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Cultura

Tareza Fernandes revela por que saiu do Tradison di Terra

Tareza Fernandes, destacada figura do batuku, abriu o coração sobre a sua carreira e afastamento do grupo que a fez atingir o sucesso internacional. Desentendimentos no Tradison di Terra levaram-na a abraçar uma carreira a solo, decisão que lamenta mas não se arrepende. 

Desde a infância de Tareza Fernandes que o batuku era mais do que uma prática diária na vida desta cabo-verdiana, nascida em São Miguel. O batuku era uma paixão que desembocou anos mais tarde, em 2013, na criação do grupo Tradison di Terra. Inicialmente por diversão de um grupo de amigas, na sua zona de residência (Achada de Santo António), o grupo conquistou o público, apresentando-se em locais prestigiados como a Assembleia Nacional. 

Por estar sempre envolvida em várias actividades culturais em diversos bairros da capital, foi através de uma parceria com músicos como Eduíno do Grupo Ferro Gaita e o produtor Gugas Veiga que resultou no primeiro CD do Tradison di Terra, ‘Nos Bandera’. 

“Começamos a expandir para outros lugares, o Eduíno e o Gugas Veiga fizeram o nosso primeiro CD do Tradison di Terra, ‘Nos Bandera’ pelo qual tenho muito a agradecer por todo o esforço que fizeram para a sua realização, porque foi através disto que ficamos conhecidas e é algo que sempre agradeço”, afirma a nossa entrevistada.

A transição do batuku como uma brincadeira local para uma carreira internacional não foi isenta de desafios. Tareza destaca o esforço colectivo na realização do segundo CD, “Nhor Des Criador”, marcando sua evolução musical.

 “Foi muita luta porque o meu segundo CD fui eu e os meus rapazes que apostamos nele, o Zito, o Batista, a Sónia e também o Eliseu e juntos pudemos fazê-lo concretizar-se até sair o ‘Nhor Des Criador’. Também no primeiro CD vencemos na categoria música tradicional como melhor batuku/kola San Jon com o tema ‘Mora na Fora’, e neste segundo vencemos como melhor música tradicional do ano com o tema ‘Nhor Des Criador’ na gala Cabo Verde Music Awards”, confirma demonstrando sua satisfação.

Com isso, diz a nossa entrevistada, “ficou provado que o público realmente gosta do batuku e estamos a apostar sempre e neste momento estamos no estúdio a fazer novos trabalhos, para a semana pretendemos gravar um novo videoclipe e acredito que até o mês de Dezembro deva estar finalizado”. 

Escritas que encantam

As narrativas de Tareza são verdadeiras criações, reflectindo não apenas suas experiências pessoais, mas também colectivas. Desde a vida no interior de Santiago até temas como migração e dificuldades diárias, músicas, enfim, que captam a essência da cultura cabo-verdiana.

“A música ‘Nha Burro Manso’, que foi das primeiras que fiz, relata a história de antigamente que não existia automóveis em Cabo Verde, aonde vivia porque nasci em Flamengos e cresci em São Lourenço dos Órgãos e o caminho de Órgãos para Praia era um dia inteiro de percurso e íamos em cima do burro. Outros temas como Mora na Fora e Xinta Contau retrata as vivências antigas e as dificuldades que tínhamos na altura”, confirma Tareza Fernandes.

Reconhecimento global e sonhos futuros

Tareza Fernandes explana sua gratidão por levar a cultura cabo-verdiana a nove países e revela o desejo de se apresentar na Inglaterra e Alemanha. “Tenho vontade de chegar a Inglaterra, Alemanha, apesar de receber alguns convites ainda não consegui ir, mas acredito que um dia poderei chegar a estes lugares para elevar o batuku”, confessa.

Desafios internos e novos horizontes

O afastamento, entretanto, do Tradison di Terra é algo que nitidamente amargura Tareza Fernandes e nos revela que isso surgiu de desentendimentos após uma ausência em um evento na Holanda. Após tentar, sem sucesso, uma forma de esclarecer os membros sobre o ocorrido, foi encorajada a seguir em frente com sua carreira solo, coisa que acabou por fazer. “Foi pena, mas não me arrependo”, diz. 

Hoje, com uma trajectória marcada pela paixão, desafios superados e, actualmente com olhos postos no futuro, pretende continuar o bom nome da cultura de Cabo Verde a outros patamares. Como diz, “o batuku é um laço de amizade” e todos devem poder ter a capacidade de elevar o amor e a alegria através da música e outras formas de expressão cultural. 

 

Sara Andrade 

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 845, de 09 de Novembro de 2023

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