Neusa Sança, vereadora pelas áreas da Administração Autárquica, Gestão de Recursos Humanos, Atividades Lúdicas, Mercados Municipais e Feiras de São Vicente, refuta as críticas relativas à situação das peixeiras e atraso nas obras de requalificação do mercado de peixe do Mindelo. Eleita pela UCID, na sua resposta ao artigo recente do A NAÇÃO sobre o assunto, Sança não poupa o edil Augusto Neves por, alegadamente, “bloquear” a acção do seu pelouro, e “dos restantes da oposição sendo tal do conhecimento da opinião pública”.
Eleita pela UCID, e profissionalizada a meio tempo, Neusa Sança refuta a ideia de falta de espaços no mercado de peixe, razão apontada pelas peixeiras para venderem pelas ruas do Mindelo. Conforme diz, mesmo com as obras de recuperação do mercado, há espaços no local, “se não há para todas, há pelo menos para uma boa parte delas”.
Admitindo o atraso na conclusão das referidas obras, que se arrastam há mais de quatro anos, a vereadora reconhece que realmente o primeiro projecto, de “requalificação” e aposta na conservação, era do anterior mandato, e que inicialmente era para ser concluído em seis meses. “Neste particular as peixeiras têm razão”, afirma. “A culpa do atraso não pode ser nossa”.
Independentemente disso, no seu esforço de tentar colocar a vendedeiras em espaços adequados, a entrevistada do A NAÇÃO revela que que desde que assumiu o seu pelouro que tem efectuado encontros periódicos com as mesmas e sempre na presença do responsável do mercado e da associação que representa a classe das peixeiras.
“Não tem sido fácil regular o comércio informal de uma forma geral”, enfatiza, estendendo o problema a outros sectores ligados ao comércio informal. “O pessoal tem sido pouco colaborativo”, frisa.
Não é correcto comprar na rua
Como afirma também, o pelouro que dirige definiu a actuação sobre a regulação do comércio informal em quatro pontos assentes na Saúde Pública, Organização da Cidade, Segurança das Pessoas e Higiene Urbana. Acrescenta ainda que manteve encontros com parceiros, entre os quais, a Policia Nacional, Forças Armadas, bem como a fiscalização da CMSV, na altura, tendo-se definido um plano de atuação.
Infelizmente, “na ausência de uma Polícia Municipal a implementação desses quatro pontos revelou-se difícil de concretizar”, reconhecendo entretanto que o assunto está de novo em agenda com a criação da referida polícia.
Um outro problema, acrescenta, é o de sensibilização de os utentes para que não comprem na rua peixe, frescos e outros produtos facilmente perecíveis. “A nossa ideia é mostrar aos munícipes é que isso não é correcto, para além de ser um atentado à sua saúde e dá um aspecto de desorganização da cidade”.
Novo mercado de peixe
Em relação ao novo projecto do mercado de peixe para substituir o de requalificação desse espaço, a entrevistada do A NAÇÃO avança de que este é “mais estruturante”, mas que, infelizmente, “ainda não tem data prevista de início e término”.
“Trata-se de um projecto do Governo de Cabo Verde, através do Ministério do Mar, e financiado essencialmente pelo Banco Mundial. Caso a obra for avante, São Vicente terá um espaço mais condigno para a venda de pescado, com forte aposta na qualidade e na conservação aliada à vertente turística”, acredita.
Propostas recusadas
No seu desabafo ao A NAÇÃO, Neusa Sança revela que, para a melhoria das actividades sob a responsabilidade do seu pelouro, fez propostas concretas no plano de actividades de 2022 e 2023, sem sucesso.
“No máximo o que conseguimos, por nossa sugestão, foram alguns reparos do mercado do Monte Sossego, onde se fez a ligação de água com a construção de um reservatório, bem como uma entrada com rampa para a inclusão do deficientes motores. O mesmo trabalho está a ser feito no mercado da Ribeirinha, embora neste caso a um ritmo muito lento”, admite.
Uma outra questão, não menos importante, como refere Neusa Sança, é a gestão municipal dos espaços públicos de venda em São Vicente. “A falta de pagamento por parte das pessoas que ocupam os espaços nos mercados cria-nos vários constrangimentos. Por causa disso estamos na iminência de fechar as portas, de algumas barracas, devido a dívidas e trespasses, ou alugueres que alguns fazem indevidamente”.
Um exemplo disso é o que se passa na Praça Estrela, o “sucupira” do Mindelo, onde foi necessário proceder a uma intervenção presencial, com audiências semanais durante um ano. “Fizemos alguns planos de pagamento, mesmo assim, há vendedores que continuam sem cumprir. E caso não cumprirem seremos obrigados fechar as barracas, mas ainda estamos a deixar as coisas como estão para ver se pagam”.
Em relação às feiras, a CMSV, segundo a nossa entrevistada, vem pensando uma melhor forma para regular o sector, nomeadamente a dos domingos no mercado da Ribeirinha e o desembarque das mercadorias às segundas, quartas e sextas-feiras, dos carros de verduras que vêm de Santo Antão.
Bloqueios
Uma das principais reivindicações da vereadora tem a ver com dificuldades de implementar as actividades previstas no plano de acção da CMSV. Uma situação não alheia à discórdia que tem marcado a vida do poder local em São Vicente, por falta de entendimento entre o autarca Augusto Neves (MpD) e os vereadores da UCID e do PAICV.
“Mesmo quando não estávamos em regime de duodécimos alegava-se sempre a falta de dinheiro”, lamenta Neusa Sança. “O meu pelouro sempre teve bloqueios e sempre com a desculpa ou alegação da falta de dinheiro”, lamenta.
Aqui Neusa Sança aponta o dedo ao edil Augusto Neve, por “impedir” a acção do pelouro da Gestão Municipal, Administração Urbana, Mercados e Feiras de São Vicente, “mesmo quando a Câmara não estava sob o regime de duodécimos”.
Mesmo assim, para concluir, Neusa Sança diz que tem procurado cumprir a sua missão em nome dos eleitores e munícipes. “Só não fazemos mais porque faltam-nos os meios”, desabafa, dizendo que tudo poderia ser melhor caso houvesse entendimento e entrosamento entre as forças que compõe a Câmara Municipal de São Vicente – MpD, UCID e PAICV – o que não tem acontecido, como é do domínio público.
João A. Rosário