A ativista social do género, Vicenta Fernandes, criticou a falta de representação feminina como cabeças de lista para as eleições autárquicas de novembro por parte do Movimento para a Democracia (MPD), apontando para desafios mais amplos enfrentados pelas mulheres na política cabo-verdiana.
“Ser mulher na política em Cabo Verde ainda custa. Não é uma questão do partido A ou B, mas sim de ser mulher,” afirmou Fernandes em declarações ao A Nação online, destacando que a jornada política é marcada por aprendizagens constantes, mas as mulheres enfrentam cobranças desproporcionais.
Fernandes lamentou a não candidatura de Jassira, citando-a como um exemplo de como as mulheres são preteridas, independentemente do seu desempenho.
Machismo e retrocesso
“Nos anos 80/90, antes mesmo das eleições autárquicas, tivemos mulheres à frente dos municípios, como Arlete Freitas e Paula Fortes. Com a introdução da democracia e a lei de paridade, esperava-se um aumento na participação feminina; no entanto, observa-se um retrocesso a cada eleição,” criticou a ativista.
A situação atual revela, segundo Vicenta Fernandes, uma conivência e um “machismo” institucionalizados nos partidos políticos, incluindo entre as próprias mulheres em posições de liderança.
Papel da sociedade
Vicenta Fernandes questiona ainda o papel da sociedade civil e das feministas na promoção da igualdade e paridade de gênero, chamando atenção para a necessidade de mais empatia e solidariedade entre as mulheres cabo-verdianas.
“A não indicação de Jassira e de outras mulheres para posições de liderança reflete não apenas o machismo institucional, mas também uma falta de compromisso real com a igualdade de género e a paridade política,” concluiu Fernandes.
Jassira vai ter “outras funções” – disse Ulisses
A presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina de Santiago, Jassira Monteiro, a única mulher a liderar uma câmara no país, não volta a integrar a lista do MpD.
Ulisses Correia e Silva, líder do partido e primeiro-ministro, refere que conta com a actual autarca para outras funções.
O PAICV e a UCID, partidos na oposição, ainda não anunciaram as listas de candidatos, todavia espera-se que estas forças políticas apresentem mulheres a encabeçar as candidaturas às câmaras municipais.
Cabo Verde realiza eleições autárquicas no segundo semestre deste ano, sendo que no último escrutínio o MpD venceu em 14 dos 22 municípios.
Geremias S. Furtado