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Sociedade

Autoridades atentas a possível chegada da “droga zumbi” em Cabo Verde

O recente caso de intoxicação de doze jovens da Calabaceira, bairro da cidade da Praia, por uso de droga adulterada, levou as autoridades a trabalharem com a possibilidade de estar a circular entre nós o fentanil, conhecido por “droga zumbi” e que por dia mata cerca de 300 pessoas no mundo. A Comissão de Coordenação do Álcool e outras Drogas (CCAD) desconhece.

“Há rumores e as autoridades estão a trabalhar com esta possibilidade”, da chegada do fentanil, disse uma fonte policial ao A NAÇÃO, explicando que há já algum tempo se está a temer a chegada da “droga zumbi” ao país.

O episódio com os jovens da Calabaceira surgiu numa altura em que Portugal já se registam casos de dependência do fentanil. “Todos sabem da ligação próxima entre Portugal e Cabo Verde. Por isso, todas as possibilidades estão sobre a mesa”, afirmou a nossa fonte.

Outra fonte policial diz acreditar que há traficantes a fazerem chegar o produto no país através dos bidões dos Estados Unidos da América (EUA) e até mesmo por via área de outros países da América do Sul e não só. “É bem provável que o caso da Calabaceira esteja relacionado à estas misturas que se tem feito para potenciar as drogas”, completou.

O caso

Doze jovens com intoxicação por estupefacientes deram na semana passada entrada no Hospital Universitário Agostinho Neto. Como informa o Balai CV, os jovens são moradores da Calabaceira e relataram o uso de opióides (cocaína). De acordo com uma fonte hospitalar, a maioria dos pacientes entrou em coma e outros apresentaram um estado neurológico grave, incluindo depressão, perda de consciência e falta de ar.

Os doze jovens já tiveram alta hospitalar, mas as autoridades de saúde alertaram que o uso de substâncias, principalmente drogas adulteradas, pode causar situações graves de saúde e levar à morte. “Para já não há óbitos, mas se a situação continuar assim, mais cedo ou mais tarde, haverá”, disse a mesma fonte, completando que o caso já é do conhecimento da Polícia Judiciária e da Delegacia de Saúde.

Droga zumbi

O fentanil, analgésico opioide altamente viciante que está a causar uma “epidemia” de mortes por overdose nos EUA, já levou pelo menos 12 pessoas a pedir ajuda em Portugal, conforme noticiou recentemente o semanário Expresso, referindo que oito pessoas usavam a substância com outras drogas e as restantes estavam viciadas apenas no fentanil.

Entre 50 e 100 vezes mais potente que a morfina, a cocaína é misturada com outras drogas para potenciar o seu efeito, é responsável por uma enorme crise de saúde pública nos EUA, e há registos ainda em países como a China e o México, mas também Índia, Paquistão, Brasil, numa autêntica praga à escala global.

Alguns usuários relatam ter tonturas, dificuldade para respirar, dores no peito, palpitações cardíacas e convulsões. Também há relatos de usuários que ficaram temporariamente paralisados. Em alguns casos, a droga leva à paranoia, pensamentos suicidas, psicose – esses sintomas deram à substância o nome de “droga zumbi”, dada o estado de torpor, de alienação absoluta, como os seus usuários parecem viver.

CCAD desconhece circulação da “droga zumbi”

A secretária executiva da Comissão de Coordenação do Álcool e outras Drogas, Raquel Lopes, disse ao A NAÇÃO que não tem conhecimento sobre a circulação do fentanil em Cabo Verde, mas que, caso isso venha a acontecer, irá usar a mesma estratégia que tem usado na prevenção e tratamento das outras drogas.

“Além disso, vai dar uma atenção especial ao assunto tendo em conta que se trata de uma droga altamente perigosa e com efeitos colaterais graves, sobre a saúde das pessoas”, afirmou, completando que a CCAD está consciente que vão surgindo novas drogas, da mesma forma que outras caem no desuso e que, por isso, está sempre atenta para agir.

Entretanto Raquel Lopes vai alertando que se trata de uma droga altamente perigosa e que apresenta vários riscos para a saúde física e mental, sendo que os mais comuns associados ao seu consumo são “efeito zumbi”, isto é, a perda de controle de movimentos e da fala, coma, convulsões, insuficiência renal, lesões cerebrais, psicose permanente, transtornos mentais permanentes e até a morte.

“Esta droga causa muitos malefícios para o corpo humano e em pouco tempo é arrasadora e perigosa. Os jovens, sobretudo crianças e adolescentes, são os principais afectados por estes tipos de substâncias, por isso, os pais e encarregados de educação devem estar cientes para os sinais, uma vez que essa droga é vendida de diversas formas tais como: cigarro, spray, comprimidos, sachês e por-pourri de ervas, sais de banho, goma de mascar, essência de cigarro eletrônico entre outros”, avança Raquel Lopes.

Esta fonte do CCAD alerta ainda os pais principalmente para, caso notarem sintomas em seus filhos ou parentes, devem imediatamente levá-los para as estruturas de saúde. “Entretanto, a sociedade em geral deve estar alerta para identificar casos de consumo desta droga e procurar apoio imediatamente”, conclui Raquel Lopes.

Geremias S.Furtado

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 859, de 15 de Fevereiro de 2024

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