Cabo Verde apresenta uma das taxas mais altas de hipertensão arterial em África. Cerca de 300 cabo-verdianos morrem por ano em decorrência de Acidentes Vasculares Cerebrais, além de deixar várias pessoas incapacitadas. Em uma década já são 3.500 mortes por AVC.
A taxa de hipertensão arterial entre os cabo-verdianos é preocupante e se nada for feito o quadro poderá agravar-se, ainda mais. A doença pode ser silenciosa, por vezes invisível, mas os seus impactos são desastrosos para a saúde. O uso excessivo do sal, álcool, ao que se acresce o sedentarismo, são apontados como algumas das suas causas da doença neste arquipélago.
De acordo com os dados oficiais, a hipertensão arterial (HTA) é uma das doenças crónicas não transmissíveis com maior prevalência em Cabo Verde e a que mais mata no país. Cerca de 30% da população vive com hipertensão, segundo dados do II inquérito sobre as doenças não transmissíveis (DNT), de 2020.
Em África, este arquipélago regista uma das percentagens mais elevadas, depois de notar 33.7% de prevalência em 2015, logo a seguir à Mauritânia (34.6%) e Somália (34.6%), de acordo com o relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde).
A prevalência da HTA em Cabo Verde, juntamente com as diabetes (3,7%), hipercolesterolemia (18,8%), sobrepeso (44,2%) e obesidade (14,3%) preocupam as autoridades de saúde que relatam uma média de 300 mortes por ano em decorrências do AVC, a principal causa de mortes no país.
“As doenças crónicas não transmissíveis são, há mais de 20 anos, a causa líder de mortalidade no nosso país, acompanhado de elevadas taxas de prevalência, elevado número de mortes prematuras, perda de qualidade de vida com alto grau de limitação nas atividades de trabalho e de lazer, além de impactos económicos para as famílias, comunidades e a sociedade em geral”, aponta João Semedo, da Direção Nacional da Saúde.
Problema de saúde pública
João Semedo, que é também director da Região Sanitária de Santiago Norte, diz que o Ministério da Saúde tem apostado em uma estratégia de comunicação e educação para a saúde reforçando a sensibilização das pessoas sobre as doenças e os seus fatores de riscos, educando a população sobre as melhores vias de prevenção, através das estruturas de saúde e de ações nas comunidades.
Aquele responsável cita, por exemplo, programas de saúde pública como o Programa de Doenças não Transmissíveis, Programa de Luta contra o Cancro, Programa de Nutrição e promoção de atividade que tem como propósito prevenir, diagnosticar e tratar doenças não transmissíveis na população.
“É preciso fazer mais”
No que diz respeito ao tratamento, João Semedo garante que o Gabinete de Assuntos Farmacêuticos tem garantido o fornecimento de medicamentos essenciais para as doenças crónicas não transmissíveis “a todas as farmácias públicas do país”, descartando a existência de rupturas.
Falta de medicamentos
A NAÇÃO sabe que, pelo menos, a medicação para a hipertensão arterial tem, constantemente, sofrido ruptura, com os doentes a recorrem as farmácias particulares, em muitos casos.
João Semedo acredita, contudo, que as estratégias adoptadas pelo ministério para controlar e reduzir a taxa de doenças crónicas não transmissíveis tem surtido efeito na medida em que elenca que há mais pessoas conscientes da necessidade de se auto cuidarem, sociedade com literacia em saúde e a praticar atividade física, mas reconhece que é preciso fazer mais.
“Ainda é preciso fazer muito mais, sendo que ainda não conseguimos que todos, ou a maioria, coloquem em prática todas as informações e conhecimento que já́ disponibilizam e cada vez mais as DNT tem aumentado no país, inclusive na camada jovem e com mortes prematuras”, reconhece.
Alimentação saudável e actividade física
Uma alimentação saudável desde bebé, através do aleitamento materno, até a fase adulta com alimentos saudáveis, é essencial para prevenir as doenças crónicas não transmissíveis, lembra a Coordenadora do Programa Nacional de Nutrição, Irina Spencer.
Segundo essa profissional, a política de alimentação saudável tem sido implementada através de diferentes estratégias. Estas passam por uma educação nutricional e individual e em grupo, promoção de alimentos saudáveis junto de crianças e adolescentes, promoção da nutrição nos estabelecimentos de ensino, além de difusão de spots na televisão e rádio para a mudança de comportamentos, nomeadamente na redução do consumo do sal, do açúcar e gorduras, promoção de atividade física e combate ao uso do álcool.
Contudo, em jeito mais “radical” de promover uma alimentação saudável, o Ministério da Saúde tem em curso uma proposta legislativa para regular a importação, comercialização, publicidade do uso e do consumo do sal, açúcar e gordura em alimentos processados.
Procura-se com isso, fixar o teor energético e gorduras trans nos alimentos, substituição da disponibilização de sal nas mesas dos estabelecimentos de restauração colectiva por ervas aromáticas frescas e/ou secas/desidratadas, fixação da quantidade máxima nos pacotes individuais de sal açúcar e nos estabelecimentos de restauração colectiva…
Mas também a limitação de oferta de alguns produtos menos saudáveis nos espaços destinados à exploração de cantinas, cafetarias, bufetes e máquinas de venda automática nas instituições da Administração Pública, entre outras acções.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 845, de 09 de Novembro de 2023