A sede da MORABI em Terra Branca, cidade da Praia, está a registar desde ontem, 2 de Novembro, uma grande afluência de pessoas que souberam da distribuição gratuita de parte das 1.042 toneladas de arroz que a China doou para Cabo Verde. Uns mais bem informados, e outros nem por isso, pessoas que declaram-se carenciadas lamentam “muitas injúrias, por uns quilos de arroz”. MORABI esclarece, por sua vez, que a distribuição está sendo feita através das associações com as quais trabalha.
Mais de três dezenas de pessoas, de toda a cidade da Praia estavam concentradas esta manhã em frente à sede da Associação de Apoio à Auto-promoção da Mulher no Desenvolvimento – MORABI, em Terra Branca, Praia, onde está a ser distribuído desde ontem, 2 de Novembro, parte das 1.042 toneladas de arroz que a China doou para Cabo Verde.
Hoje, no terreno, o A NAÇÃO online constatou que o grupo só aumenta, com um certo descontentamento. A reclamação surge à volta da forma como está sendo distribuído esse alimento.
Mediante cadastro e doado através das associações
Alice Vaz, de Bela Vista, entre os presentes, conta que soube da distribuição gratuita do arroz através de uma vizinha que recebeu ontem a sua parte, no mesmo lugar onde ela se encontra hoje para receber também a sua: na sede da MORABI, em Terra Branca, Praia.
“Assim que soube, vim três vezes ontem sem conseguir nada. Hoje, acordei bem cedo, fui ao Parque 5 de Julho (a pé), para fazer o cadastro e estou cá desde as 9h30″, relata a idosa de 60 anos que se declara como “doente”.
“Tenho muitos problemas de saúde que são crônicos, não posso estar debaixo deste sol quente. Mas este é um sacrifício para conseguir quilos de arroz, pois é uma grande ajuda na minha casa, onde somos 4 e a única pessoa que trabalha é o meu marido, isto é, biscates de vez em quanto”, justifica.
Alice diz que não conseguiu ainda falar com nenhum responsável da MORABI mas que desde que chegou, ouviu dizer que ninguém ainda recebeu. Ou seja, “distribuição só através das associações”.
“Foi doado para pessoas carenciadas, como eu”
“A associação da minha zona não está aqui, está praticamente desestruturada. Mesmo que os responsáveis recebam, não vão distribuir para as pessoas que realmente precisam e nem vão dar a quantidade certa”, afirma.
Sendo assim, Alice diz que vai continuar ali, em frente da associação até conseguir a sua quantia de arroz, uma vez que “foi doado para pessoas carenciadas”, como ela.
Por sua vez, Zuleica, de 30 anos, da zona de Santaninha, conta que estava a passar por aquela zona quando soube da distribuição.
” Por ser uma mãe e chefe de família, com três filhos menores, achei que poderia também receber. Apresentei o cadastro como estava sendo solicitado, mas até agora, nada. É muita injúria para uns quilos de arroz”, lamenta a jovem, funcionária num dos jardins infantis da Praia.
Assim como Alice, Zuleica diz que não faz parte de nenhuma associação da sua comunidade, e que pretende aguardar a sua quantia de arroz, considerando ser o público-alvo das toneladas de arroz que Cabo Verde recebeu da China em meados de Maio deste ano.
“Estamos aqui porque temos necessidades e porque não confiamos nas associações das nossas zonas. Eu não faço parte de nenhuma associação porque como se sabe, funcionam à base dos seus próprios interesses”, protesta.
Conforme explicou, “em casos como este, mesmo que recebessem sacos de arroz para distribuir na zona, não o fazem como deveria ser”.
“Vão entregar nos seus familiares e amigos e deixam quem realmente precisa de mãos vazias”, justifica.
Presidente da Morabi esclarece: “Distribuição só através das associações com quem trabalhamos”
Contactada pelo A NAÇÃO online, a presidente da MORABI, Maria Aleluia, esclareceu que receberam uma quantia de arroz do Governo para distribuir para os seus beneficiários.
“Os nossos beneficiários são associações com quem trabalhamos, envolvendo pessoas vítimas de VBG, seropositivos, idosos, usuários de drogas, entre outros, que não costumamos identificar por serem de grupos vulneráveis”, explica.
Meio saco de arroz para cada família
Segundo a mesma, foram avisadas as associações para comparecerem na sede da MORABI e as pessoas souberam e foram junto causando dificuldades no momento de distribuição.
“Nós entregamos o arroz aos órgãos da associação e eles é que vão fazer a distribuição, conforme os mais necessitados nas suas comunidades”, esclarece, referindo que cada associação vai receber uma quantidade de acordo com os seus integrantes, sendo que, para cada família, vai ser atribuído meio saco de arroz.
“Não é possível fazer distribuição de forma individual”
Maria Aleluia explica que não é possível fazer distribuição de forma individual, dando exemplo de famílias da mesma casa que vão de forma separada para receber duas vezes.
Hoje, segundo avançou, até por volta do meio-dia, tinham comparecido três associações sendo que uma delas recebeu 15 sacos para a sua comunidade, Alto da Glória.
“Algumas instituições têm informado, de forma errada, as pessoas, dizendo que MORABI está a distribuir arroz. Nós, assim como outras associações, só estamos a ajudar o Governo na distribuição. Cada família vulnerável, deve informar na sua comunidade, através de que associação vai beneficiar”, reforça.
A presidente da MORABI considera que as dificuldades não estão na forma como o produto está a ser distribuído mas sim na desinformação das pessoas, os beneficiários.
Segunda fase de distribuição
Segundo avançou, esta é a segunda fase de distribuição gratuita de parte das 1.042 toneladas de arroz que a China doou para Cabo Verde. Na primeira fase a MORABI recebeu 500 sacos de arroz e, nesta segunda, 300 sacos.
Recorde-se que no passado mês de Maio, uma resolução aprovada em Conselho de Ministros informou que Cabo Verde vai distribuir gratuitamente por instituições sociais e de saúde 1.042 toneladas de arroz doadas pela China, através de organizações públicas e da sociedade civil de cariz social, lares de idosos, hospitais e centros de saúde do país.