Os “hiacistas” do Calhau clamam por melhores condições da estrada que liga ao centro do Mindelo e dizem temer pela segurança da própria vida e a dos passageiros. Com o aproximar das próximas eleições autárquicas, previstas para final deste ano, esses cidadãos dizem já não se surpreender com a informação de que as obras vão arrancar em breve… Em meados deste ano.
Os motoristas que utilizam a estrada Ribeira de Calhau-centro do Mindelo podem vir a ter melhores condições para a circulação naquela via que há muito se encontra esburacada e sem condições de um trânsito tranquilo e seguro.
A NAÇÃO apurou junto de uma fonte fidedigna que a requalificação dessa rodovia vai iniciar em breve, muito provavelmente entre os meses Junho e Julho. A Armando Cunha será a empresa a executar a obra, cujo concurso de adjudicação aconteceu há dias, em Março passado, tendo a mesma vencido por apresentar um orçamento de cerca de 445 mil contos, sem IVA, o que somado irá totalizar mais de meio milhão de contos.
Reclamação antiga
Situada a 18 km do centro do Mindelo, Ribeira de Calhau é um dos principais fornecedores de frescos, queijo e pescado à ilha, com potencial para o turismo de sol, praia e de montanha. A 4 km para o sul da localidade fica a cratera do vulcão de Viana, extinto. A norte se encontram outros cones de vulcões igualmente extintos. Uma parte de área de aldeia enforma o Parque Natural do Monte Verde, sendo constituída por nove pequenos povoados, zona onde se produz queijo de leite de cabra.
Guilherme Cruz – Hiacista
A estrada de 18 km foi construída em 1991 e há muito reclama por obras, conforme os condutores e moradores ouvidos pelo A NAÇÃO. O hiacista Guilherme Cruz, “Gui”, que disse ser um cidadão livre, respondeu abertamente a todas às nossas perguntas, deixando transparecer o seu descontentamento com o arrastar da situação.
Além de classificar de péssimo o estado da estrada, Gui diz que as condições pioram a cada vez mais, sobretudo, após a queda das chuvas como tem vindo a acontecer nos últimos três anos. “Passo a maior parte do meu tempo a denunciar a situação, mas ninguém faz nada. Se houver mais alguma chuva, nos próximos tempos, a estrada fica totalmente cortada, sem condições de circulação”, lamenta este utilizador da estrada do Calhau, feita grande parte por pedras de calçada.
A mesma opinião tem o seu colega Luís Livramento. “A estrada está péssima. Quando chove é um problema”, diz.
Luís Livramento – Hiacista
Os nossos entrevistados acabaram ainda por criticar a Electra e a Telecom (alou) que, conforme dizem, por altura de reparações nos cabos, deixam partes da estrada danificada, sobretudo, nas bermas.
“Há locais na estrada que não dispõem de bermas para os peões andarem. O perigo maior é à noite, mas isto é coisa que as autoridades não querem ver”, desabafa Livramento. “Calhau está abandonado, pelo governo e pela Câmara Municipal em todos os aspectos”, acrescenta.
Armindo Brito, um outro hiacista, não só subscreve a informação prestada pelos colegas, como garante que desde que foi construída, em 1991, a estrada nunca teve qualquer intervenção. E no estado em que se encontra, não tem dúvida: “Esta é a pior estrada de Cabo Verde”.
Nova campanha eleitoral
Armindo Brito e os seus colegas, bem como alguns moradores do Calhau, não acreditam que a requalificação da via está para breve, por entenderem ser esta mais uma “propaganda eleitoral” para o período que se avizinha. “Há mais de dois anos que nos disseram que havia verba para a requalificação da estrada e no entanto nem uma máquina vimos para retirar pelo menos os montes de terra e os deitarem nas bermas que lá estão um perigo”, disse.
Armindo Brito – Hiacista
Esperançoso, Valdemar Santos, que já vai em mais de 25 anos de trabalho como condutor, diz que se a estrada for realmente reparada ficaria muito satisfeito. “Mas já nos prometeram isto tantas vezes que chega um momento em que deixamos de acreditar”, desabafa.
Quais gatos escaldados, as fontes desta reportagem consideraram que, com o aproximar das eleições autárquicas, uma vez mais, todos os projectos de obras vão começar a sair da cartola e que a estrada Cidade do Mindelo-Calhau faz parte dessa estratégia habitual, de caça aos votos, que aí vem.
É o caso de Emílio Spencer que alega que a reparação da estrada do Calhau é uma promessa feita pelo MpD para as legislativas de 2016, juntamente com a construção de raiz da estrada Lazareto-Calhau, mas que nunca saiu do papel.
Valdemar Santos – Hiacista
“É sempre assim, lançam as primeiras pedras, passam as eleições e ficamos à espera da segunda pedra para as vésperas das eleições seguintes”, finaliza, dizendo não saber por que razão as pessoas continuam a votar.
Pouco movimento
A viagem centro do Mindelo e Ribeira de Calhau custa 120 escudos por passageiro, e, dada a pouco afluência, os hiacistas dizem que passam a maior parte do tempo nas paragens à espera de clientes. E o que ganham mal dá para cobrir as despesas, tendo ainda por cima, volta e meia, que reparar as respectivas viaturas por causa do mau estado da rodovia.
Paragem Praça Estrela
Alou responde
Contactada por esta reportagem tendo em conta as acusações de danificar a estrada, a Alou (antiga CV Telecom), em São Vicente, esclareceu que se as bermas estão danificadas não por culpa sua, mas devido às chuvas. A empresa alega que a sua última intervenção ao longo da estrada do Calhau foi há cerca de quatro anos, pelo que estranha as acusações dos motoristas.
Já em relação à Electra, os contactos estabelecidos resultaram infrutíferos, tanto por via telefone como através das redes sociais.
João A. do Rosário
