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Cultura

Cláudia Sofia, cantora mindelense defende Castração química para violadores de menores e prisão perpétua para assassinos de mulheres

Cláudia Sofia, de 29 anos, tem na forja o lançamento de mais um videoclipe, “Dalina”, parte de uma carreira em construção, a partir de sonoridades que fogem do habitual. Esta antiga estudante de direito, em entrevista ao A NAÇÃO, mostra-se revoltada com o “feminicídio” e a violência sexual contra os menores no país. E, contra isso, defende a castração química para os violadores de menores e prisão perpétua para os assassinos de mulheres.

Mas é da música, em primeiro lugar, que devemos começar. Após o lançamento da composição “Monte Cara” e de outros clipes disponíveis nas plataformas, Cláudia Sofia diz estar a aguardar, com alguma ansiedade, pelo lançamento do seu próximo trabalho que deverá acontecer muito em breve, com gravações em estúdio e em DVD. Como adiantou ao A NAÇÃO, falta apenas a colocação das vozes, mostrando-se expectante em relação a este novo desafio, no momento em que se sente confiante e esperançosa, mesmo sabendo que no mundo da música não basta inspiração e transpiração.

“Encontro-me na descoberta da minha própria pessoa no sentido de encontrar e definir o meu próprio estilo musical”, diz. “Os artistas em São Vicente são sobreviventes, pelo que têm de se adaptar e cantar um pouco de tudo e de diferentes estilos”, e é o que tem feito…

No seu caso, a música que toca e interpreta traz já em si uma fusão entre géneros tradicionais, como a morna e a coladera, com o jazz e o flamengo. Na busca da sua sonoridade tem trabalhado também com a bandeirona da ilha do Fogo, o batuco de Santiago e o colá-sanjon de Santo Antão.

E nessa “busca” do seu próprio caminho e do seu estilo, a entrevistada do A NAÇÃO enfatiza o facto de 2018 para 2024 ter acontecido na sua vida artística, um processo evolutivo, que considera “espantoso e extraordinário”. Se anteriormente dependia de outros guitarristas para acompanhá-la, hoje não. “Hoje canto e toco a minha guitarra sozinha, para me descobrir”.

Para Cláudia, a música não tem fronteiras, é capaz de milagres como curar a alma das pessoas, independentemente dos géneros que se queira seguir. “Temos que permitir e deixarmo-nos levar pela música, independentemente de ser morna, jazz ou blues, coladera, funaná, batuque ou colá-sanjon”, realça a jovem cantora, que é também instrumentista e compositora.

Claúdia Sofia diz estar na música desde os cinco anos e diz que desde os dois anos já tinha ouvidos para a música, conforme lhe conta a mãe. Isto é, mesmo não sabendo falar, já pronunciava palavras de algumas músicas que a família escutava em casa. Disse ter, também, como referência, o Bau na guitarra, apesar de ter passado por mãos como o falecido Luís Ramos e o Djamilo Gomes, que a ajudaram bastante.

“Quem também contribuiu para o meu desenvolvimento vocal foi a minha professora de piano, Nana Tabagari, que, aos cinco anos, me ensinava todas as técnicas de voz, controlo de voz e da respiração”.

Lamenta, entretanto, o facto de se ter fechado a escola de música na Praça Nova, onde aprendeu com a referida professora, sem deixar de lastimar o facto de também a Academia de Música Jotamont, no Monte Sossego, ter sido igualmente encerrada. “É pena”, diz, esperando que a situação venha a ser ultrapassada, tendo em conta a importância que a formação musical pode ter na vida das pessoas.

A favor da castração química

Cláudia Sofia frequentou o curso de direito que não concluiu, mas que espera um dia retomar, assumindo-se como “acérrima defensora” dos direitos das mulheres, bem como das crianças violadas por adultos. E, mesmo sabendo que poderá chocar, não esconde o que pensa do assunto: “Sou a favor da prisão perpétua para os homens que praticam a VBG indo ao ponto de matar as companheiras e ex-companheiras. E sou a favor também da castração química para aqueles que violem crianças, pois, entendo ser uma injustiça grande, por parte dos homens que as praticam contra as meninas”.

Cláudia Sofia confessa que, apesar de ter optado por seguir uma carreira musical em Cabo Verde, diz que, além das dificuldades inerentes ao meio, para uma jovem artista singrar no sector precisa passar e enfrentar por diversas situações de assédio por parte de certos “bosses”. “O assédio em relação à mulher não acontece somente na música, mas também, em vários outros sectores”, conclui.

João A. do Rosário

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 866, de 04 de Abril de 2024

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