A temporada futebolística 2023-24 arranca, este fim de semana, “sem condições” das infraestruturas em vários pontos do arquipélago. Santo Antão, São Nicolau e Santiago são os casos mais gritantes, frutos de anos sem investimento na manutenção ou até renovação dos estádios existentes.
Relvados por substituir, balneários a cair aos pedaços, bancadas sem segurança e infraestruturas em colapso, colocando em risco a integridade física de jogadores e adeptos. É esta, no geral, a realidade de vários estádios de futebol pelo país que arrancaram, ou vão arrancar, no próximo fim-de-semana, com a época futebolística.
Os jogadores e adeptos estão insatisfeitos com a falta de condições nas infraestruturas de futebol, o que tem causado um descontentamento generalizado. Além da segurança dos atletas, é a própria qualidade do desporto praticado fica em causa.
Estádio da Várzea em ruínas
O caso mais recente foi na capital do país. A infraestrutura desportiva mais antiga da ilha de Santiago, o Estádio da Várzea, na região Sul, corre risco de colapso, como já atestou o Laboratório de Engenharia Civil (LEC). Com bancadas em ruínas, o relvado em péssimas condições, paredes com rachaduras e balneários por consertar, o Campeonato Regional chegou a ser suspenso.
O presidente da Associação Regional de Futebol de Santiago Sul (ARFSS), Mário Avelino, justificou a suspensão por entender que a segurança das pessoas “está em primeiro lugar”, em uma situação que “não é de hoje e nem de ontem”.
Segundo Avelino, a ARFSS tem realizado, nos últimos dois anos, o campeonato mesmo sabendo dos relatórios do LEC e da câmara municipal a apontar para as carências da infraestrutura.
Entretanto, a Câmara Municipal da Praia procedeu à instalação de bancadas amovíveis no Estádio da Várzea para garantir “alguma segurança” aos adeptos, fazendo com que a Associação retomasse a competição, mesmo em condições adversas.
Estádio “Di Deus” sem condições
Em São Nicolau, o Estádio “Di Deus”, na Ribeira Brava, é outra infraestrutura desportiva a clamar por uma intervenção de fundo, nomeadamente no seu relvado. A insatisfação é tanta que, em Outubro passado, o relvado foi alvo de uma tentativa de incêndio, para ver se o problema se resolve, de uma vez por todas.
O autarca da Ribeira Brava, José Martins, reconhece que as condições deste estádio não são as melhores e diz estar em negociações com o governo para conseguir financiamento suficiente para intervenção na infraestrutura.
Santo Antão, estádios sem condições
Na ilha de Santo Antão, nas duas regiões desportivas, o quadro repete-se: relvados, balneários, bancadas, entre outros, tudo a precisarem de obras urgentes.
Na região Norte, foi cogitado a suspensão da época, por falta de condições do estádio João Serra, na Ponta do Sol, que “coloca em risco a integridade física dos jogadores”. Entretanto, desde o fim-de-semana passado os jogos decorrem neste estádio com o Torneio de Abertura.
No Porto Novo, região Sul, a época só arranca no sábado, 18, com a disputa da Supertaça entre a Académica do Porto Novo e o Sanjoanenses. O arranque da época acontece com o estádio, com cerca de 15 anos, sem condições favoráveis. Do relvado, já só se vê a borracha.
A Associação Regional de Futebol de Santo Antão Sul já avisou. Se a relva não for substituída e intervenções não forem feitas no Estádio Municipal do Porto Novo, não haverá época desportiva em 2024-25.
Os dirigentes de futebol têm estado a pressionar a Câmara Municipal do Porto Novo para dotar o Estádio Municipal de um novo relvado tendo em conta que o actual não oferece as mínimas condições para a prática do futebol. O executivo de Aníbal Fonseca informou que precisa de 25 mil contos para substituir o relvado e reabilitar os balneários do Estádio Municipal do Porto Novo.
Nova temporada
Apesar da falta de condições, no geral, as equipas optaram por arrancar com a época futebolística pelo país, contando que intervenções venham a ser feitas, sem esquecer que Santo Antão, São Nicolau e Santiago são apenas o iceberg do problema que se repete em vários outros pontos do arquipélago.
Cabo Verde conta com 312 placas desportivas, 182 polivalentes, 107 campos de terra batida (pelado), 68 ginásios, 45 campos de futebol de 11, 44 streetbasket, 25 campos de futebol de sete, 24 campos de ténis, 17 estádios de futebol, 12 pavilhões e seis pistas de skates, segundo o censo do desporto de 2022.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 846, de 16 de Novembro de 2023