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O terrível jogo das meias-finais, frente ao Gana, na CAN 2013

Por: Santa Clara*

Há três nomes de quem os cabo-verdianos, particularmente os amantes da selecção nacional, nunca mais se irão esquecer, sempre que pensarem no terrível jogo inaugural das meias-finais da CAN-2013: Tubarões Azuis de Cabo Verde frente aos Black Stars do Gana, no Nelson Mandela Bay Stadium, em Port Elizabeth, na África do Sul. Foi a 2 de Fevereiro de 2013.

O primeiro é Rajindraparsad Seechurn, o árbitro maurício que apitou essa partida; o segundo, é Asamoah Gyan, o avançado do Al Ain Football Club, dos Emirados Árabes Unidos, que engenhosamente se terá aproveitado de um contacto físico subtil com o defesa cabo-verdiano Carlitos para, segundo a imprensa, “ludibriar” o primeiro e fazer dele cúmplice de um falso penalti contra Cabo Verde; o terceiro, é o irrepreensível Mubarak Wakaso, o médio do Rubin Kazan, da Rússia, o tal que já se tinha habituado a marcar a Cabo Verde e que converteu em golo esse alegado castigo máximo (1-0), vindo depois a marcar o segundo tento, resultado com que terminou o jogo que pôs fim ao sonho insular na CAN-2013 (2-0). Nessa partida, Wakaso acabara de entrar, em substituição de Adomah (aos 47’). Para quem não se lembra, foi ele próprio que, no dia 14 de Novembro de 2012, num dos jogos de preparação para essa CAN-2013, em Portugal, havia facturado o golo da vitória do Gana sobre Cabo Verde, no Algarve (1-0, aos 64’).

Tubarões Azuis nas bocas do mundo

Cabo Verde estava em alta em 2013-14, na corrida à dupla competição: CAN-2013, na África do Sul, e Mundial-2014, no Brasil. Para a primeira prova, tinha eliminado, dois meses antes (14.10.12), os poderosos Leões Indomáveis. Os Camarões tinham no perigoso Samuel Eto’o a estrela maior, então avançado do Chelsea da Inglaterra, depois de ter passado pelo Real Madrid e pelo Barcelona (Espanha). 

Este feito projectara a selecção comandada por Lúcio Antunes (LA) para níveis de excelência junto aos seus pares africanos. Se entre as 15 selecções apuradas para a CAN-2013 ostentava agora uma patente de luxo – 6º no ranking da FIFA –, a imprensa internacional via nela a nova coqueluche do continente. Em Portugal, por exemplo, o Record lembrava a “inédita qualificação”, o A Bola falava em “ponto alto da história de Cabo Verde” e o MaisFutebol escrevia: “a selecção de Cabo Verde fez história”; em Espanha, o Mundo Deportivo citava uma selecção que não dava o “braço a torcer”; em França, a edição online do jornal francês L‘Equipe via nos insulares uma “valorosa equipa que defendeu com unhas e dentes a vantagem… e isso é lindo”, enquanto o France Football destacava a “actuação heroica de Cabo Verde”; em Itália, o Gazzetta dello Sport lembrava o confronto com os camaroneses: “de nada valeu o regresso do filho pródigo (Samuel Eto’o) à casa para levar de vencida uma formação de 500 mil habitantes à CAN pela primeira vez”. Sem dúvida, uma selecção respeitada à escala mundial. 

Mas vamos ao fatídico jogo.  

Não era uma sexta-feira, 13 de Agosto, mas dir-se-á que era um sábado, 2 de Fevereiro de 2013 para esquecer. E por isso mesmo, “mister” LA, muito confiante, encarregou-se de exorcizar os fantasmas e profetizou que, não só o iria vencer os Black Stars do Gana como sagrar-se campeão da CAN-2013. Sem desrespeitar o adversário que, conforme disse, “é uma selecção muito forte, organizada e muito bem orientada por Kwesi Appiah”, LA lembrava que Cabo Verde estava a caminho da final, pelo que iria sagrar-se campeão da operação África do Sul: “vamos vencer este torneio, estamos mais confiantes do que antes”. Mas os deuses do futebol não escutaram as suas preces. 

Ele lançou em campo Vozinha (GR), Nivaldo, Nando, Fernando Varela, Carlitos, Tony Varela (Djaniny), Babanco, Marco Soares, Heldon, Ryan Mendes (Platini) e Júlio Tavares (Rambé), deixando de reserva Fock, Sténio, Guy Ramos, Josimar, Gêgê, Rilly, Roni, Pécks e David Silva.

Depois de uma primeira parte em branco (0-0), a história marcante do jogo começa aos 52’. Foi nessa altura que o árbitro Rajindraparsad Seechurn validou a tal grande penalidade, na sequência de um contacto entre Gyan e Carlitos, com o primeiro a ir ao tapete verde. Sem hesitar e sem consultar os auxiliares, o juiz da partida apontou para o castigo máximo. Chamado a converter, Mubarak Wakaso, o carrasco de Cabo Verde, não perdoou e marcou a contar (1-0).

A partir daí, Cabo Verde, ferido no seu orgulho, partiu corajosamente, em muitas ocasiões, atrás do prejuízo, na lógica desesperante “perdido por um, perdido por mil”. Conseguiu recuperar o domínio do jogo e, depois de fazer entrar Platini (Ryan Mendes, aos 51’) e Djaniny (Tony Varela), reforçou ainda mais o ataque (20 remates contra 4). Mas nada! E nem com a entrada de Rambé para o lugar de Júlio Tavares (80’) chegava o golo do empate, mau grado as várias tentativas, todas frustradas. 

E, já com todas as “carnes no assador” e o tempo regulamentar expirado, Cabo Verde cai em cima dos Black Stars, tentando aproveitar os últimos segundos dos cinco minutos de compensação dados por Rajindraparsad Seechurn. E é aqui que surge o derradeiro pontapé de canto em favor dos Tubarões Azuis. Emoção extrema no Nelson Mandela Bay Stadium. Vozinha (GR) acredita, abandona a baliza, atravessa a linha divisória do meio-campo adversário e faz-se à área à guarda de Fatawu Dauda, em busca de um cabeceamento milagreiro, que acaba por não acontecer. A bola não só não foi para o seu lado, como se assistiu Heldon a falhar o esférico, que acabou por cair aos pés do adversário: justamente aos pés do irrepreensível Mubarak Wakaso que tinha entrado na segunda parte (47’) e que já fizera um golo (GP). O médio do Rubin Kazan rechaça a bola e, vendo a baliza dos Tubarões Azuis desguarnecida, pois, Vozinha ainda estava perdido pelo caminho, faz um sprint, galga velozmente o terreno e dispara certeiro para o segundo golo, aos 95’ (2-0). 

Desvanecia aqui o sonho insular. O objectivo seguinte era agora o Mundial-2014, no Brasil, uma corrida que a selecção nacional também acabaria por falhar.

Na próxima edição, recordo a maldição dos empates e a crise de golos, na finalíssima da CAN 2015, a começar na “banheira” de Ebebiyin, na Guiné Equatorial. Escreva-me para santaclaraj2m@gmail.com

  *Pseudónimo de José Mário Correia

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