sua população, sobretudo em matéria de doenças transmitidas por vectores, farão parte de uma investigação. Esta abrange os aspetos ecológicos e evolutivos dos mosquitos, actualmente estudados na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.
A pesquisa, que será desenvolvida também neste arquipélago, visa avaliar o impacto das mudanças climáticas na saúde e no (re)aparecimento de doenças, sobretudo infecciosas e vetoriais, que nos últimos anos, devido ao aquecimento global, aumentaram em quase 60%.
“Os resultados preliminares que deram origem à formulação das hipóteses, que fundamentam o estudo, foram obtidos em investigações básicas e pré-clínicas, conduzidas no laboratório dirigido por Raffaella Gozzelino na NOVA Medical School, em Lisboa. Ulteriores vertentes irão ser exploradas em modelos animais de ratinhos, permitindo validar nesses últimos modelos preditivos de doenças, baseados em dados que serão recolhidos em Cabo Verde”, informou o núcleo de investigação.
O estudo contempla ainda a participação de Jacquin Niles, do MIT, em análises bioquímicas à base dos fenómenos evidenciados, cujos dados serão convertidos, pela equipa, em instrumentos digitais úteis para a visualização de possíveis cenários de (re)aparecimento de doenças.
Suporte na tomada de decisões
Os resultados deverão merecer a atenção das entidades competentes, nomeadamente do ambiente e da saúde, com base em evidências científicas que possam fundamentar o processo de tomada de decisão e a elaboração de planos de preparação contra ameaças ambientais que impactam o bem-estar dos cabo-verdianos.
Isso vai permitir ainda beneficiar Cabo Verde com colaborações e abrir as portas a novas fontes de financiamento, cujas propostas já estão a ser elaboradas pela equipa ganhadora.
No verão deste ano, conforme avança a equipa, o MIT/ MISTI-Africa Programme prevê a integração, a partir do final de Junho, de estudantes do MIT em empresas privadas já identificadas, dando a oportunidade também a este setor de estabelecer parcerias que poderão proporcionar soluções inovadoras aos desafios encontrados.
Contribuição produtiva da diáspora
A afirmação deste programa em Cabo Verde foi possível graças à contribuição e assistência dos investigadores Raffaella Gozzelino e João Resende-Santos.
O estudo, conclui a nossa fonte, é um exemplo da participação activa e contribuição produtiva da diáspora na área de conhecimento e investigação avançada, que tem como lema a partilha de conhecimento e empoderamento das competências.
Da diáspora cabo-verdiana enraizada na Europa, Raffaella Gozzelino é “group leader” na NOVA Medical School, Universidade NOVA de Lisboa, professora convidada na Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, consultora internacional e fundadora da Diáspora Mundi, uma rede de profissionais da diáspora qualificada que prestam serviços em vários domínios científicos, aos seus países de origem.
O MIT
Reconhecido internacionalmente pela sua excelência em ciência e tecnologia, o MIT posiciona-se como a melhor universidade do mundo, de acordo com o QS World University Rankings 2024. Os seus 30 departamentos das cinco faculdades e um instituto já produziram mais de 100 Prémios Nobel e uma média de 300 patentes anuais.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 872, de 16 de Maio de 2024