Por: Santa Clara*
Nas rotas dos tubarões azuis
A inédita e boa prestação na CAN-2013, em Joanesburgo (quartas-de-final), foi e é – sem dúvida – o ponto máximo até hoje alcançado por Cabo Verde em competições grandes. Justamente por isso, na edição seguinte – CAN-2015, na Guiné Equatorial – a Confederação Africana de Futebol (CAF) colocou os insulares no seio da nata do futebol africano, num claro reconhecimento dos Tubarões Azuis, enquanto uma das melhores selecções de África.
Os cabo-verdianos ficaram justamente onde já estavam as 10 selecções africanas mais bem posicionadas no ranking da FIFA. São elas as Super Águias da Nigéria (Campeã em título – CAN-2013), os Etalons do Burkina Faso (Vice), os Elefantes da Costa do Marfim, os Gaviões do Togo, as Águias do Mali, os Bafana-Bafana da África do Sul, os Leopardos da República Democrática do Congo (RDC), os Chipolopololo da Zâmbia, as Águias Cartaginesas da Tunísia e os Black Stars do Gana.
Sim, porque a CAF estipulara que das 51 selecções envolvidas nestas eliminatórias, qualificar-se-iam, automaticamente, para a fase de grupos as 21 melhor classificadas no ranking. E Cabo Verde era uma delas – 11ª posição. As restantes estavam obrigadas a passar pelo crivo de pré-eliminatórias, de onde outras sete melhores sairiam para se juntarem às já referidas 21 na disputa da fase de grupos.
Cabo Verde + 15
O sorteio, tendo em vista a formação dos grupos de onde sairiam os 16 apurados para a finalíssima da Guiné Equatorial, viria a ser realizado a 10 de Março de 2014, em Rabat, durante a Assembleia-geral da CAF. Cabo Verde calha no Grupo F, conjuntamente com Moçambique, Zâmbia e Níger.
Agora com o antigo internacional português Rui Águas no comando técnico, os Tubarões Azuis saíram-se muito bem nestas preliminares, sendo a primeira selecção nacional a qualificar-se, a duas jornadas do fim, para a finalíssima da Guiné Equatorial. Na verdade, foram ao Níger vencer os Menas (1-3), derrotaram na Praia os zambianos (2-1), perderam em Moçambique, frente aos Mambas (2-0) e, na desforra, no Estádio Nacional, na Praia, foram eles a vencer (1-0); voltaram a derrotar os Menas, agora na Praia (3-1) e foram à Zâmbia perder (0-1), quando já estavam apurados. Um score de três golos, entre marcados e sofridos: 9-6(+3).
Seguiram, então, para Malabo, 23 atletas, todos a militar no exterior. Guarda-redes: Vozinha (Progresso Sambizanga, Angola), Ivan Cruz (Gil Vicente), Ken (Nacional da Madeira); defesas: Kay (Belenenses), Carlitos (Limassol, Chipre), Nivaldo (FC Teplice, Rep, Checa), Fernando Varela (Setewart Bucarest, Roménia), Stopira (Videoton, Hungria), Jeffrey Fortes (Dordretch, Holanda) e Gegê (Marítimo); médios: Babanco (Estoril), Sérgio Semedo (Olhanense), Platini (CSKA Sofia, Bulgária), Nuno Rocha (Universidade de Craiova FC, Roménia), Tony Varela (Excelsior, Holanda), Calú Lima (Progresso Sambizanga, Angola); avançados: Djaniny (Santos Laguna, México), Júlio Tavares (Dijon, França), Ryan Mendes (Lille, França), Heldon (Sporting Clube Portugal), Garry Rodrigues (Elche, Espanha), Kuca (Estoril) e Odair Fortes (Stade de Reims, França).
Estava agora tudo a postos para o torneio – 17 de Janeiro a 8 de Fevereiro de 2015 – com outras 15 selecções já apuradas para a operação Guiné Equatorial: os Vermelhos da Guiné-Equatorial (anfitriões), os Bafana-Bafana, os Diabos Vermelhos do Congo Brazzaville, as Raposas do Deserto argelino, as Águias do Mali, os Panteras Negras do Gabão, os Etalons do Burkina Faso, os Leões Indomáveis dos Camarões, os Elefantes da Costa do Marfim, os Black Stars do Gana, os Syli da Guiné Conacri, os Leopardos da RDC, as Águias Cartaginesas da Tunísia, os Chipolopololo da Zâmbia e os Leões de Teranga do Senegal.
O anátema dos empates que mandam Cabo Verde para casa mais cedo
O sorteio de 2 de Dezembro de 2014, realizado no Centro de Convenções de Sipopo, em Malabo, para este torneio da Guiné Equatorial, colocou os Tubarões Azuis no Grupo B, um grupo de gigantes, onde estavam três ex-campeões africanos: a RDC (CAN-1968 e CAN-1974), a Tunísia (2004) e a Zâmbia (2012). Encontro marcado para o Estádio de Ebebiyin, com capacidade para 5 mil espectadores, um recinto bem menor que o Estádio da Várzea (8 mil) e um terço da capacidade do Estádio Nacional de Cabo Verde (15 mil).
Os Tubarões Azuis chegaram a esta finalíssima com fama de selecção ganhadora, mas não de selecção que marcava – sempre e muito – fora do seu reduto. Não tinham marcado, nem em Maputo (2-0) nem em Lusaca (1-0), embora tenham feito um bom ensaio em Niamey, onde haviam facturado por três vezes (1-3), nas pré-eliminatórias.
2 de Dezembro de 2015, início do torneio. Estranhamente, Cabo Verde continuou tímido, com a tendência de pontaria desafinada, agora na Guiné Equatorial, protagonizando no Estádio de Ebebiyin, o palco dos jogos do seu grupo, um autêntico festival de empates. É certo que não perdeu um único jogo, mas também não ganhou nenhum. Pior, marcou um único golo em três jogos, acabando por comprometer a sua continuidade na fase seguinte: 1-1 frente às Águias de Cartaginesas da Tunísia; 0-0 diante dos Leopardos da RDC; 0-0 no confronto com os Chipolopololo da Zâmbia.
Uma autêntica maldição de nulos, com uma crise de golos, que faria com que os Tubarões Azuis regressassem à casa mais cedo.
2015. Estádio de Ebebiyn. Jogo Cabo Verde X Zâmbia (0-0) – uma chuva quase torrencial dificultou o jogo, tanto para os Tubarões Azuis como para os Chipolopololo. Tony Varela, à esquerda, persegue o couro, entretanto, sob domínio do adversário.
Cabo Verde afundou-se na banheira de Ebebiyin. Na memória, a derradeira partida, debaixo de uma chuva torrencial, a cântaros, no jogo fatal frente à Zâmbia. Com os olhos postos nos congoleses – seus adversários directos à única vaga ainda em disputa – os Tubarões Azuis entraram com a faca nos dentes, pois, precisavam ou vencer ou empatar frente aos zambianos, por mais do que um golo. Mas acabaram por fazer um nulo (0-0), perdendo a corrida para os Leopardos da RDC, estes sim, embora com igual número de pontos resultantes de igual número de jogos e empates, tinham na sua conta mais um golo, o tal goal-average de ouro. Conjuntamente com a Tunísia, a outra selecção apurada do grupo, os Leopardos da RDC seguiram para as quartas-de-final. Era o fim para os Tubarões Azuis, era tempo de baralhar e voltar a dar as cartas.
E aqui vale o axioma “morte na praia”.
*Pseudónimo de José Mário Correia
Na edição Nº844, de 02 de Novembro de 2023, pode-se ler no título: “O terrível jogo das meias-finais, frente ao Gana, na CAN-2013”, quando, na verdade, o correcto seria: “O terrível jogo das quartas-de-final, frente ao Gana, na CAN-2013”. Na próxima edição, recordo o dia em que a selecção de Cabo Verde derrotou a selecção de Portugal, num duelo épico entre Rui Águas e Fernando Santos. Escreva-me:
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